São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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EDUCAÇÃO

Unidade de filosofia, letras e ciências humanas tem um docente para cada 35,2 alunos; diretor admite problemas

Sem professor, faculdade da USP vive crise

Caio Guatelli/Folha Imagem
Estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas fazem protesto durante palestra de diretor na Bienal do Livro


PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo passa pela sua maior crise desde 1934, quando foi fundada.
O "diagnóstico" é do próprio diretor da faculdade, Francis Henrik Aubert, 54, que comanda a unidade há quatro anos. Ele admite problemas como falta de professores e de espaço físico.
Estudantes afirmam que as salas estão lotadas e que, por isso, alguns chegam a assistir às aulas em pé, nas portas ou nos corredores.
A situação levou os alunos a decretar, desde a última terça-feira, greve por tempo indeterminado. "A reivindicação deles é legítima", reconhece Aubert.
Atualmente, a FFLCH tem 12.300 alunos, cerca de 20% de toda a USP, a maior instituição de ensino superior do Brasil e a terceira da América Latina.
Apenas 349 professores lecionam na faculdade -o que representa uma média de um para cada 35,2 alunos. Na USP, a média padrão é de 14 para cada professor.
A FFLCH tem uma área de 1,5 m2 por aluno, menos da metade da penúltima colocada nesse ranking: a Faculdade de Direito da USP, com 3,7 m2.
A crise, segundo Aubert, está baseada em um tripé: desvalorização das áreas de ciências humanas, falta de diálogo entre os departamentos da USP e o "boom" de aposentadorias (mais de cem) ocorrido no final dos anos 90.
"Se pensarmos nesse sentido [falta de estrutura", é a maior crise pela qual passamos, sim. É um grande problema estrutural que estamos enfrentando e é inegável que ele já existe há alguns anos", afirma o diretor.
A pró-reitora de graduação, Sonia Penim, afirma que a situação da FFLCH é grave, mas que a reitoria está disposta a conversar com a direção da unidade.
O corpo docente da FFLCH reivindica a contratação de 105 professores em um prazo de três anos, sendo 54 já em 2002. Os alunos, porém, pedem 350. A reitoria autorizou a contratação de 12 professores. Mas eles só começarão a lecionar em 2003, já que existe a necessidade de concurso.
Sonia Penim, porém, afirma que a FFLCH pode pedir à reitoria a contratação emergencial de professores temporários. "É preciso haver na unidade um planejamento de médio a longo prazo das necessidades."
Sobre a contratação de 54 professores para este ano, Sonia afirma que a proposta será analisada. "É difícil dizer se vamos conseguir, porque esse é o número de professores que a USP contrata para todas as unidades."

Manifestação
Ontem, durante palestra do diretor da faculdade na Bienal do Livro, cerca de 300 alunos realizaram um protesto silencioso.
Vestidos de preto e com narizes de palhaço, os estudantes carregavam faixas e imitações de caixões.
Aubert afirmou que, apesar da crise, nenhum curso corre risco de extinção, um dos maiores temores dos estudantes.
Renata Katz, 21, aluna de letras, afirma que os problemas estruturais não são novidade. "Não é de hoje que estamos assistindo a aulas em salas lotadas, com mais de cem alunos. Não há condições mínimas de aprendizado e os professores reclamam, pois não dão conta do trabalho e, consequentemente, a qualidade do curso cai muito", afirmou.
Uma das áreas mais prejudicadas, de acordo com os alunos, é a de japonês -que tem 114 estudantes matriculados. Apenas quatro professores, porém, lecionam no curso. Não há contratação de docentes para o curso, segundo Aubert, desde 1988.
Aubert afirma que, apesar da crise, a produção científica da FFLCH se mantém. São 3.995 trabalhos entre pesquisas de professores, mestrados e doutorados.



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