|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIOLÊNCIA
Dez agentes civis e quatro PMs estão presos por extorsão de dinheiro e tráfico; testemunhas citam Scuderie Le Cocq
Denúncia liga policiais a crime organizado em MG
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Policiais civis que tiveram a prisão preventiva decretada em Minas Gerais após acusação de participação em tráfico de drogas, extorsão de dinheiro e prostituição
estariam, segundo depoimentos
de testemunhas, ligados à Scuderie Detetive Le Cocq -organização acusada de agir como um esquadrão da morte.
A denúncia foi feita por duas
prostitutas, em depoimentos sigilosos à Corregedoria da Polícia
Civil, ao Ministério Público e à
Comissão de Direitos Humanos
da Assembléia Legislativa.
As instituições e a Corregedoria
da PM investigam o envolvimento de policiais em crimes.
Desde o dia 16, dez policiais civis
e quatro militares já foram presos
preventivamente, acusados de integrar esquema de comércio de
drogas, extorsão de dinheiro, aliciamento e assassinato de prostitutas no centro de Belo Horizonte.
A suposta "banda podre" da polícia mineira é investigada desde
30 de maio. Na ocasião, S.H.M.,
49, presa com drogas, afirmou
que trabalhava para policiais que
comandariam a venda de entorpecentes no centro da capital mineira e seriam responsáveis pela
morte de cinco prostitutas somente neste ano.
Desde então, 11 prostitutas prestaram depoimento. No dia 18,
quatro confirmaram as acusações, em reunião da Comissão de
Direitos Humanos. Encapuzadas,
tiveram a identidade preservada.
A Agência Folha teve acesso à
transcrição de depoimento tomado pela Corregedoria da Polícia
Civil em 5 de junho, quando a testemunha acusou e identificou,
por meio de fotos, oito dos dez
policiais civis atualmente presos.
Em outro trecho do depoimento, a testemunha aponta a ligação
do grupo com a SDLC (Scuderie
Detetive Le Cocq).
Diz o documento: "Que a depoente informa que os policiais
civis se reúnem aos sábados na
Lecokc (sic), que trata-se de um
grupo de extermínio, (...) e é o local onde se encontram para fazer
churrasco e distribuir a "sopa" [dinheiro], quando então fazem distribuição de tarefas no tráfico".
As informações sobre a entidade e o grupo de policiais presos foram confirmadas por outra testemunha, em depoimento aos deputados da Comissão de Direitos
Humanos.
"Pode existir vários membros
da Scuderie Le Cocq envolvidos",
afirmou o promotor Leonardo
Castelo Branco, da Promotoria de
Tóxicos. Segundo ele, que integra
o grupo de seis promotores que
investiga o caso, a Promotoria já
possui provas documentais do
envolvimento de policiais e irá denunciar os que estão presos.
De acordo com o promotor,
ainda não é possível dizer que há
uma organização criminosa de
policiais agindo no Estado. Até o
momento, segundo ele, as apurações apontam para ações isoladas,
porém coordenadas.
Outras duas frentes de denúncias estão sendo investigadas. A
primeira é que policiais estariam
envolvidos em assassinatos de
mulheres ocorridos entre 1999 e
2001 na região metropolitana de
Belo Horizonte.
Outras -e recentes- denúncias apontam suposta participação de policiais civis em crimes
em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte.
A investigação gerou reações
dentro da Polícia Civil. No último
dia 25, após enterro de um detetive assassinado na noite anterior,
cerca de 500 policiais civis -segundo estimativa da Assembléia
Legislativa- saíram em carreata.
O ato terminou na frente da sede do Legislativo com declarações
inflamadas de policiais e líderes
sindicais, que, ostentando armas,
prometeram vingar assassinatos
de colegas e criticaram o modo de
condução das apurações.
Texto Anterior: Família de vítima vai a fórum para ver "final da luta" Próximo Texto: Outro lado: Para corporações, presos não têm culpa por mortes Índice
|