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AMBIENTE
Polícia Federal cercou a Indústria Cataguazes de Papel, em Minas, de onde produto tóxico vazou e contaminou rios
Justiça decreta prisão de donos de empresa
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CATAGUASES
A Polícia Federal cercou no final
da tarde de ontem a Indústria Cataguazes de Papel, em Cataguases
(MG), na tentativa de prender os
dois sócios da empresa, Félix Luís
Santana Arencibia e João Gregório do Bem, acusados de praticar
crime contra o ambiente.
A ordem de prisão foi decretada
ontem pelo juiz federal Marcelo
Luzio, de Campos (RJ), cidade
que recebeu por volta das 11h de
anteontem a grande mancha tóxica, denominada lignina ou licor
preto, contaminando as águas do
rio Paraíba do Sul naquela região
do Estado fluminense.
Agentes da PF se deslocaram de
Campos para efetuar as prisões,
que não haviam sido realizadas
até a conclusão desta edição. "Os
dois são foragidos da Justiça brasileira", disse à Agência Folha o
delegado Carlos Pereira, que chefiava os agentes da PF.
Um agente da Polícia Federal
com uma metralhadora foi colocado em frente à sede da empresa,
enquanto outros procuravam os
diretores na indústria.
A casa de Gregório do Bem, segundo o delegado, também está
sendo vigiada. O delegado, porém, disse que desde domingo ele
não foi mais visto em Cataguases.
"Ele está desaparecido."
Agentes da PF também percorreram os hotéis na tentativa de
encontrar o outro sócio da Cataguazes Papel, que, segundo Pereira, não tem residência fixa na cidade. Ele seria de Campinas (SP).
Marcelo Lessa Bastos, promotor
de Justiça de Campos, que acompanhava os agentes federais, disse
que a ordem de prisão para os diretores da indústria foi decretada
por "eles [os sócios] terem permitido o despejo de substância tóxica no ambiente".
"Eles mataram o rio Paraíba do
Sul e o rio Pomba. É um crime
muito grave. Populações de cidades inteiras estão sem água tratada, pecuaristas não têm como dar
água para o gado, os agricultores
dependem da água do rio para sobreviver. Por isso estamos aqui e
vamos procurá-los", disse Bastos.
O acidente ambiental ocorreu
no sábado. Um reservatório com
milhões de litros de resíduos tóxicos se rompeu e contaminou vários riachos e rios em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. A mistura
continha soda cáustica e um composto orgânico, denominado de
lignina ou licor preto.
Esse material estava armazenado havia pelo menos 14 anos.
Eram resíduos da transformação
da madeira em celulose, quando a
empresa era de outro grupo econômico. Os atuais donos assumiram esse passivo ambiental e,
atualmente, não fabricam mais
celulose. Fazem apenas reciclagem de papel para embalagem.
Outro lado
Dois advogados da empresa se
apresentaram na sede da indústria e contestaram a ordem de prisão. Antônio Ribeiro Farage disse
à Agência Folha que "há um grande equívoco". Ele disse haver um
"erro de pessoa", já que a ordem
de prisão é para os donos da Cataguazes Papel, sendo que a responsável pelas barragens é a "Cataguazes Florestal".
Questionado se não seriam as
mesmas pessoas, já que Arencibia
e Gregório do Bem vinham falando do ocorrido, ele negou e afirmou que "são pessoas jurídicas
distintas". Ele, porém, não soube
dizer quem seriam os sócios.
O advogado também contestou
as informações de que as substâncias da mistura são tóxicas. Sobre
o paradeiro dos seus clientes, disse não saber onde se encontram.
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