São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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VIOLÊNCIA

Desarticulação do grupo teria ocorrido após a prisão, ontem no Rio, de um cunhado e de uma irmã do traficante

Polícia anuncia desmonte da quadrilha de Uê

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A Polícia Civil do Rio e a Polícia Federal anunciaram a desarticulação da quadrilha de Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê, com as prisões, ontem, de seu cunhado Carlos Roberto Cabral da Silva, o Robertinho do Adeus, e de Evanilda Medeiros, irmã do traficante.
As prisões foram realizadas por policiais envolvidos na Operação Camisa Preta, parceria firmada entre as duas corporações. Desde o dia 15 de abril, a Polícia Civil e a PF já prenderam 26 pessoas acusadas de atuar no tráfico de drogas, das quais 16 da quadrilha que Uê comanda de dentro do presídio Bangu 1 (zona oeste do Rio), onde está preso desde 1996.
"Faltam apenas dois membros da quadrilha do Uê para serem presos. No entanto, o bando está totalmente desarticulado porque todos os seus chefes já estão presos", disse o chefe da Polícia Civil, delegado Zaqueu Teixeira.
Segundo o delegado Marcelo Itagiba, superintendente da PF no Rio, Robertinho fazia contatos com guerrilheiros colombianos das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
O superintendente afirmou que a quadrilha comprava cocaína da organização guerrilheira colombiana, assim como também fazia Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, preso em Bangu 1 e considerado pela polícia o principal inimigo de Uê.
Apesar de preso há seis anos, Uê continua sendo considerado pela PF e pela Secretaria Estadual da Segurança Pública um dos traficantes mais poderosos do Rio.
Chefe da facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos), Uê movimenta cerca de R$ 20 milhões por ano com o comércio de drogas, de acordo com Itagiba.
As investigações conjuntas apontam Uê como líder do tráfico de cocaína e maconha em várias favelas da zona norte, entre elas os morros do Adeus e do Juramento e o complexo de favelas do Caju.
O casal Robertinho do Adeus e Evanilda foi preso de madrugada durante uma blitz feita por policiais da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes da Polícia Civil) na rodovia Washington Luís, na altura de Duque de Caxias (cidade na Baixada Fluminense).
O chefe da Polícia Civil informou que o novo objetivo será desarticular as quadrilhas dos traficantes Paulo César dos Santos (Linho), Celso Luiz Rodrigues (Celsinho da Vila Vintém) e Elias Pereira da Silva (Elias Maluco).
Para a chefe de investigações da DRE, inspetora Marina Maggessi, a desarticulação da quadrilha de Uê deverá acirrar a guerra entre traficantes pela disputa das "bocas" de drogas. "Uê controlava o tráfico em várias favelas da zona norte, que poderão ser invadidas pelo Comando Vermelho."
Segundo a inspetora, Uê é acusado de traidor pelo CV (Comando Vermelho) por ter matado, em 1994, no complexo do Alemão (zona norte), o traficante Orlando da Conceição, o Orlando Jogador, então líder máximo da facção. Depois disso, Uê foi expulso do CV e fundou a ADA ao lado de Celsinho da Vila Vintém.
Dos 16 integrantes da quadrilha de Uê presos, pelo menos seis são parentes do traficante, entre eles o também cunhado Wanderley Soares, o Orelha, e a outra irmã, Enivalda. "Essa estrutura familiar da quadrilha a tornou mais poderosa do que qualquer outra", disse Teixeira.



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