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TRAGÉDIA EM CONGONHAS
Em um ano, diretoria da Anac ganhou 246 viagens de empresas
No período, quatro dos cinco diretores da agência usaram o chamado passe livre, em média, uma vez a cada um dia e meio
Justificativa para ter viagem
bancada pelas empresas que
fiscalizam são "reuniões" ou
"inspeções'; em boa parte,
destino era a cidade natal
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quatro dos cinco diretores
da Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) fizeram, de julho
de 2006 a julho de 2007, 246
viagens pelo país bancadas pelas companhias aéreas que fiscalizam, aproveitando-se do
chamado passe livre. A média é
de uma viagem a cada um dia e
meio ou 20,5 por mês.
Leur Lomanto foi o que mais
usou do benefício: 78 viagens,
51 apenas em setembro e outubro de 2006. A maioria para
Salvador, sua terra natal.
O presidente da agência, Milton Zuanazzi, usou 58 vezes o
passe livre no ano passado.
Neste ano, não há registro de
que ele tenha viajado de graça.
Joseph Barat viajou 63 vezes
no último ano a cargo das companhias e Denise Abreu, 47.
Documentos enviados pela
Anac à CPI do Apagão Aéreo da
Câmara, obtidos pela Folha,
indicam que Lomanto fez todas as viagens pela TAM. Nas
vezes em que as justificou, informou que era para inspecionar o SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor) da
Anac no aeroporto de Salvador.
O regimento interno da agência, porém, não atribui à diretoria o papel de inspecionar nenhuma área da aviação civil.
Geralmente, ele saiu de Brasília, sede da Anac, ou do Rio,
onde a agência tem escritório,
direto para Salvador, onde mora. A justificativa é a mesma
dos demais diretores.
De julho a dezembro de
2006, o presidente da Anac viajou 58 vezes -43 em agosto. Na
maioria, o destino foi Porto
Alegre, onde mora. Além de
inspeções, alegou reuniões de
diretoria. Viajou normalmente
pela TAM. Barat também viajou pela empresa na maioria
das vezes. Em agosto foram 37
viagens para Rio, SP e Brasília.
Denise Abreu também usou
passagens grátis para desembarcar nos mesmos destinos de
Barat. Argumentou como os
demais: reuniões e inspeção.
O passe livre está no regulamento da Anac e permite a seus
funcionários embarcar em
vôos sem pagar passagem. No
início do mês, Zuanazzi reconheceu, em entrevista à Folha,
o uso, mas disse que há um esforço para reduzi-lo. Há casos
de funcionários que alegaram
"atender compromissos agendados" para a viagem ou
"acompanhar diretor".
Deputados da CPI consideram grave o fato. "Os diretores
perdem autoridade quando
usam o passe livre, que deveria
ser utilizado para fiscalização.
As agências já têm seu orçamento, não precisam fazer uso
desse recurso. O pior é que as
empresas aceitam esse jogo",
disse Vic Pires (DEM-PA).
Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
apresentou emenda à lei geral
das agências reguladoras, em
discussão na Câmara, para
proibir o benefício. A Folha
procurou ontem a assessoria
de imprensa da Anac, mas não
obteve resposta.
(ANDREZA MATAIS, ANGELA PINHO, FÁBIO VICTOR, FELIPE SELIGMAN e VINICIUS ABBATE)
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