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Policial assaltado é procurado desde março
DA REPORTAGEM LOCAL
O começo da busca da Justiça de São Bernardo Campo
pelo soldado da PM Wilson
Russi Schilive coincidiu com
a denúncia de tortura feita
pelos jovens ao juiz da 3ª Vara Criminal da cidade, Antonio Maria Zorz.
Os suspeitos foram interrogados no dia 17 de março.
Schilive teria de ser ouvido
na seqüência, como principal testemunha de acusação.
A partir daí, o 6º Batalhão da
PM encaminhou quatro ofícios à Justiça informando
que o soldado estava prorrogando seus atestados médicos e que, por isso, não poderia ser apresentado.
O primeiro ofício é de 31
de março -dia da audiência
seguinte- e o último de 25
de maio. Só um dos ofícios
do 6º Batalhão cita que o soldado se afastou por motivos
psiquiátricos, mas a avaliação médica não foi encaminhada ao processo.
O último ofício do batalhão informa o endereço do
soldado para a realização de
uma intimação direta. Um
oficial de Justiça foi ao local,
mas um irmão do soldado
disse que o PM se mudou
para uma cidade do interior,
que não soube informar
qual, e forneceu o telefone da
sogra do policial, que mora
em Águas da Prata (235 km
da capital paulista).
Segundo os autos do processo, o oficial de Justiça ligou, mas a sogra disse que o
soldado não estava ali e informou outro número de telefone, na mesma cidade. O
funcionário disse que, nas
tentativas que fez, o telefone
só dava na caixa postal.
A Folha ligou para esse último número. Uma pessoa
que se identificou como cunhado do PM afirmou que
ele continuava em São Bernardo e que passava por um
momento difícil porque era
vítima de uma "perseguição". A reportagem informou os telefones de contato,
mas não houve retorno.
Schilive chegou a dar entrevistas para emissoras de
televisão dizendo que sua filha de três anos foi agredida
com um tapa por um dos assaltantes. "Só cinco minutos
em uma sala trancado, só os
dois. Não precisa nem de arma", disse, ao ser questionado sobre o que faria com o
suposto agressor de sua filha. A gravação, na qual o
PM também aparece com a
mão machucada, foi encaminhada ao processo.
Na delegacia, PMs que
participaram da operação
afirmaram que os jovens estavam com uma farda, um
relógio, um celular e acessórios de carro (medidores de
pressão de óleo, de combustível etc.) que seriam de Schilive. A PM também apresentou um revólver 38 que seria
de um dos suspeitos.
O soldado Ademilson Ramos -que aparece no boletim como testemunha- e o
soldado Sandro da Silva Serra, que registrou a ocorrência, foram ouvidos na Justiça. Eles negaram a acusação
de tortura, mas admitiram
que Schilive tentou agredir o
primeiro jovem preso, o que
os obrigou a contê-lo.
A promotora de Justiça do
caso, Maria Bernardete Neves de Oliveira Toledo, disse
que não vai desistir do depoimento do Schilive. Segundo ela, não é possível saber o motivo do não-comparecimento do PM. "Só é possível opinar com o processo
encerrado", disse. Mas ela
reconhece que o não-comparecimento do policial enfraquece a acusação, já que
ele tem de reconhecer os
suspeitos e confirmar sua
versão à Justiça.
(GP)
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