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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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COMPORTAMENTO

Famílias de Campinas buscam metais com valor de venda em ferros-velhos; pedreiro diz que consegue R$ 1.200 por mês

Vagão abandonado vira garimpo no interior de SP

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Menino ajuda a desmontar vagão abandonado em pátio da Ferroban em Campinas, no interior de SP


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Aproximadamente 50 famílias de Campinas transformaram 70 vagões de trem abandonados na cidade em uma espécie de Serra Pelada. No lugar do ouro, a busca na garimpagem é por ferro e aço-carbono, produtos vendidos em ferros-velhos.
Os vagões que pertencem à RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) estão abandonados há dois anos em um pátio da Ferroban (Ferroviárias Bandeirantes S.A.), no bairro Vila Boa Vista.
Enquanto Ferroban e RFFSA ainda discutem de quem é a responsabilidade sobre os vagões, as famílias trabalham há cerca de três meses, todos os dias, em esquema de cooperativa. Aos poucos, os vagões, ou o que resta deles, são desmontados.
Altair de Almeida, pedreiro que largou o emprego para trabalhar no "garimpo ferroviário", disse que tira por mês até R$ 1.200 com a venda das peças. Com o dinheiro, sustenta a mulher e três filhos. "Estou trabalhando. Não estamos fazendo nada de ilegal, pois os vagões estão aqui abandonados e não são de mais ninguém."
Além dos sucateiros -como são chamadas os que que retiram as peças-, outros também sobrevivem à custa dos vagões abandonados, como donos de carroças e de casas de fundição. Os depósitos de material para construção vendem até 30 lâminas de serrar por dia, utilizadas pelos sucateiros para cortar o aço, além de marretas, martelos e carriolas. Os donos de carroças puxadas por cavalos cobram até R$ 10 por viagem para levar as peças aos ferros-velhos. O carreto feito por caminhão é mais caro: R$ 30.
A Ferroban informou ontem, por meio de sua assessoria, que está encontrando dificuldades em coibir a ação dos sucateiros.
Segundo a empresa, boletins de ocorrência chegaram a ser registrados na Polícia Civil, mas ninguém foi preso.
Para a Ferroban, o fato de a empresa utilizar o pátio, onde estão os vagões, para passagem de suas composições de carga não a obriga a se responsabilizar pelos vagões. Ainda segundo a Ferroban, ela não é proprietária dos vagões e apenas explora a ferrovia.
A Folha não conseguiu falar com nenhum responsável pela RFFSA ontem.


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