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Airbus isenta avião e indica falha operacional
Nota da empresa afirma que a aeronave A-320 não apresentou defeito e que o manete não foi desacelerado corretamente pelo piloto
A comissão de investigação da Aeronáutica irá analisar o motivo da falha e não se pronunciou oficialmente sobre o comunicado
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um comunicado da Airbus
baseado na análise oficial da
caixa-preta do vôo 3054 afirma
que a aeronave A-320 não apresentou nenhum "defeito de
funcionamento" e que o manete da turbina direita, que estava
inoperante e travada, não foi
desacelerado corretamente pelo piloto na hora do pouso.
A falha operacional, que a Aeronáutica investiga se foi um
erro do piloto ou ainda algum
problema técnico, desencadeou a série de eventos que impediram a frenagem do Airbus-A320 na pista de Congonhas,
levando o avião a escapar da
pista e colidir com um prédio,
deixando 199 mortos.
Com o manete (alavanca que
controla a potência da turbina)
direito em posição de aceleração durante a aterrissagem, os
spoilers (freios aerodinâmicos)
não foram acionados e o auto-break (freio automático) nas
rodas foi inibido.
O comunicado confirma a hipótese indicada pela caixa-preta, conforme a Folha adiantou
na terça-feira.
Segundo a Airbus, o avião se
comportou da forma prevista
diante do cenário. O avião tem
um sistema de gerenciamento
automático de potência das
turbinas, o chamado "autothrust", que regula os motores de
acordo com cada etapa de vôo.
A aproximação do vôo 3054
foi feita com o autothrust acionado. Mas, ao desacelerar o
manete da turbina esquerda e
deixar o manete da turbina direita incorretamente em aceleração, o autothrust desligou,
segundo a Folha apurou.
Para a Airbus, isso ocorreu
conforme o projeto do avião.
Por isso, a aproximação de
pouso aconteceu normalmente
com os manetes na posição de
aceleração. Mas, dois segundos
antes de tocar o solo, a turbina
direita acelerou de forma imprevista.
Segundo o AIT (Accident Information Telex, telegrama de
informação de acidente), o terceiro da Airbus sobre o caso, o
manete direito permaneceu na
posição de aceleração até o momento da colisão, quando acaba a gravação das caixas-pretas.
O piloto pisou nos pedais 11
segundos depois de tocar o solo
para acionar o freio das rodas,
mas não tentou ou não conseguiu trazer o manete direito
para a posição de reverso -na
qual deveria estar, em conjunto
com o manete esquerdo, após o
toque na pista.
No momento de desespero
ao ver que o avião não freou, o
co-piloto Henrique Stephanini
di Sacco, fala "desacelera, desacelera", conforme indica a caixa-preta. E o piloto, Kleyber Lima, responde: "não dá, não dá".
A comissão de investigação
da Aeronáutica -da qual participa representantes da Airbus- irá analisar o motivo da
falha e não se pronunciou oficialmente sobre a questão, apesar de aprovar o texto da AIT.
Já foi levantada a hipótese de
que algum problema mecânico
possa ter impedido que o manete fosse desacelerado até o
ponto morto. E ainda que um
defeito técnico possa ter impedido o piloto de trazer o mesmo
manete para o reverso depois
de tocar o solo ou ainda quando
os pilotos tentavam frear após
perceber o problema.
Outra questão a ser levantada é sobre o treinamento dos
pilotos sobre o uso dos manetes na situação de reverso inoperante. No AIT, a Airbus afirma que o manual atualizado,
com o procedimento correto,
estava na cabine.
Este telegrama da Airbus
confirma a hipótese de falha
operacional dos pilotos, levantado no comunicado anterior,
conforme foi revelado pela Folha no dia 25 de julho.
Naquele documento, emitido
uma semana após o acidente, a
Airbus pediu atenção a todas as
operadoras em relação à regra
existente e correta sobre operação dos manetes para pouso.
A Airbus tem interesse em
divulgar que não houve defeito
no funcionamento do avião,
mas ainda assim já surgem críticas a respeito do projeto do
A320. Depois de um acidente
parecido em Taiwan em 2004,
a Airbus afirmou que iria desenvolver um alerta sonoro e
visual para a situação em que
um manete é esquecido em
aceleração durante o pouso.
O mecanismo não seria obrigatório, e a TAM diz que não foi
alertada sobre o mesmo.
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