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TINTA FRESCA
Casas de duas ruas de Heliópolis tiveram fachadas pintadas por moradores treinados; iniciativa é de Ruy Ohtake
Favela ganha cores em projeto de arquiteto
FLÁVIA MANTOVANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Antes dominada por tons de
marrom, a rua Paraíba, na favela
de Heliópolis, está coberta por cores vivas e se tornou motivo de orgulho para os moradores. A pintura das casas é uma iniciativa do
arquiteto Ruy Ohtake, que implantou, em maio deste ano, o
projeto A Cor em Heliópolis.
Quatro meses após o início do
trabalho, já foram pintadas 250
das 275 casas que fazem parte do
projeto -a conclusão está prevista para o fim do mês.
A casa da conselheira tutelar Solange da Cruz, 38, situada na rua
da Mina -que também participa
do programa- é uma das poucas
que ainda não foram pintadas. Ela
se diz "ansiosa" para receber as
cores que ela e o marido escolheram. "A rua era muito cinza. Agora é alegre, parece um arco-íris."
A rua da Mina é ponto agitado
de comércio e abriga a sede de
uma organização comunitária, a
UNAS (União de Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco). A rua Paraíba fica logo ao
lado. Sem saída, é pouco movimentada no dia a dia, mas é palco
das principais festas organizadas
pela vizinhança.
As tintas utilizadas no projeto
foram patrocinadas pela Suvinil e
os salários dos pintores -moradores da favela treinados para
executar o desenho de Ohtake-,
pelo banco Panamericano.
Um dos pintores, Gilvan da Silva, 41, diz que a rua era triste, com
casas sem reboco ou com tintas
desgastadas. Ele e seis colegas dizem que são procurados por moradores dos arredores que perguntam se suas ruas serão beneficiada. "É bom pra população, mas
também pra gente, que consegue
trabalho. Quero ver Heliópolis todinha colorida", afirma.
Para a dona-de-casa Gilda Campos, 46, vizinha de Sabino, a pintura "valorizou" a região. Ela escolheu a cor verde para sua casa,
que antes era coberta apenas por
cal. Seu filho Marcelo Campos, 16,
também gostou do resultado, mas
cobra outras melhorias na rua,
como a colocação de lâmpadas
nos postes.
Mais à frente, no fim da rua,
uma casa de dois andares chama a
atenção pelos tons fortes de amarelo e salmão com algumas faixas
brancas, uma das marcas do projeto de Ohtake. Seu morador, Gilson Sampaio, 28, disse que muitas
residências não tinham numeração, introduzida com tinta branca
pelos pintores.
Já Adeir Barbosa, desempregado, foi um dos poucos moradores
que não permitiram que sua casa,
na rua da Mina, fosse pintada. "A
tinta é boa, mas não gosto da
combinação de várias cores na
mesma fachada", reclama.
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