São Paulo, quinta-feira, 04 de abril de 2002

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VIOLÊNCIA

Grupo de ex-membros do Exército, denominado Comando Verde, atuaria sob ordens de um dos líderes do tráfico no Rio

PM investiga atuação de "mercenários"

Alexandre Campbell - 1º.abr.2002/Folha Imagem
Corpo de Wellington Pereira, 23, um dos quatro mortos em invasão de traficantes ao morro da Casa Branca, na Tijuca (zona norte do Rio)


MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

O Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar investiga a existência de um "Comando Verde", grupo de ex-integrantes da Brigada Pára-Quedista do Exército que estaria envolvido com criminosos ligados às facções CV (Comando Vermelho) e PCC (Primeiro Comando da Capital).
O comandante do Bope, coronel Venâncio Alves de Moura, disse ontem que recebeu, na segunda-feira, uma denúncia anônima de que pelo menos 32 integrantes do "Comando Verde" teriam participado da invasão ao morro da Casa Branca, na Tijuca (zona norte), na madrugada de domingo. A ação resultou em quatro mortes e quatro feridos.
De acordo com o coronel, o "Comando Verde" estaria sendo coordenado por um sargento do Exército, que receberia ordens diretas do traficante Francisco Paula Testas Monteiro, o Tuchinha da Mangueira, um dos líderes do CV, preso em Bangu 1 (zona oeste).
"Não há nada provado sobre esse Comando Verde, mas não podemos descartar essa possibilidade porque os traficantes estão utilizando granadas e técnicas de guerrilha para invadir favelas rivais", afirmou Moura.
A denúncia recebida pelo Bope reforçou as suspeitas da polícia sobre a união entre o CV e o PCC, que teriam se aliado para conter o avanço do grupo rival Terceiro Comando (TC). De acordo com levantamento da DRE (Delegacia de Repressão aos Entorpecentes), o TC controla os pontos-de-venda de drogas na zona oeste e está se expandindo para a zona norte.
Segundo a polícia, Tuchinha da Mangueira mantém contatos na prisão com César Roriz da Silva, o Cesinha, membro da facção paulista e detido na mesma unidade.
Outro indício da aliança entre os criminosos paulistas e cariocas, segundo a polícia, é o fato de a invasão ao morro da Casa Branca ter sido comandada pelo traficante Ricardo Victor dos Santos, o Cuco, braço direito de Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel. Preso em Bangu 3, Isaías é apontado como um dos principais articuladores da união CV-PCC dentro da cadeia.
O envolvimento de ex-militares com o tráfico vem sendo investigado pela polícia do Rio desde fevereiro. Na ocasião, o chefe da Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, disse que pelo menos 15 antigos integrantes das tropas de elite do Exército estariam treinando traficantes em troca de um salário que poderia chegar a R$ 8.000.
Lins chegou a dizer que pediria ao CML (Comando Militar do Leste) a relação de militares das forças de elite que deixaram o Exército, o que não aconteceu, segundo o próprio CML.
Atualmente preso em Bangu 1, o traficante Marcelo Soares de Medeiros, o Marcelo PQD, que controlava o tráfico no morro do Dendê, na Ilha do Governador (zona norte), foi pára-quedista antes de entrar para o tráfico.
Procurado pela Folha, o CML disse que, até agora, nada ficou provado sobre o envolvimento de ex-militares com traficantes.
Um policial civil ficou ferido na tarde de ontem durante tiroteio com traficantes do morro do Dendê, na Ilha do Governador (zona norte). Os criminosos prepararam uma emboscada para 12 agentes da DRF (Delegacia de Roubos e Furtos) que faziam uma operação para procurar uma oficina de desmonte de carros.



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