São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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Policial assaltado é procurado desde março

DA REPORTAGEM LOCAL

O começo da busca da Justiça de São Bernardo Campo pelo soldado da PM Wilson Russi Schilive coincidiu com a denúncia de tortura feita pelos jovens ao juiz da 3ª Vara Criminal da cidade, Antonio Maria Zorz.
Os suspeitos foram interrogados no dia 17 de março. Schilive teria de ser ouvido na seqüência, como principal testemunha de acusação. A partir daí, o 6º Batalhão da PM encaminhou quatro ofícios à Justiça informando que o soldado estava prorrogando seus atestados médicos e que, por isso, não poderia ser apresentado.
O primeiro ofício é de 31 de março -dia da audiência seguinte- e o último de 25 de maio. Só um dos ofícios do 6º Batalhão cita que o soldado se afastou por motivos psiquiátricos, mas a avaliação médica não foi encaminhada ao processo.
O último ofício do batalhão informa o endereço do soldado para a realização de uma intimação direta. Um oficial de Justiça foi ao local, mas um irmão do soldado disse que o PM se mudou para uma cidade do interior, que não soube informar qual, e forneceu o telefone da sogra do policial, que mora em Águas da Prata (235 km da capital paulista).
Segundo os autos do processo, o oficial de Justiça ligou, mas a sogra disse que o soldado não estava ali e informou outro número de telefone, na mesma cidade. O funcionário disse que, nas tentativas que fez, o telefone só dava na caixa postal.
A Folha ligou para esse último número. Uma pessoa que se identificou como cunhado do PM afirmou que ele continuava em São Bernardo e que passava por um momento difícil porque era vítima de uma "perseguição". A reportagem informou os telefones de contato, mas não houve retorno.
Schilive chegou a dar entrevistas para emissoras de televisão dizendo que sua filha de três anos foi agredida com um tapa por um dos assaltantes. "Só cinco minutos em uma sala trancado, só os dois. Não precisa nem de arma", disse, ao ser questionado sobre o que faria com o suposto agressor de sua filha. A gravação, na qual o PM também aparece com a mão machucada, foi encaminhada ao processo.
Na delegacia, PMs que participaram da operação afirmaram que os jovens estavam com uma farda, um relógio, um celular e acessórios de carro (medidores de pressão de óleo, de combustível etc.) que seriam de Schilive. A PM também apresentou um revólver 38 que seria de um dos suspeitos.
O soldado Ademilson Ramos -que aparece no boletim como testemunha- e o soldado Sandro da Silva Serra, que registrou a ocorrência, foram ouvidos na Justiça. Eles negaram a acusação de tortura, mas admitiram que Schilive tentou agredir o primeiro jovem preso, o que os obrigou a contê-lo.
A promotora de Justiça do caso, Maria Bernardete Neves de Oliveira Toledo, disse que não vai desistir do depoimento do Schilive. Segundo ela, não é possível saber o motivo do não-comparecimento do PM. "Só é possível opinar com o processo encerrado", disse. Mas ela reconhece que o não-comparecimento do policial enfraquece a acusação, já que ele tem de reconhecer os suspeitos e confirmar sua versão à Justiça. (GP)


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