São Paulo, Domingo, 04 de Abril de 1999
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SAÚDE
Vigilância Sanitária cria regras para os alimentos que alegam prevenir doenças e que ganham mercado em todo o mundo
País cria norma para alimentos funcionais

da Reportagem Local

O Ministério da Saúde já tem prontas duas portarias que definem e regulamentam os alimentos funcionais ou nutracêuticos -aqueles capazes de promover saúde e reduzir o risco de doenças. O novo conceito de alimentação está atraindo pesquisadores, agitando o mercado e cativando consumidores no mundo todo.
No cenário que começa a ser construído, a gôndola dos supermercados tende a ser tão importante na saúde das pessoas quanto o balcão das farmácias.
Para evitar que o consumidor não caia no conto das curas milagrosas, o Japão e países da Comunidade Européia já baixaram regras firmes para esse mercado.
A legislação brasileira, que será publicada este mês, proíbe que se anuncie que um alimento cure tal doença (leia texto nesta página).
Na bandeja dos funcionais estariam todos os produtos com "health claims", aqueles que alegam uma determinada função comprovadamente benéfica à saúde. Nos EUA, onde não há legislação rigorosa a respeito, cerca de um terço do mercado de alimentos -estimado em US$ 500 bilhões anuais- já foi abocanhado pelos ditos nutracêuticos. Aí estão desde suplementos, produtos com menos gordura, substitutos do açúcar, lights, diets e até bebidas enriquecidas com vitamina.
"Alimento funcional é apenas aquele com propriedade -ou composto bioativo- capaz de modular alguma função do organismo", define Franco Lajolo, chefe do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da USP e líder do grupo que elaborou as normas sobre esses produtos.
Lajolo cita um exemplo: a França desenvolveu, por engenharia genética, um tomate com maior quantidade de licopeno, substância que protege contra o câncer da próstata. Uma massa concentrada para macarronada com esse tomate poderá ser vendida como alimento funcional.
O mercado brasileiro ainda está despertando para esse segmento, embora aqui a diversidade de solo e alimentos prometa um crescimento rápido. Já existem alguns exemplos. A pesquisadora Jocelem Mastrodi Salgado, titular de nutrição humana da Esalq-USP de Piracicaba, desenvolveu um vinagre de uva com acerola que resulta em 300% mais de vitamina C.
"Trata-se de um tempero funcional", ela afirma. O produto, já batizado de Vinaccerola, será fabricado em pequena escala pela Sanavita Indústria de Alimentos Funcionais, de Piracicaba. O diretor Tiago Lima diz que a empresa é pioneira no Brasil em alimentos funcionais.
"Todos os nossos investimentos e pesquisas estão voltados para produtos que promovam saúde", ele afirma. A empresa já tem no mercado o Sanavita -conhecido como a "verdadeira dieta da USP"- e o Suprinutri, composto vegetal indicado para organismos debilitados, idosos e atletas.
Ainda no Brasil, a Slim, empresa que há 25 atua no mercado de dietéticos, já anunciou para este ano toda uma linha de produtos nutracêuticos. Na maioria, serão produtos convencionais adicionados com vitaminas, ferro, cálcio.
A empresa conta com um consultor internacional, Darald Donnell, cuja missão é buscar idéias no mercado americano. "O Brasil ainda não tem a cultura de consumir esse tipo de alimento, mas é apenas questão de tempo", prevê.
Outro exemplo: está chegando ao Brasil o Stolle Milk, desenvolvido pelo laboratório da empresa nos EUA e com o leite de vacas da Nova Zelândia. A empresa diz que o leite, em pó, tem capacidades imunológicas capaz de combater e prevenir doenças.
Nos EUA, a Reliv, talvez a maior fabricante de alimentos funcionais, tem um produto no mercado à base de soja para mulheres na pré-menopausa. Pesquisas mostraram que uma das substâncias presentes nesse tipo de feijão aumentaria o estrogênio, hormônio cuja redução facilita o estabelecimento de certas doenças.
(AURELIANO BIANCARELLI)



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