São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2010

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GILBERTO DIMENSTEIN

Produção independente


Daniel ganhou um emprego num banco, seu currículo foi aplaudido, mas, em pouco tempo, já se sentia irritado

ATÉ EXPERIMENTAR um jeito diferente de alugar filmes e de ganhar dinheiro, Daniel Topel passou boa parte de sua vida discutindo e, muitas vezes, irritando seus professores e chefes. "Eu quase sempre me sentia à margem, isolado."
Só teve como alternativa inventar seu próprio negócio e montar seu roteiro de independência.

 

Está convencido de que não foi expulso da escola onde estudava em São Paulo (Miguel de Cervantes) porque tirava notas altas. Gostava de questionar, com certa arrogância, as aulas preparadas pelos professores e preferia escolher seus próprios livros para ler. Acrescente-se a isso o prazer de conversar com os colegas para sua atitude ser traduzida como deboche. "Não via utilidade no que me ensinavam. Tirar as melhores notas era um jeito de provocar, não de passar de ano."
Depois foi estudar física na Inglaterra (Imperial College) e matemática nos Estados Unidos (Stanford), mas ainda se sentia deslocado e insatisfeito. "Eu sabia exatamente o que não queria, mas não o que queria", conta Daniel Topel.

 

Com seu conhecimento em matemática e física, ele trabalhou, nos Estados Unidos, numa empresa que desenvolvia software de gestão para empresas. Em Stanford, dedicou-se a estudar modelos matemáticos que facilitavam a tomada de decisões para fazer o máximo com o mínimo. É o que se chama de algoritmos de otimização.
Só que não conseguia fazer isso com sua própria vida. Ganhou um emprego num banco de investimentos, seu currículo foi aplaudido, mas, em pouco tempo, já se sentia, de novo, irritado e perdendo tempo. "Eu imaginava que seria mais feliz trabalhando, talvez, com cultura e educação."

 

De volta ao Brasil, estava cheio de títulos acadêmicos, mas sem dinheiro. E, mais uma vez, sem saber o que fazer. O máximo que conseguiu de aproximação com a cultura foi criar uma videolocadora. Como tinha a habilidade de desenhar software e era treinado nos tais modelos matemáticos de otimização de recursos, passou a reinventar o jeito de alugar vídeos.
Para começar, não montou uma loja. Criou uma videolocadora (Netvmovies) apenas na internet e desenvolveu um sistema para entregar e buscar o DVD na casa do cliente. Permitiu que, além de receber o vídeo em casa, a pessoa pudesse acessar um pacote de filmes pela tela do computador.

 

Dessa vez, Daniel começou sozinho, mas já está cheio de gente em volta. Conseguiu sócios-investidores. O negócio, que começou na cidade de São Paulo, expandiu-se para o resto do Brasil.
Mas ele ainda não está satisfeito. Está tentando descobrir como transformar seu negócio não só em cultura mas também em educação. Daí estar imaginando um modelo para que os filmes vão além das casas, seguindo para as escolas públicas, sendo transformados em aulas.
Talvez as aulas sejam, assim, mais interessantes do que as que tinha em seu tempo de estudante.

gdimen@uol.com.br


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