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São Paulo, domingo, 04 de maio de 2003

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AMBIENTE

Alternativa para a população é conjunto habitacional da CDHU a 20 km de distância; creche também será removida

Até julho moradores terão saído, diz governo

DA REPORTAGEM LOCAL

Até o fim do mês de julho, as 450 famílias cadastradas na favela Paraguai terão sido encaminhadas pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano) para um conjunto habitacional que está sendo concluído no bairro de Iguatemi (extremo leste de São Paulo, a cerca de 20 km da favela). A creche da favela também será removida.
Quem não quiser sair poderá ser alocado em abrigos da prefeitura ou ficar em casa de parentes.
Essa é uma das respostas do governo paulista à contaminação na região. "Sabesp, CDHU e Cetesb estão conscientes de que têm de tirar as pessoas de lá para preservar a saúde delas", diz o secretário de Estado da Habitação e ex-ministro da Saúde, Barjas Negri.
Nos próximos dois meses, Negri afirma que vai "organizar" a mudança. Isso significa fazer o cadastro econômico de cada família (para saber quanto elas poderão pagar de prestação pelo apartamento), informar os moradores sobre os riscos que correm no local e os convencer a abandonar definitivamente suas casas, o que nem os traficantes nem os incêndios conseguiram fazer.
Em dezembro passado, depois que o fogo praticamente destruiu a favela, as pessoas receberam a proposta de mudar para um conjunto habitacional em Guaianazes (também no extremo leste) ou ir para hotéis, mas recusaram por causa da distância em relação ao centro da cidade e pela impossibilidade de levar consigo as carroças com que a maioria ganha a vida recolhendo material reciclável.
Apesar do aspecto trágico, a ocasião poderia ter sido o momento ideal para esvaziar o local e começar a sua remediação. Menos de um mês depois, porém, a Folha registrou que a favela estava praticamente reconstruída, dessa vez, com casas de alvenaria.
"Logo depois do incêndio, começamos a construir um muro para isolar o local, mas não conseguimos ser tão rápidos quanto os moradores. Eles tiraram até parte do material do muro para refazer as casas, e não colocamos polícia lá para impedir isso porque não tínhamos ordem judicial", alega o secretário de Estado dos Recursos Hídricos e Energia e presidente da Sabesp, Mauro Arce.
"Perdemos a oportunidade", reconhece Negri. "Agora, porém, a maioria está convencida a sair porque Iguatemi é mais perto que Guaianazes", sustenta o secretário. "E não há outra alternativa. O governo está assumindo sua responsabilidade no caso, e os que ficarem terão problemas."
Negri afirma que vai orientar sua equipe a produzir folhetos explicativos para os moradores, já que, até agora, não houve uma reunião oficial com eles, e a maioria só suspeita da contaminação.
Se o convencimento não funcionar, o governo poderá apelar para a Justiça. A Sabesp já tem uma ordem de reintegração de posse do terreno, mas pediu adiamento do seu cumprimento enquanto o conjunto da CDHU é finalizado. "Não vamos tirar as pessoas sem dar uma alternativa", diz Arce.
Pelo apartamento, cada família irá desembolsar até 15% de seus rendimentos por mês. A Creche Esperança deve ser dividida em duas: uma, maior, será construída nas proximidades do conjunto em Iguatemi e outra, menor, permanecerá na Vila Prudente, para atender crianças que não são da favela, diz Negri. Até o momento não estão previstos exames de saúde nos moradores.
A remediação da contaminação proposta pela Sabesp inclui a remoção do solo poluído e sua destinação em aterros de lixo industrial ou incineração, além da extração dos vapores gerados pelo material. Depois disso, terão de ser feitas uma nova avaliação do local e a recolocação de solo.
Segundo Arce, quando limpo, o terreno pode ser transformado em parque ou área verde.
Na avaliação da Cetesb, a descontaminação do local deve demorar mais de dois anos. Apenas os trabalhos na área da creche devem durar entre seis e sete meses, afirma João Antonio Romano, gerente para a bacia do Alto Tietê.
O plano de remediação para o terreno da creche já foi aprovado pela agência ambiental, que também deverá, em breve, liberar as ações nas demais áreas. (MARIANA VIVEIROS E JOÃO CARLOS SILVA)


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