São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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AMBIENTE

Água subterrânea em área da Shell está poluída

Moradores da Vila Carioca usaram poço no auge da contaminação

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Moradores da rua Colorado, que vivem muro a muro com a base da Shell na Vila Carioca (zona sul de SP), confirmam ter consumido água de poços artesianos no auge da contaminação da área.
Segundo mais de dez pessoas que vivem no local há mais de 30 anos, só no fim da década de 70 a região passou a ter água encanada. Até então, todos recorriam ao lençol subterrâneo que, assim como o subsolo, se encontra poluído por substâncias tóxicas e cancerígenas como benzeno, tolueno, xileno, etilbenzeno e chumbo.
A população afirma ainda ter usado água de duas fontes também ligadas a poços subterrâneos, que ficavam nas portas de entrada da unidade da Shell.
Foi exatamente até o fim dos anos 70 que a empresa admite ter enterrado no solo borras de combustível. A base da Shell funciona numa área de 180 mil m2 desde o fim dos anos 40 e não tem licença.
A contaminação do local, denunciada em 93, é alvo de ação civil pública proposta pela Promotoria de Meio Ambiente da Capital. O Ministério Público estima que até 30 mil pessoas possam ter sido afetadas pela poluição, mas não foi feito ainda nenhum exame de saúde na população, que se diz apavorada e desinformada.
"Meu condomínio sempre usou água de poço artesiano, mas de uns tempos para cá constataram contaminação e tivemos de fechá-lo", conta a vendedora Isabel Vendrame, 40, que vive há 32 anos no Conjunto Auriverde, único da região com poço cadastrado no Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica).
"Moro aqui desde que nasci e só fui saber do risco pelo jornal. Sempre tive horta em casa e achava que minha família estava comendo um alimento mais saudável. Se soubesse da contaminação antes, não teria feito isso", reclama Lúcia Ferreti Almeida, 32.
Uma reunião marcada para segunda-feira deve reunir a comunidade e representantes da Shell. A empresa descarta, porém, qualquer possibilidade de que os poluentes tenham avançado para a área residencial e sustenta que as águas subterrâneas correm no sentido contrário ao das casas.
Diz também que só fará exames nos moradores se os laudos ambientais apontarem necessidade.
O vereador Jooji Hato (PMDB), presidente da CPI dos Postos de Combustíveis, disse ontem, em vistoria à área da Shell, que quer aprovar na comissão a exigência de novas avaliações ambientais na região, a serem feitas por técnicos convocados pela CPI.



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