São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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RETRATO URBANO

De lojas a escolas, os serviços voltados à população infantil têm que se adaptar no Rio e em São Paulo

Bairros mudam com a redução de crianças

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A diminuição na taxa de fecundidade das mulheres paulistanas e cariocas, principalmente em famílias de classe média, está mudando a cara de alguns bairros. Nas duas cidades, no mesmo período em que houve um crescimento da população total, a população infantil, de 0 a 14 anos, teve comportamento inverso.
Em São Paulo, de 1996 a 2004, estimativas da Fundação Seade mostram que a cidade "ganhou" 639 mil novos moradores, mas "perdeu" 52 mil crianças. No Rio de Janeiro, segundo dados dos censos do IBGE, de 1991 a 2000, a população ficou maior em 377 mil habitantes, mas o número de crianças diminuiu 59 mil.
A queda ou aumento da população infantil em cada bairro muda a rotina dos moradores. Em áreas de classe média, com diminuição no número de crianças, estão sobrando áreas de lazer, que são cada vez mais aproveitadas por cachorros. "Tem dia que não vem uma criança aqui. Já cachorro, são uns 300 por dia", disse Jornando Alves Macedo, chefe de segurança e manutenção da praça Morungaba, na região dos Jardins, bairro nobre na zona oeste de São Paulo.
O espaço para lazer que sobra aos cachorros dos Jardins falta às crianças de Cidade Tiradentes. "Em todo lugar que vou, as pessoas me cobram área de lazer", disse o subprefeito Arthur Xavier, que afirma que o bairro precisa do triplo de praças que tem hoje.
A diminuição da taxa de fecundidade, no entanto, não foi homogênea em todos os bairros. Como ela varia de acordo com a renda e a escolaridade da mulher, há bairros que "perderam" em menos de dez anos mais de 5.000 crianças, enquanto outros ganharam mais de 10.000 no mesmo período.
No Rio, o crescimento foi concentrado na zona oeste, principalmente nas regiões administrativas de Campo Grande (15 mil crianças a mais), Barra (12 mil) e Guaratiba (11 mil), enquanto as regiões do Méier (queda de 17 mil), na zona norte, e Botafogo (-10 mil), na zona sul, foram as que mais diminuíram.
No caso de São Paulo, a divisão entre os bairros que perderam e ganharam crianças deixa claro que o crescimento ocorreu em bairros mais pobres da periferia, enquanto a diminuição ficou concentrada nos distritos mais próximos da região central da cidade. No entanto, a Vila Medeiros, na zona norte, foi o que mais perdeu crianças: 7.337 de 1996 a 2004.
Em termos proporcionais, porém, a maior queda é verificada em Itaim Bibi (zona oeste), com redução de 5,8% ao ano. Já a região onde há menos crianças em relação ao total da população é o Jardim Paulista (zona oeste), onde apenas 10,7% dos moradores têm menos de 15 anos.
No outro extremo, o distrito de Grajaú (zona sul) teve sua população de crianças no período aumentada em 32 mil. Foi o maior aumento em números absolutos, seguido de Cidade Tiradentes (zona leste), com 24 mil crianças.
Em termos proporcionais, o maior aumento foi verificado no Anhangüera (zona norte), que viu mais que dobrar sua população de crianças ao crescer num ritmo de 10% ao ano. Em bairros da zona sul, como Marsilac e Parelheiros, um em cada três moradores tem menos de 15 anos.

Ajuste de tamanho
A oferta de serviços para a população infantil também tem que se adaptar a essa dinâmica demográfica. Com a queda no número de crianças em condições de pagar mensalidades, a solução de muitas escolas foi diminuir de tamanho ou se juntar a concorrentes. Foi o que aconteceu, por exemplo, com as escolas Bem Me quer, Logos e Mater Dei. Elas se juntaram e fundaram o Colégio Cidade de São Paulo, nos Jardins. Em Moema (zona sul), as escolas Novo Ângulo e Novo Esquema desde 2000 atuam juntas.
Por outro lado, o crescimento acelerado da população infantil de baixa renda nas fronteiras da cidade cria um problema para o poder público, que não consegue oferecer escolas no ritmo adequado para atender a demanda.
Outro impacto das mudanças populacionais é percebido no comércio. Ricardo Sayon, diretor-comercial da Ri Happy -maior loja de brinquedos em número de estabelecimentos do Brasil (são 73)- conta que, há 20 anos, todos os lojistas queriam ter um ponto na rua Augusta.
"Era onde estavam quase todas as lojas de criança, pois lá se concentrava a população de maior poder aquisitivo. Hoje, meu público mudou e atinge até a classe D. Minha loja de maior faturamento, por exemplo, é a do shopping Interlagos, na zona sul."
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www.folha.com.br/052451


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