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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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BARBARA GANCIA

De onde vêm os brinquedinhos letais?

A esta altura, depois de semanas falando sobre a necessidade de reduzir a quantidade de armas no país e de ter sido submetida, como consequência, a centenas de e-mails com todo tipo de insulto e ameaça, creio que já estou apta a traçar um perfil psicológico do termocéfalo que milita pelo porte, pela posse e pelo livre comércio de armas.
Seria mais honesto se esse pessoal que me escreveu admitisse seu fascínio pelas armas e dissesse de uma vez que usa a defesa contra ladrões como desculpa para justificar sua tara por brinquedinhos letais.
Pode ser só coincidência, mas a retumbante maioria dos que escreveram defendendo a "liberdade" de andar armado só conseguiu exprimir seu ponto de vista com a ajuda de alguma forma de hostilidade. Isso diz bastante sobre o tipo de gente que gosta de andar armado, mas, infelizmente, mesmo que todos os brinquedinhos de cada um dos desequilibrados que pensam como esses hunos missivistas fossem confiscados, ainda assim, o problema estaria longe de ser resolvido.
Veja só: desde 1999, tanto a Taurus quanto a CBC, duas das maiores empresas de fabricação de armas e munições no país, acordaram em não mais exportar seus produtos para o Paraguai. No Rio, onde bala perdida é tão comum quanto pernilongo na margem do rio Pinheiros, as lojas que vendem armas e munições praticamente fecharam todas. No resto do país, a venda caiu até 80% no último ano. Ainda assim, existe uma relação de algo como uma arma legalizada para cada dez ou 15 ilegais (ninguém sabe ao certo) em circulação.
Eu pergunto: se a indústria de armas jura de pés juntos que tem absoluto controle sobre os produtos que vende e se ela não vende mais armas para o Paraguai, de onde vêm as armas ilegais que estão matando o brasileiro? E o que acontece com as armas que são recolhidas pela polícia? Está aí um belo tema para matutar. Encerro o assunto cumprimentando a Comissão de Constituição e Justiça do Senado por ter aprovado o projeto que torna crime inafiançável o porte e a venda ilegais e o contrabando de armas.
 
Encantados com a brandura da nova retórica de Lula, os neolulistas se iludiram de que, no governo do PT, o MST seria tratado com o rigor da lei. Pois não sei qual o achincalhe maior: se a invasão da fazenda de um presidente da República ou os tapinhas nas costas de outro presidente, seguidos da declaração de recrudescimento das invasões.


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