|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GILBERTO DIMENSTEIN
A CPI dos tolos
Inspirado na cruzada de Antonio Carlos Magalhães, o PT
tentou criar semana passada
na Assembléia Legislativa da
Bahia uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a Justiça baiana -o
partido alega ter uma bateria
de denúncias indicando desvios e mazelas, capazes de colocar juízes no banco dos réus.
Os seguidores de ACM preferiram não estender a fúria moralizante do Judiciário à Bahia, evitando a CPI estadual;
afinal, eles sabem o interesse
do PT.
A oposição tentaria colocar
no banco de réus não os juízes
- mas o próprio Antonio Carlos Magalhães, acusado de manipular e mesmo intimidar
magistrados, com seu estilo
cronicamente truculento.
No caso, os deputados baianos inspiraram-se no próprio
PT, avesso à CPI, de ACM.
O partido entusiasma-se
mais com a CPI dos Bancos,
idéia do presidente do PMDB,
Jader Barbalho; certamente
imagina atingir financiadores
dos atuais donos do poder.
Esse tipo de incoerência apenas mostra que a opinião pública corre o risco de cair na
CPI dos Tolos.
Ambas as CPIs -Sistema Financeiro e Judiciário- são
boas idéias, o Congresso age, a
rigor, como deveria agir,
atuando como agente fiscalizador.
Das duas, a CPI do Judiciário
é ainda mais relevante, dando
chance à opinião pública de ver
aberta uma caixa preta num
poder pouco fiscalizado.
Pouco fiscalizado, vamos reconhecer, mesmo pela imprensa, mais habituada a encontrar
falcatruas no Executivo e Legislativo.
Como sou um otimista sobre
os destinos nacionais, vejo neste tipo de iniciativa o aprofundamento da democracia e o
avanço dos mecanismos de
controle.
Vai muito bem, por enquanto
( repito, enquanto), a CPI que
devassa as quadrilhas de fiscais
em São Paulo.
A questão, aqui, é saber como
se consegue fiscalizar os fiscais?
Só um arrematado e irreversível tolo imaginaria que indivíduos como Jader Barbalho e
Antonio Carlos Magalhães,
com passagens biográficas controvertidas, para não dizer nebulosas, estão preocupados
apenas com o interesse público.
Assim como o coro de magistrados contrários à investigação que não se move só pela
causa pública, mas pelo temor
da exposição de mazelas.
Os banqueiros sabem que não
devem gritar alto, preferem
atuar nos bastidores e, certamente, conhecem os mecanismos de sedução parlamentar.
Ridículo o receio exposto por
técnicos do governo, fazendo
eco ao presidente Fernando
Henrique Cardoso, de que investigar banco pode abalar o
país, gerando dificuldades de
entrada de recursos.
Nem os bancos são tão fracos
nem os parlamentares tão fortes. Nem, muito menos, a democracia tão esquálida, a ponto de não permitir a devassa de
eventuais crimes bancários.
Com sua intuição impecável,
ACM percebeu que, montado
numa CPI, atacando o Judiciário, vai atrair a atenção, posicionando-se para a sucessão
presidencial.
Tudo depende de sua conveniência: nos governos Sarney e
Collor, ACM era inimigo das
CPIs moralizantes. Vivia chamando Maluf de "ladrão", depois virou seu aliado.
Qualquer pesquisa de opinião mostra que os pobres
vêem a Justiça como algo distante, incompetente, supostamente protetora dos ricos.
ACM apenas está tentando fazer do Judiciário seu "marajá",
igual ao projeto Fernando Collor -vê nisso a chance de angariar simpatia nos eleitores
do Sul e Sudeste, onde é, ainda,
um ilustre desconhecido.
Como o apoio que desfruta na
mídia e sua conhecida capacidade de produzir notícias, a hipótese tem chance de decolar
Como apoio de FHC, ACM seria um candidato com boas
chances para presidente.
De olho na sucessão e na tentativa de ofuscar a CPI de
ACM, Jader Barbalho criou
uma comissão para investigar
bancos.
Mais um alvo que caiu no
gosto popular.
Os eleitores já têm certa aversão a empresários. A aversão
cresce ainda mais diante dos
banqueiros.
Colocar "tubarão" no banco
dos réus vai dar aos parlamentares a imagem de coragem,
ousadia, contra o poder econômico.
Se o eleitor não quiser entrar
na CPI dos tolos deve prestar
atenção nos dois lados, percebendo o jogo da manipulação,
separando o show da investigação.
A CPI presta, de fato, se ajuda
a perceber quando o cidadão é
lesado.
E não presta quando serve
mais para promover candidatos do que averiguar a verdade.
A julgar pela força e esperteza
de investigadores e investigados, não faltarão motivos para
o cidadão suspeitar, em igual
medida, de estar lesado tanto
por quem investiga quanto por
quem é investigado.
PS - Não gosto do estilo autoritário de Antonio Carlos Magalhães, considero-o um dos
símbolos do atraso nacional,
nunca engoli sua tentativa de
se apresentar como paladino
da moralidade.
Sou, porém, obrigado a reconhecer que uma CPI do Judiciário é um serviço à nação.
Não se consegue construir Estado de Direito sem um Judiciário mais competente e próximo do cidadão.
A CPI vai ser uma bobagem se
ficar nas denúncias. Um fato
histórico, porém, se motivar reformas para que o brasileiro se
sinta mais protegido -e, aí, seria bom que o Congresso trabalhasse mais rápido, reformando
a legislação.
E-mail: gdimen@uol.com.br
Texto Anterior: País cria norma para alimentos funcionais Próximo Texto: O que dizem as pesquisas Índice
|