São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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PATRIMÔNIO ABANDONADO

Nem a prefeitura sabe explicar como equipamento enferrujado foi parar no local

"Catraca invisível" ocupa lugar de estátua no Arouche

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Sem que ninguém saiba como -e muito menos o por quê- uma catraca enferrujada foi colocada em cima de um pedestal no largo do Arouche (centro de SP), local antes ocupado pelo busto do escritor Guilherme de Almeida (1890-1969). É o "monumento à catraca invisível", informa uma placa preta com moldura e letras douradas, colocada abaixo do objeto, onde ainda se lê: "Programa para a descatracalização da vida. Julho de 2004".
A estátua fica bem em frente à Academia Paulista de Letras, ao lado da escultura "Depois do Banho", de Victor Brecheret, e de mais quatro pedestais, um deles também sem o busto de bronze.
Mas nem mesmo a Prefeitura de São Paulo consegue explicar o que aconteceu. Valéria Valeri, coordenadora da comissão de esculturas do DPH (Departamento do Patrimônio Histórico), órgão da prefeitura, disse que a "presença" da catraca foi constatada em vistoria feita na semana passada e que sua retirada já está sendo providenciada. Ela não informou, porém, quando isso será feito.
Segundo comerciantes e freqüentadores da região, a catraca apareceu há cerca de dois meses, mas o busto foi furtado há anos.
Policiais que trabalham em uma base comunitária móvel da Polícia Militar, do lado oposto da praça, também desconhecem o caso.
"Ridículo é pouco para classificar isso que inventaram de colocar aqui. É coisa de quem não tem o que fazer", acredita Sérgio Lopes, 35, comerciante do mercado de flores do Arouche.
O aposentado Vital Antônio, 55, passa grande parte do dia na praça e achou o novo monumento "sem sentido". "É uma palhaçada. Poderiam ter colocado outro busto no lugar", diz.
Segundo Valéria Valeri, há dificuldades para substituir o material furtado quando se trata de um artista que já morreu e que não deixou moldes, como no caso de Luis Morrone, autor da obra.
A estátua de Guilherme de Almeida, diz ela, não será substituída. "O que a gente faz é um boletim de ocorrência. Podemos eventualmente achar a cabeça, mais isso é muito raro", diz.
De acordo com a coordenadora, é a primeira vez que vê um objeto desse tipo em cima de um pedestal, mas que é comum o furto de estátuas e principalmente de placas de bronze.


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