São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008

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BARBARA GANCIA

Coitadinhas das Farc


Será que esta humilde datilógrafa caiu no banheiro, bateu a cabeça na quina da pia e entrou em coma?

DESDE QUE ouvi a notícia da libertação da colombiana Ingrid Betancourt (sua cidadania francesa foi obtida via casamento), me belisco com insistência para verificar se estou acordada.
Imaginei que o resgate da candidata à presidência da Colômbia, mantida refém pelos deturpados mentais das Farc por quase sete anos, fosse ser motivo de júbilo para qualquer ser invertebrado que saiba distinguir certo de errado. Vejo que estava redondamente enganada.
No momento em que a boa nova de que Ingrid havia sido posta em liberdade começou a circular, fui buscar informações sobre o que estava acontecendo. E o primeiro comentário com que dei de cara já me fez suspeitar que eu tivesse entrado em transe e caído em algum limbo desgraçado, desses que só Dante Alighieri saberia descrever.
Entrevistado por uma rádio (não lembro qual) de São Paulo, o professor do Irel (Instituto de Relações Internacionais) da UnB (Universidade de Brasília), Argemiro Procópio, caiu de pau em cima do presidente da Colômbia. Disse que Álvaro Uribe não tinha mérito algum na operação que libertou Ingrid Betancourt junto com outros 14 reféns, e só faltou aplaudir as Farc e seus mercenários traficantes de drogas e marxistas para as negas deles pela operação que levou ao resgate. Isso, note, com a mais completa anuência do jornalista que o entrevistava.
Não devemos estar falando do mesmo assunto, pensei comigo. O professor de Relações Internacionais da UnB só pode estar opinando sobre alguma produção de Hollywood. Ou será que eu caí no banheiro, bati a cabeça na quina da pia e entrei em coma?
Vieram outros comentaristas tapuias, na TV, na internet e no rádio, e os solilóquios, ainda que velados, pró-Farc e anti-Uribe continuaram a bombar. Uns aproveitaram a ocasião para espinafrar o presidente francês, Nicolas Sarkozy, alegando que a tentativa de libertar Betancourt foi apenas uma jogada de marketing. Se estar do lado certo e fazer a coisa certa é jogada de marketing, melhor nos enfiarmos todos num buraco à espera da ceifa, não é não?
A coisa mais amena que os ditos "especialistas" conseguiram concluir foi que a Colômbia não teve mérito na libertação dos reféns, uma vez que os EUA deviam estar, sem dúvida, por trás da operação.
Fui procurar informações oficiais, para ver se alguém além de mim tinha percebido que os colombianos levaram a cabo uma operação impecável. Mas acabei trombando com a falta de entusiasmo do ministro Celso Amorim, que, em seu depoimento inicial, apenas mencionou de passagem o presidente da Colômbia, sem nem sequer parabenizá-lo pelo feito histórico. Lula também emitiu um comunicado muito do borocoxô, que, como notou o meu blogueiro predileto, Reinaldo Azevedo, não fez menção alguma ao presidente ou ao exército colombianos.
Depois desses sucessivos baldes d'água na cabeça, resolvi continuar minha busca em território mais "longínquo". Liguei na CNN e depois dei uma passada pela BBC, enquanto acessava na internet os principais jornais internacionais. E não é que, pasme, nesses locais todos, o pessoal estava comemorando efusivamente a libertação dos reféns? A diferença na sintonia dos noticiários nacional e internacional mostra que só mesmo na América do Sul alguém ainda leva a ladainha da guerrilha marxista a sério.

barbara@uol.com.br


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