São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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Jurada evita cenas violentas de filme

DA REPORTAGEM LOCAL

A mão cobre o rosto. O olhar é desviado para o chão. O incômodo também é percebido pela movimentação repentina na cadeira. Só depois, quando a cena violenta cessa, o olhar retorna para o telão.
A reação não é de um simples espectador de cinema, mas de um dos jurados do ex-estudante de medicina Mateus da Costa Meira, 29. O filme é "Clube da Luta", o mesmo que estava sendo exibido na sala 5 do cinema do MorumbiShopping, na zona sul de São Paulo, quando Meira matou três pessoas. O ex-estudante tinha visto o filme 15 dias antes do crime e afirmou, depois dos assassinatos, que chegou a entrar na tela no momento dos disparos.
A fita foi considerada uma das provas no júri popular, e o plenário do fórum se transformou em uma espécie de sala de cinema na madrugada de ontem. Os sete jurados -quatro mulheres e três homens- foram colocados na primeira fila do plenário. Meira foi retirado do local a pedido da defesa. Somente funcionários do fórum e policiais militares estavam no plenário, que ficou lotado durante o dia.
Sentados lado a lado, os jurados não fizeram comentários -as provas não podem ser discutidas entre eles-, mas suas expressões revelaram surpresas com cenas do filme. A fita mostra um jovem depressivo com dupla personalidade que forma um grupo de lutas que depois passa a realizar atos terroristas e de vandalismo. "Eu me identifiquei com o filme. Falava de uma pessoa com dupla personalidade", disse Meira na última terça-feira, no depoimento ao primeiro tribunal do júri.

Cenas de luta
Em uma ameaça direcionada a seu patrão, o protagonista do filme disse que sentia vontade de arrumar "uma carabina para atirar para todo o lado". Foram as cenas de luta, no entanto, que provocaram as reações de surpresa da platéia. Uma das juradas evitava assistir a essas imagens, ora colocando a mão no rosto, ora olhando para baixo.
Antes de exibido, o filme provocou uma disputa de forças entre defesa e acusação e por pouco não houve o cancelamento da sessão por problemas técnicos.
Segundo o advogado Domingo Arjones, a exibição do filme daria aos jurados uma melhor compreensão do surto psicótico que Meira teria sofrido no dia do crime. "Existem aspectos que ligam o filme à condição de Meira", disse Arjones.
A acusação afirmou que o filme iria constranger os jurados, por ter cenas de violência. Em votação secreta, eles decidiram pela exibição, só que o DVD trazido pela defesa não funcionou no equipamento do fórum. Foi feita uma nova votação, mas um dos jurados insistiu na exibição.
A juíza Maria Cecília Leone foi até sua casa e trouxe o seu próprio aparelho. A exibição terminou às 3h de ontem.
Para o promotor Norton Geraldo Rodrigues da Silva, o filme não pode servir de justificativa para o ato cometido pelo ex-estudante.


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