São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008

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33% das mulheres afirmam ter feito sexo aos 15 anos

Pesquisa feita pelo Cebrap, financiada pelo Ministério da Saúde, mostra ainda que elas têm filhos cada vez mais novas

Em 96, índice das jovens que disseram ter tido a primeira relação sexual aos 15 anos era de 11,5%; número de cesáreas também cresceu


ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

As brasileiras estão fazendo sexo e tendo filhos cada vez mais novas, mostra a recém-divulgada Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, feita pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) com financiamento do Ministério da Saúde.
No grupo de 15 a 19 anos, 32,6% disseram em 2006 ter tido a primeira relação sexual aos 15. Em 1996, na edição anterior da pesquisa, o índice era de 11,5%. Por tabela, o percentual de meninas nessa faixa etária que se declararam virgens caiu -de 67,2% para 44,8%.
A pesquisa foi feita no Brasil inteiro. Obtidos por entrevista de novembro de 2006 a maio de 2007, os dados são sobre cerca de 15,5 mil mulheres em idade fértil (de 15 a 49 anos) e 5.000 crianças de até cinco anos.
As conseqüências desse início precoce da vida sexual se refletem nos números de gravidez. A idade mediana da mulher na época do nascimento do primeiro filho caiu, nesses dez anos, de 22,4 anos para 21.
O índice de meninas de 15 anos com filho subiu de 3% para 5,8% entre 1996 e 2006.
O acesso a métodos de prevenção da gravidez também cresceu, mas não chegou a provocar impacto no número de filhos não planejados. Dos bebês nascidos entre 2001 e 2006, 18% foram indesejados e 28% estavam nos planos das mulheres só para mais tarde.
"Isso nos leva a pensar em falhas de métodos [de anticoncepção], uso intermitente de métodos ou eventual descontinuidade na distribuição gratuita de métodos", afirma a demógrafa Elza Berquó, coordenadora da pesquisa.
A idade para o nascimento do primeiro filho varia de acordo com o grau de instrução da mulher. Aquelas com até três anos de estudo têm o primeiro filho, em média, aos 19. Para as que estudaram 12 anos ou mais, a média sobe para 26 anos.
Na avaliação do ginecologista Marco Aurélio Galletta, do Hospital das Clínicas de São Paulo, o que falta é uma estratégia focada na educação das adolescentes. "Temos um cuidado muito bom com as crianças. A mortalidade infantil no Brasil já é de país desenvolvido. E estamos melhorando agora a saúde da mulher e do adulto. Mas fica um buraco na saúde do adolescente. A escola não dá conta de dar a orientação; e o jovem, que quer ser independente e acha que sabe tudo, fica à mercê da própria sorte."
Para Albertina Duarte Takiuti, responsável pela Saúde do Adolescente na Secretaria Estadual da Saúde, os adolescentes têm informação sobre gravidez e métodos contraceptivos. "Mas o menino não usa a camisinha porque fica com medo de falhar. A menina não pede a camisinha porque fica com medo de não agradar ao namorado. O que precisamos fazer é dar segurança a esses jovens, para que possam conversar com seus parceiros."
Foi justamente essa insegurança que acometeu Josinéia de Oliveira Pereira, 19. Em Porto Velho, ficou grávida por não ter usado camisinha. "Era apaixonada pelo meu noivo. Fiquei com medo de pedir para ele parar porque não tinha preservativo", conta ela, que teve sua primeira relação sexual aos 14.
Quando soube da gravidez, o noivo a abandonou. A mãe dela morreu em seguida. E ela decidiu morar em São Paulo com a prima Lúcia de Oliveira Lima. Chegando à rodoviária, foi assaltada. Os contatos da prima foram levados. Só sabe que ela mora "perto do Ipiranga".
Josinéia acabou tendo o filho no Amparo Maternal, uma maternidade filantrópica. Carlos Eduardo acaba de completar dois meses. "Eu não queria ter filho. Fiquei muito assustada com a gravidez. Agora é diferente. Vivo por ele", conta ela, que ainda procura a prima.

Cesáreas e peso
A pesquisa mostrou ainda um aumento no número de cesáreas, de 36,4% dos partos em 1996 para 43,6% em 2006. Para o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, essa realidade é "preocupante". Esse é um dos únicos indicadores negativos mais presente nas mulheres com maior escolaridade, no Sudeste e na rede privada.
Quase metade das mulheres brasileiras em idade fértil tem algum problema de peso. Em 2006, 43% tinham excesso de peso, caracterizado por IMC (índice de massa corporal) maior do que 25 kg por m2 para mulheres de 18 a 49 anos -para idades entre 15 e 17 anos, os parâmetros são variáveis.
Já a obesidade atingia 16% -estão nessa classificação as adultas com IMC maior do que 30 kg por m2.


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