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PRESÍDIO SEM LEI
Sindicato diz que unidade havia sido avisada sobre ameaças entre membros da mesma facção; direção nega
No Rio, presos matam 8 a pauladas em cela
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Oito detentos do presídio Ary
Franco, em Água Santa (zona
norte do Rio), foram mortos ontem de manhã a estocadas e pauladas em um suposto "acerto de
contas" entre presos da unidade.
A chacina foi comandada por 38
presos vinculados à facção criminosa TC (Terceiro Comando). Os
mortos seriam da mesma facção.
O grupo, da cela 20, fez dois
agentes penitenciários reféns por
volta das 7h30, na conferência dos
presos, tomou as chaves, invadiu
outras celas da mesma galeria, a
A, e matou os oito detentos.
Ao perceberem a ação, agentes
da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária entraram
no presídio. A Polícia Militar cercou a área externa. Após a matança, os presos voltaram para as celas e liberaram os reféns às 9h30.
Apesar dos reféns, a secretaria
afirmou que não houve rebelião, e
sim um confronto entre presos.
Segundo o presidente do sindicato dos agentes penitenciários,
Paulo Ferreira, a direção da unidade sabia de uma possível matança. No último dia 13, segundo
ele, o grupo que liderou as mortes
(e que havia sido transferido após
motim no presídio Hélio Gomes)
procurou o diretor do Ary Franco, major Alexandre Azevedo de
Jesus, para se queixar de ameaças
dos oito presos mortos ontem.
O diretor do presídio afirmou
desconhecer ameaças e disse não
saber o motivo da matança. O
subsecretário de Administração
Penitenciária, Aldney Peixoto, declarou que vai apurar a denúncia e
que, se houve falha, o diretor poderá ser punido. Para o secretário
Astério Pereira dos Santos, a divergência entre presos é normal.
"Como acontece no mundo livre,
também no interior da cárcere há
divergências."
O governo do Rio pretende desativar o Ary Franco até o final do
ano. Com capacidade para 958
detentos, o presídio conta hoje
com 1.212 presos.
Agentes
Os agentes reféns foram identificados como Renato Luiz Rodrigues Pinto da Rocha e Tarciso Pinheiro Campos. Segundo o diretor, ambos foram levados para
uma cela isolada da galeria e não
viram a matança.
O diretor do Ary Franco disse
que será aberta sindicância para
apurar se houve facilitação na entrada de estoques (armas artesanais) de metal nas celas.
Para o sindicalista, a falta de
agentes foi uma das razões que levaram à chacina. Ele disse que o
lugar conta com oito -o ideal seriam 20. "Inferiorizados numericamente, não estamos conseguindo dar conta do recado." Membro
da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do
Rio, o deputado Alessandro Molon (PT) foi ao presídio e disse que
havia só cinco agentes no plantão
-três faltaram.
45 mortos em 2 meses
A chacina ocorrida ontem no
presídio Ary Franco ocorreu em
circunstâncias semelhantes ao
massacre que aconteceu na Casa
de Custódia de Benfica (zona norte) entre os dias 29 e 31 de maio,
quando 30 presos e um agente foram mortos. Os dois fatos expuseram a frágil segurança.
Em Benfica, os presos vinculados à facção criminosa Comando
Vermelho tentaram uma fuga em
massa. Como não conseguiram,
fizeram 24 pessoas reféns e invadiram as galerias destinadas a detentos do Terceiro Comando.
Em pouco mais de dois meses,
45 pessoas, entre agentes e presos,
morreram em oito rebeliões, tentativas de fugas ou acertos de contas em presídios fluminenses.
O subsecretário Aldney Peixoto
reconhece as deficiências na segurança das unidades. "Durante um
tempo, ficamos muito preocupados com o complexo prisional de
Bangu e esquecemos das outras
unidades", disse.
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