São Paulo, quinta-feira, 04 de abril de 2002

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IMIGRAÇÃO ILEGAL

Elson Souza ficará 30 meses preso por promover acesso clandestino de conterrâneos pela fronteira mexicana

EUA condenam quadrilha de brasileiro

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Brasileiros que foram deportados dos EUA e acusaram as autoridades daquele país de maus-tratos, no aeroporto de Guarulhos (SP)


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O brasileiro Elson Souza, 50, foi condenado a 30 meses de prisão por liderar uma quadrilha que facilitava o acesso de imigrantes ilegais, principalmente brasileiros, aos EUA pela fronteira mexicana. A decisão da Justiça americana foi tomada na segunda em McAllen (Estado do Texas, sul dos EUA).
Ele deve cumprir no máximo um ano e meio numa penitenciária da Flórida, onde mora sua família. "A quadrilha foi desbaratada durante a Operação Sombra Negra, comandada pelo Serviço de Imigração", disse à Folha Kesha Handy, do escritório do procurador-geral do Texas. Segundo ela, Souza era o líder do grupo.
A operação teve início depois dos ataques de 11 de setembro, como parte do plano anti-terror, e envolve pelo menos uma dezena de órgãos federais. Na ação em busca de membros da organização terrorista Al-Qaeda tentando entrar no país, os principais prejudicados foram os imigrantes ilegais da fronteira do México.

A defesa
"Isso é uma injustiça, Elson nunca foi líder de nada, só foi condenado porque a imigração não conseguiu pegar o principal envolvido", disse à Folha o advogado Sheldon Weisfeld, que representa o brasileiro. "O procurador quer mostrar serviço porque acabou de assumir o cargo."
De acordo com o procurador Michael T. Shelby, que realmente acaba de ser empossado, a quadrilha era responsável pela entrada no país de cerca de cem imigrantes brasileiros ilegais por semana, que pagavam entre US$ 5.000 e US$ 11 mil cada um pelo serviço, que incluía a passagem aérea do Brasil para o México e emprego garantido nos EUA.
O destino inicial eram as cidades de McAllen, Laredo, Corpus Christi e Houston, no Texas, mas o fim da viagem poderia ser Boston (Massachusetts), e localidades na Califórnia, na Flórida, em Nova Jersey e em Nova York -Estados onde estão as maiores comunidades brasileiras no país.
Além de Souza, nove outras pessoas foram presas, todas mexicanas e que receberam penas menores. Segundo o procurador, são recrutadores, motoristas, donos de pensão e guias. O grupo foi capturado em setembro do ano passado e aguardava o julgamento em McAllen, cidade considerada o "ponto zero" desse esquema de imigração ilegal.
Elson Souza nasceu em Governador Valadares (MG) e foi para os EUA negociar pedras preciosas, mesma profissão que seu pai ainda exerce no Brasil. Casado, tem dois filhos e morava na Flórida. "Ele nunca fez parte de esquema nenhum, muito menos foi líder", disse o advogado.
Segundo ele, Souza teria apenas feito um telefonema da Flórida para o líder do grupo no México, "um guatemalteco ou salvadorenho de nome Carlos", para pedir que ajudasse uns amigos brasileiros a entrar nos EUA. "Seu objetivo era humanitário, não financeiro", afirmou o advogado.
Não é o que pensa o procurador-geral. "Todos os dez se declararam culpados antes de ouvirem a sentença." Os defensores do brasileiro não vão recorrer.



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