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Jurada evita cenas violentas de filme
DA REPORTAGEM LOCAL
A mão cobre o rosto. O olhar é
desviado para o chão. O incômodo também é percebido pela movimentação repentina na cadeira.
Só depois, quando a cena violenta
cessa, o olhar retorna para o telão.
A reação não é de um simples
espectador de cinema, mas de um
dos jurados do ex-estudante de
medicina Mateus da Costa Meira,
29. O filme é "Clube da Luta", o
mesmo que estava sendo exibido
na sala 5 do cinema do MorumbiShopping, na zona sul de São
Paulo, quando Meira matou três
pessoas. O ex-estudante tinha visto o filme 15 dias antes do crime e
afirmou, depois dos assassinatos,
que chegou a entrar na tela no
momento dos disparos.
A fita foi considerada uma das
provas no júri popular, e o plenário do fórum se transformou em
uma espécie de sala de cinema na
madrugada de ontem. Os sete jurados -quatro mulheres e três
homens- foram colocados na
primeira fila do plenário. Meira
foi retirado do local a pedido da
defesa. Somente funcionários do
fórum e policiais militares estavam no plenário, que ficou lotado
durante o dia.
Sentados lado a lado, os jurados
não fizeram comentários -as
provas não podem ser discutidas
entre eles-, mas suas expressões
revelaram surpresas com cenas
do filme. A fita mostra um jovem
depressivo com dupla personalidade que forma um grupo de lutas que depois passa a realizar atos
terroristas e de vandalismo. "Eu
me identifiquei com o filme. Falava de uma pessoa com dupla personalidade", disse Meira na última terça-feira, no depoimento ao
primeiro tribunal do júri.
Cenas de luta
Em uma ameaça direcionada a
seu patrão, o protagonista do filme disse que sentia vontade de arrumar "uma carabina para atirar
para todo o lado". Foram as cenas
de luta, no entanto, que provocaram as reações de surpresa da platéia. Uma das juradas evitava assistir a essas imagens, ora colocando a mão no rosto, ora olhando para baixo.
Antes de exibido, o filme provocou uma disputa de forças entre
defesa e acusação e por pouco não
houve o cancelamento da sessão
por problemas técnicos.
Segundo o advogado Domingo
Arjones, a exibição do filme daria
aos jurados uma melhor compreensão do surto psicótico que
Meira teria sofrido no dia do crime. "Existem aspectos que ligam
o filme à condição de Meira", disse Arjones.
A acusação afirmou que o filme
iria constranger os jurados, por
ter cenas de violência. Em votação
secreta, eles decidiram pela exibição, só que o DVD trazido pela
defesa não funcionou no equipamento do fórum. Foi feita uma
nova votação, mas um dos jurados insistiu na exibição.
A juíza Maria Cecília Leone foi
até sua casa e trouxe o seu próprio
aparelho. A exibição terminou às
3h de ontem.
Para o promotor Norton Geraldo Rodrigues da Silva, o filme não
pode servir de justificativa para o
ato cometido pelo ex-estudante.
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