São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998

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MASSACRE EM FRANCISCO MORATO
Três PMs e um policial civil são citados em depoimento
Testemunha liga quatro policiais à megachacina

CRISPIM ALVES
da Reportagem Local

Pelos menos quatro policiais -três militares e um civil- teriam algum tipo de ligação com a megachacina que deixou 12 pessoas mortas na madrugada do último dia 17 em Francisco Morato (Grande São Paulo). A informação consta no depoimento que uma das principais testemunhas do massacre prestou anteontem à noite, por mais de três horas, na Corregedoria da Polícia Militar.
A pedido da corregedoria, o nome dos policiais não serão revelados, por enquanto, para não atrapalhar as investigações. Os PMs já estão presos. Eles trabalhavam em batalhões distintos -dois em São Paulo e um em Franco da Rocha. O policial civil trabalha em Francisco Morato.
Uma quinta pessoa, Roberto Francisco da Silva, também foi citado como um dos três autores dos disparos. A testemunha -o nome não foi revelado por questões de segurança- afirmou ter reconhecido, "sem sombra de dúvida", a voz de Silva antes de a matança começar. "Era isso que você queria? Senta a madeira em todos, em tudo", teria gritado o suspeito ao entrar no bar Ponto de Encontro, onde ocorreu o massacre, antes de efetuar os disparos.
O "recado", provavelmente, teria sido dado para o irmão de Silva, Rubens Francisco da Silva e Renato de Assis Girão, ambos mortos na chacina. Roberto, Rubens e Girão eram traficantes conhecidos na região. A quadrilha deles teria rachado.
Roberto está na carceragem da Delegacia de Homicídios de Guarulhos. Ele foi preso no dia da chacina por policiais do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos).
A testemunha, que em um primeiro momento havia concordado em sair do Estado, voltou atrás, se recusou a receber proteção policial e afirmou que voltaria para Francisco Morato, onde disse que se sentiria mais protegida.
Em seu depoimento, ela revela detalhes dos motivos que teriam levados os três atiradores, provavelmente matadores de aluguel, a praticar o crime. A testemunha afirma também que só não morreu por sorte (leia texto abaixo).
Desde anteontem, as investigações a respeito da chacina estão centralizadas no DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa). Até então, o caso estava com a delegacia de Francisco Morato.
A decisão de remeter o caso para São Paulo partiu do juiz Homero Maion, a pedido do promotor Adalberto Denser de Sá Júnior.
O promotor baseou o seu pedido em reportagem da Folha publicada anteontem na qual revelava que três investigadores de Francisco Morato haviam sido transferidos após suspeitas de que eles teriam facilitado o desaparecimento de Sandroval Marques, um dos três sobreviventes da chacina e outra testemunha-chave do caso.
A testemunha ouvida pela corregedoria citou o nome de dois dos três investigadores afastados em seu depoimento. Ela revelou também um outro nome. Esses policiais civis, segundo a testemunha e a própria delegacia de Francisco Morato, receberiam propinas de traficantes da cidade, entre eles Rubens e Girão.



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