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MASSACRE NO CENTRO
Hospital diz que agente de escolta apontou arma para paciente, após desacato; polícia nega ameaça
Policial é suspeito de ameaçar sobrevivente
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um agente policial do DHPP
(Departamento de Homicídios e
Proteção à Pessoa) foi afastado de
suas funções operacionais sob a
suspeita de ter ameaçado um morador de rua internado na UTI do
Hospital do Servidor Público Municipal. O policial era responsável
pela escolta de dois dos sobreviventes dos ataques ocorridos no
centro de São Paulo, que estão no
local, ainda em estado grave.
No dia 30, às 22h, segundo relato assinado pelo diretor do hospital, Giovanni Di Sarno, o agente e
sua colega de escolta -uma carcereira chamada Luciana- entraram na UTI para conversar
com um paciente, que recuperara
parcialmente a consciência.
A OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) diz que o paciente em
questão é um dos sobreviventes
do massacre. A Polícia Civil nega.
"O paciente estava muito agitado, fazendo uso de termos de baixo calão contra a policial, o que teria provocado a revolta do investigador, que, em atitude extrema,
sacou uma arma de fogo e apontou a mesma para a cabeça do paciente", escreve Di Sarno.
O relato foi encaminhado na
quinta-feira para o gabinete do vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, que entregou o ofício ao secretário municipal de Segurança
Urbana, Benedito Mariano. Ontem, Mariano se reuniu com o
coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Hédio
Silva Jr., a quem coube divulgar o
episódio "pelo papel de árbitro da
OAB" e para que, em suas palavras, "não pareça revanche".
Silva Jr. se refere ao confronto
deflagrado entre prefeitura e Estado desde que a Polícia Civil declarou que a linha de investigação
mais avançada aponta para a ação
de guardas-civis nos ataques.
Um dos indícios nesse sentido
saiu exatamente do contato de
policiais com sobreviventes, em
hospitais. A prefeitura, porém, diz
que os relatos foram induzidos.
Ou seja: se fosse divulgado por
Mariano, o entrevero poderia
soar apenas como uma forma de
sustentar a versão municipal.
A OAB, porém, fez o que pode
para amenizar a conotação política do caso. "O fato é efetivamente
grave, pois o policial ameaçou
exatamente quem ele deveria proteger. Não se pode, porém, com
algo que se espera e acredita isolado, desqualificar o inquérito. Não
é admissível que se politize isso",
disse Silva Jr., classificando a atitude do agente policial de "destemperada e desproporcional".
Silva Jr. foi claro nos detalhes da
versão que diz ter ouvido de Mariano: o paciente é um sobrevivente dos ataques, estava sendo
interrogado sob o efeito de remédios e chegou a exibir os órgãos
genitais à escolta diante de oito ou
dez testemunhas, segundo as
quais, diz a prefeitura, o agente
apontou a arma para o ferido.
A versão da polícia é outra. Em
entrevista coletiva, no começo da
noite, o diretor do DHPP, Domingos Paulo Neto, disse que a escolta
recebeu ordens para se aproximar
do leito para saber se o desconhecido era Ivanildo Ferreira da Silva,
agredido por Elias Carlos Barbosa
da Silva, que estava depondo naquela noite no DHPP. Até aquele
momento, a polícia não sabia se
Barbosa tinha ou não relação com
os ataques, o que acabou descartado. Ferreira teve alta dia 14.
"Não acredito na versão do hospital. Acho inverossímil. O policial diz que só advertiu verbalmente o paciente, que não é um
dos feridos [nos ataques], aos
quais ele dava segurança", disse
Neto. O caso será apurado pela
Corregedoria, que ouvirá as testemunhas junto com a OAB.
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