São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2007

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Airbus isenta avião e indica falha operacional

Nota da empresa afirma que a aeronave A-320 não apresentou defeito e que o manete não foi desacelerado corretamente pelo piloto

A comissão de investigação da Aeronáutica irá analisar o motivo da falha e não se pronunciou oficialmente sobre o comunicado

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um comunicado da Airbus baseado na análise oficial da caixa-preta do vôo 3054 afirma que a aeronave A-320 não apresentou nenhum "defeito de funcionamento" e que o manete da turbina direita, que estava inoperante e travada, não foi desacelerado corretamente pelo piloto na hora do pouso.
A falha operacional, que a Aeronáutica investiga se foi um erro do piloto ou ainda algum problema técnico, desencadeou a série de eventos que impediram a frenagem do Airbus-A320 na pista de Congonhas, levando o avião a escapar da pista e colidir com um prédio, deixando 199 mortos.
Com o manete (alavanca que controla a potência da turbina) direito em posição de aceleração durante a aterrissagem, os spoilers (freios aerodinâmicos) não foram acionados e o auto-break (freio automático) nas rodas foi inibido.
O comunicado confirma a hipótese indicada pela caixa-preta, conforme a Folha adiantou na terça-feira.
Segundo a Airbus, o avião se comportou da forma prevista diante do cenário. O avião tem um sistema de gerenciamento automático de potência das turbinas, o chamado "autothrust", que regula os motores de acordo com cada etapa de vôo.
A aproximação do vôo 3054 foi feita com o autothrust acionado. Mas, ao desacelerar o manete da turbina esquerda e deixar o manete da turbina direita incorretamente em aceleração, o autothrust desligou, segundo a Folha apurou.
Para a Airbus, isso ocorreu conforme o projeto do avião. Por isso, a aproximação de pouso aconteceu normalmente com os manetes na posição de aceleração. Mas, dois segundos antes de tocar o solo, a turbina direita acelerou de forma imprevista.
Segundo o AIT (Accident Information Telex, telegrama de informação de acidente), o terceiro da Airbus sobre o caso, o manete direito permaneceu na posição de aceleração até o momento da colisão, quando acaba a gravação das caixas-pretas.
O piloto pisou nos pedais 11 segundos depois de tocar o solo para acionar o freio das rodas, mas não tentou ou não conseguiu trazer o manete direito para a posição de reverso -na qual deveria estar, em conjunto com o manete esquerdo, após o toque na pista.
No momento de desespero ao ver que o avião não freou, o co-piloto Henrique Stephanini di Sacco, fala "desacelera, desacelera", conforme indica a caixa-preta. E o piloto, Kleyber Lima, responde: "não dá, não dá".
A comissão de investigação da Aeronáutica -da qual participa representantes da Airbus- irá analisar o motivo da falha e não se pronunciou oficialmente sobre a questão, apesar de aprovar o texto da AIT.
Já foi levantada a hipótese de que algum problema mecânico possa ter impedido que o manete fosse desacelerado até o ponto morto. E ainda que um defeito técnico possa ter impedido o piloto de trazer o mesmo manete para o reverso depois de tocar o solo ou ainda quando os pilotos tentavam frear após perceber o problema.
Outra questão a ser levantada é sobre o treinamento dos pilotos sobre o uso dos manetes na situação de reverso inoperante. No AIT, a Airbus afirma que o manual atualizado, com o procedimento correto, estava na cabine.
Este telegrama da Airbus confirma a hipótese de falha operacional dos pilotos, levantado no comunicado anterior, conforme foi revelado pela Folha no dia 25 de julho.
Naquele documento, emitido uma semana após o acidente, a Airbus pediu atenção a todas as operadoras em relação à regra existente e correta sobre operação dos manetes para pouso.
A Airbus tem interesse em divulgar que não houve defeito no funcionamento do avião, mas ainda assim já surgem críticas a respeito do projeto do A320. Depois de um acidente parecido em Taiwan em 2004, a Airbus afirmou que iria desenvolver um alerta sonoro e visual para a situação em que um manete é esquecido em aceleração durante o pouso.
O mecanismo não seria obrigatório, e a TAM diz que não foi alertada sobre o mesmo.


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