São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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TINTA FRESCA

Casas de duas ruas de Heliópolis tiveram fachadas pintadas por moradores treinados; iniciativa é de Ruy Ohtake

Favela ganha cores em projeto de arquiteto

FLÁVIA MANTOVANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Antes dominada por tons de marrom, a rua Paraíba, na favela de Heliópolis, está coberta por cores vivas e se tornou motivo de orgulho para os moradores. A pintura das casas é uma iniciativa do arquiteto Ruy Ohtake, que implantou, em maio deste ano, o projeto A Cor em Heliópolis.
Quatro meses após o início do trabalho, já foram pintadas 250 das 275 casas que fazem parte do projeto -a conclusão está prevista para o fim do mês.
A casa da conselheira tutelar Solange da Cruz, 38, situada na rua da Mina -que também participa do programa- é uma das poucas que ainda não foram pintadas. Ela se diz "ansiosa" para receber as cores que ela e o marido escolheram. "A rua era muito cinza. Agora é alegre, parece um arco-íris."
A rua da Mina é ponto agitado de comércio e abriga a sede de uma organização comunitária, a UNAS (União de Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco). A rua Paraíba fica logo ao lado. Sem saída, é pouco movimentada no dia a dia, mas é palco das principais festas organizadas pela vizinhança.
As tintas utilizadas no projeto foram patrocinadas pela Suvinil e os salários dos pintores -moradores da favela treinados para executar o desenho de Ohtake-, pelo banco Panamericano.
Um dos pintores, Gilvan da Silva, 41, diz que a rua era triste, com casas sem reboco ou com tintas desgastadas. Ele e seis colegas dizem que são procurados por moradores dos arredores que perguntam se suas ruas serão beneficiada. "É bom pra população, mas também pra gente, que consegue trabalho. Quero ver Heliópolis todinha colorida", afirma.
Para a dona-de-casa Gilda Campos, 46, vizinha de Sabino, a pintura "valorizou" a região. Ela escolheu a cor verde para sua casa, que antes era coberta apenas por cal. Seu filho Marcelo Campos, 16, também gostou do resultado, mas cobra outras melhorias na rua, como a colocação de lâmpadas nos postes.
Mais à frente, no fim da rua, uma casa de dois andares chama a atenção pelos tons fortes de amarelo e salmão com algumas faixas brancas, uma das marcas do projeto de Ohtake. Seu morador, Gilson Sampaio, 28, disse que muitas residências não tinham numeração, introduzida com tinta branca pelos pintores.
Já Adeir Barbosa, desempregado, foi um dos poucos moradores que não permitiram que sua casa, na rua da Mina, fosse pintada. "A tinta é boa, mas não gosto da combinação de várias cores na mesma fachada", reclama.


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