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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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AMBIENTE

Polícia Federal cercou a Indústria Cataguazes de Papel, em Minas, de onde produto tóxico vazou e contaminou rios

Justiça decreta prisão de donos de empresa

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CATAGUASES

A Polícia Federal cercou no final da tarde de ontem a Indústria Cataguazes de Papel, em Cataguases (MG), na tentativa de prender os dois sócios da empresa, Félix Luís Santana Arencibia e João Gregório do Bem, acusados de praticar crime contra o ambiente.
A ordem de prisão foi decretada ontem pelo juiz federal Marcelo Luzio, de Campos (RJ), cidade que recebeu por volta das 11h de anteontem a grande mancha tóxica, denominada lignina ou licor preto, contaminando as águas do rio Paraíba do Sul naquela região do Estado fluminense.
Agentes da PF se deslocaram de Campos para efetuar as prisões, que não haviam sido realizadas até a conclusão desta edição. "Os dois são foragidos da Justiça brasileira", disse à Agência Folha o delegado Carlos Pereira, que chefiava os agentes da PF.
Um agente da Polícia Federal com uma metralhadora foi colocado em frente à sede da empresa, enquanto outros procuravam os diretores na indústria.
A casa de Gregório do Bem, segundo o delegado, também está sendo vigiada. O delegado, porém, disse que desde domingo ele não foi mais visto em Cataguases. "Ele está desaparecido."
Agentes da PF também percorreram os hotéis na tentativa de encontrar o outro sócio da Cataguazes Papel, que, segundo Pereira, não tem residência fixa na cidade. Ele seria de Campinas (SP).
Marcelo Lessa Bastos, promotor de Justiça de Campos, que acompanhava os agentes federais, disse que a ordem de prisão para os diretores da indústria foi decretada por "eles [os sócios] terem permitido o despejo de substância tóxica no ambiente".
"Eles mataram o rio Paraíba do Sul e o rio Pomba. É um crime muito grave. Populações de cidades inteiras estão sem água tratada, pecuaristas não têm como dar água para o gado, os agricultores dependem da água do rio para sobreviver. Por isso estamos aqui e vamos procurá-los", disse Bastos.
O acidente ambiental ocorreu no sábado. Um reservatório com milhões de litros de resíduos tóxicos se rompeu e contaminou vários riachos e rios em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. A mistura continha soda cáustica e um composto orgânico, denominado de lignina ou licor preto.
Esse material estava armazenado havia pelo menos 14 anos. Eram resíduos da transformação da madeira em celulose, quando a empresa era de outro grupo econômico. Os atuais donos assumiram esse passivo ambiental e, atualmente, não fabricam mais celulose. Fazem apenas reciclagem de papel para embalagem.

Outro lado
Dois advogados da empresa se apresentaram na sede da indústria e contestaram a ordem de prisão. Antônio Ribeiro Farage disse à Agência Folha que "há um grande equívoco". Ele disse haver um "erro de pessoa", já que a ordem de prisão é para os donos da Cataguazes Papel, sendo que a responsável pelas barragens é a "Cataguazes Florestal".
Questionado se não seriam as mesmas pessoas, já que Arencibia e Gregório do Bem vinham falando do ocorrido, ele negou e afirmou que "são pessoas jurídicas distintas". Ele, porém, não soube dizer quem seriam os sócios.
O advogado também contestou as informações de que as substâncias da mistura são tóxicas. Sobre o paradeiro dos seus clientes, disse não saber onde se encontram.


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