São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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MASSACRE NO CENTRO

Hospital diz que agente de escolta apontou arma para paciente, após desacato; polícia nega ameaça

Policial é suspeito de ameaçar sobrevivente

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um agente policial do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) foi afastado de suas funções operacionais sob a suspeita de ter ameaçado um morador de rua internado na UTI do Hospital do Servidor Público Municipal. O policial era responsável pela escolta de dois dos sobreviventes dos ataques ocorridos no centro de São Paulo, que estão no local, ainda em estado grave.
No dia 30, às 22h, segundo relato assinado pelo diretor do hospital, Giovanni Di Sarno, o agente e sua colega de escolta -uma carcereira chamada Luciana- entraram na UTI para conversar com um paciente, que recuperara parcialmente a consciência.
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) diz que o paciente em questão é um dos sobreviventes do massacre. A Polícia Civil nega.
"O paciente estava muito agitado, fazendo uso de termos de baixo calão contra a policial, o que teria provocado a revolta do investigador, que, em atitude extrema, sacou uma arma de fogo e apontou a mesma para a cabeça do paciente", escreve Di Sarno.
O relato foi encaminhado na quinta-feira para o gabinete do vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, que entregou o ofício ao secretário municipal de Segurança Urbana, Benedito Mariano. Ontem, Mariano se reuniu com o coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Hédio Silva Jr., a quem coube divulgar o episódio "pelo papel de árbitro da OAB" e para que, em suas palavras, "não pareça revanche".
Silva Jr. se refere ao confronto deflagrado entre prefeitura e Estado desde que a Polícia Civil declarou que a linha de investigação mais avançada aponta para a ação de guardas-civis nos ataques.
Um dos indícios nesse sentido saiu exatamente do contato de policiais com sobreviventes, em hospitais. A prefeitura, porém, diz que os relatos foram induzidos.
Ou seja: se fosse divulgado por Mariano, o entrevero poderia soar apenas como uma forma de sustentar a versão municipal.
A OAB, porém, fez o que pode para amenizar a conotação política do caso. "O fato é efetivamente grave, pois o policial ameaçou exatamente quem ele deveria proteger. Não se pode, porém, com algo que se espera e acredita isolado, desqualificar o inquérito. Não é admissível que se politize isso", disse Silva Jr., classificando a atitude do agente policial de "destemperada e desproporcional".
Silva Jr. foi claro nos detalhes da versão que diz ter ouvido de Mariano: o paciente é um sobrevivente dos ataques, estava sendo interrogado sob o efeito de remédios e chegou a exibir os órgãos genitais à escolta diante de oito ou dez testemunhas, segundo as quais, diz a prefeitura, o agente apontou a arma para o ferido.
A versão da polícia é outra. Em entrevista coletiva, no começo da noite, o diretor do DHPP, Domingos Paulo Neto, disse que a escolta recebeu ordens para se aproximar do leito para saber se o desconhecido era Ivanildo Ferreira da Silva, agredido por Elias Carlos Barbosa da Silva, que estava depondo naquela noite no DHPP. Até aquele momento, a polícia não sabia se Barbosa tinha ou não relação com os ataques, o que acabou descartado. Ferreira teve alta dia 14.
"Não acredito na versão do hospital. Acho inverossímil. O policial diz que só advertiu verbalmente o paciente, que não é um dos feridos [nos ataques], aos quais ele dava segurança", disse Neto. O caso será apurado pela Corregedoria, que ouvirá as testemunhas junto com a OAB.


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