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Com brinde e massagem, congresso médico parece parque de diversões
CLÁUDIA COLLUCCI
ENVIADA ESPECIAL A CHICAGO
Com um sorvete do tipo napolitano em uma das mãos e
duas sacolas personalizadas
das companhias farmacêuticas
Roche e Bayer Health Care, a
médica japonesa Tomiko Kim
espera a vez na fila para fazer
um teste de conhecimentos de
câncer no estande do laboratório Merkel Cell Cancer.
Após responder a três questões básicas sobre o alvo do remédio, os efeitos e os índices de
sucesso, ganhou um jogo de
pendrive, caneta a laser marcadora e mouse remoto. "Nice.
Very nice. It's so funny [Legal.
Muito legal. É tão divertido]",
gritou ela.
O imenso espaço destinado
aos mais de 250 expositores
-entre indústrias farmacêuticas, de equipamentos, de informática e serviços- do congresso mundial da Associação Americana de Oncologia Clínica se
transformou em um parque de
diversões para os quase 30 mil
médicos do mundo todo.
Entre uma conferência e outra (e, às vezes, no meio delas),
lá estão eles à procura de brindes, como canetas, sacolas,
pendrives, mouses sem fio, luminárias, tomadas especiais
para conexões internacionais,
entre outros. Sem contar os cafés, sorvetes, sucos e até massagens relaxantes oferecidos pelas empresas expositoras.
Para receber os brindes, os
médicos precisam passar o cartão magnético do congresso,
onde estão todos os seus contatos. "É uma forma de os médicos conhecerem os nossos produtos e se lembrarem da gente
com carinho", disse uma das
atendentes do laboratório Roche. Questionada sobre o seu
nome, ela disse que não estava
autorizada a dar entrevistas.
Ontem à tarde, passeando
pelos estandes com uma sacola
cheia de brindes, a médica grega Pants Kyratsonla se dizia
exausta. "Tudo é muito imenso
por aqui. Cansa para chegar até
os locais das conferências e
cansa andar pelos estandes."
Ainda assim, ela definiu o espaço como sendo um lugar para
relaxamento. "As palestras são
muito pesadas. Aqui é mais leve, você se sente mais confortável. Eles te tratam muito bem.
O problema é que a gente fica
passeando e perde a hora dos
compromissos."
Na fila para ganhar uma luminária com pendrive, presenteada pelo laboratório Evista,
um médico brasileiro carregava
quatro sacolas de diferentes laboratórios, mas não quis comentar sobre os brindes nem
revelar o seu nome. "Você está
de sacanagem comigo", disse
ele, com forte sotaque carioca.
Os brindes oferecidos nos estandes são apenas uma pequena parte dos mimos dados pelos laboratórios aos médicos. A
maioria deles participa do congresso (o maior da área e o que
define novas condutas médicas
em oncologia) a convite da indústria farmacêutica, com, ao
menos, passagens aéreas e hospedagem gratuitas.
O mesmo acontece com
grande parte dos quase 600 jornalistas de todo o mundo que
fazem a cobertura do evento.
Só a Merck, produtora do remédio "estrela" do congresso
(Erbitux), trouxe para Chicago
850 pessoas entre médicos e
jornalistas de todo o mundo.
A jornalista Claudia Collucci viajou a Chicago
com as despesas parcialmente pagas pela Merck
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