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AMBIENTE
Alternativa para a população é conjunto habitacional da CDHU a 20 km de distância; creche também será removida
Até julho moradores terão saído, diz governo
DA REPORTAGEM LOCAL
Até o fim do mês de julho, as
450 famílias cadastradas na favela
Paraguai terão sido encaminhadas pela CDHU (Companhia de
Desenvolvimento Habitacional
Urbano) para um conjunto habitacional que está sendo concluído
no bairro de Iguatemi (extremo
leste de São Paulo, a cerca de 20
km da favela). A creche da favela
também será removida.
Quem não quiser sair poderá
ser alocado em abrigos da prefeitura ou ficar em casa de parentes.
Essa é uma das respostas do governo paulista à contaminação na
região. "Sabesp, CDHU e Cetesb
estão conscientes de que têm de
tirar as pessoas de lá para preservar a saúde delas", diz o secretário
de Estado da Habitação e ex-ministro da Saúde, Barjas Negri.
Nos próximos dois meses, Negri
afirma que vai "organizar" a mudança. Isso significa fazer o cadastro econômico de cada família
(para saber quanto elas poderão
pagar de prestação pelo apartamento), informar os moradores
sobre os riscos que correm no local e os convencer a abandonar
definitivamente suas casas, o que
nem os traficantes nem os incêndios conseguiram fazer.
Em dezembro passado, depois
que o fogo praticamente destruiu
a favela, as pessoas receberam a
proposta de mudar para um conjunto habitacional em Guaianazes
(também no extremo leste) ou ir
para hotéis, mas recusaram por
causa da distância em relação ao
centro da cidade e pela impossibilidade de levar consigo as carroças com que a maioria ganha a vida recolhendo material reciclável.
Apesar do aspecto trágico, a
ocasião poderia ter sido o momento ideal para esvaziar o local e
começar a sua remediação. Menos de um mês depois, porém, a
Folha registrou que a favela estava praticamente reconstruída,
dessa vez, com casas de alvenaria.
"Logo depois do incêndio, começamos a construir um muro
para isolar o local, mas não conseguimos ser tão rápidos quanto os
moradores. Eles tiraram até parte
do material do muro para refazer
as casas, e não colocamos polícia
lá para impedir isso porque não
tínhamos ordem judicial", alega o
secretário de Estado dos Recursos
Hídricos e Energia e presidente da
Sabesp, Mauro Arce.
"Perdemos a oportunidade",
reconhece Negri. "Agora, porém,
a maioria está convencida a sair
porque Iguatemi é mais perto que
Guaianazes", sustenta o secretário. "E não há outra alternativa. O
governo está assumindo sua responsabilidade no caso, e os que ficarem terão problemas."
Negri afirma que vai orientar
sua equipe a produzir folhetos explicativos para os moradores, já
que, até agora, não houve uma
reunião oficial com eles, e a maioria só suspeita da contaminação.
Se o convencimento não funcionar, o governo poderá apelar para
a Justiça. A Sabesp já tem uma ordem de reintegração de posse do
terreno, mas pediu adiamento do
seu cumprimento enquanto o
conjunto da CDHU é finalizado.
"Não vamos tirar as pessoas sem
dar uma alternativa", diz Arce.
Pelo apartamento, cada família
irá desembolsar até 15% de seus
rendimentos por mês. A Creche
Esperança deve ser dividida em
duas: uma, maior, será construída
nas proximidades do conjunto
em Iguatemi e outra, menor, permanecerá na Vila Prudente, para
atender crianças que não são da
favela, diz Negri. Até o momento
não estão previstos exames de
saúde nos moradores.
A remediação da contaminação
proposta pela Sabesp inclui a remoção do solo poluído e sua destinação em aterros de lixo industrial ou incineração, além da extração dos vapores gerados pelo
material. Depois disso, terão de
ser feitas uma nova avaliação do
local e a recolocação de solo.
Segundo Arce, quando limpo, o
terreno pode ser transformado
em parque ou área verde.
Na avaliação da Cetesb, a descontaminação do local deve demorar mais de dois anos. Apenas
os trabalhos na área da creche devem durar entre seis e sete meses,
afirma João Antonio Romano, gerente para a bacia do Alto Tietê.
O plano de remediação para o
terreno da creche já foi aprovado
pela agência ambiental, que também deverá, em breve, liberar as
ações nas demais áreas.
(MARIANA VIVEIROS E JOÃO CARLOS SILVA)
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