|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RETRATO URBANO
De lojas a escolas, os serviços voltados à população infantil têm que se adaptar no Rio e em São Paulo
Bairros mudam com a redução de crianças
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A diminuição na taxa de fecundidade das mulheres paulistanas e
cariocas, principalmente em famílias de classe média, está mudando a cara de alguns bairros.
Nas duas cidades, no mesmo período em que houve um crescimento da população total, a população infantil, de 0 a 14 anos, teve comportamento inverso.
Em São Paulo, de 1996 a 2004,
estimativas da Fundação Seade
mostram que a cidade "ganhou"
639 mil novos moradores, mas
"perdeu" 52 mil crianças. No Rio
de Janeiro, segundo dados dos
censos do IBGE, de 1991 a 2000, a
população ficou maior em 377 mil
habitantes, mas o número de
crianças diminuiu 59 mil.
A queda ou aumento da população infantil em cada bairro muda a rotina dos moradores. Em
áreas de classe média, com diminuição no número de crianças, estão sobrando áreas de lazer, que
são cada vez mais aproveitadas
por cachorros. "Tem dia que não
vem uma criança aqui. Já cachorro, são uns 300 por dia", disse Jornando Alves Macedo, chefe de segurança e manutenção da praça
Morungaba, na região dos Jardins, bairro nobre na zona oeste
de São Paulo.
O espaço para lazer que sobra
aos cachorros dos Jardins falta às
crianças de Cidade Tiradentes.
"Em todo lugar que vou, as pessoas me cobram área de lazer",
disse o subprefeito Arthur Xavier,
que afirma que o bairro precisa do
triplo de praças que tem hoje.
A diminuição da taxa de fecundidade, no entanto, não foi homogênea em todos os bairros. Como
ela varia de acordo com a renda e
a escolaridade da mulher, há bairros que "perderam" em menos de
dez anos mais de 5.000 crianças,
enquanto outros ganharam mais
de 10.000 no mesmo período.
No Rio, o crescimento foi concentrado na zona oeste, principalmente nas regiões administrativas de Campo Grande (15 mil
crianças a mais), Barra (12 mil) e
Guaratiba (11 mil), enquanto as
regiões do Méier (queda de 17
mil), na zona norte, e Botafogo (-10 mil), na zona sul, foram as que
mais diminuíram.
No caso de São Paulo, a divisão
entre os bairros que perderam e
ganharam crianças deixa claro
que o crescimento ocorreu em
bairros mais pobres da periferia,
enquanto a diminuição ficou concentrada nos distritos mais próximos da região central da cidade.
No entanto, a Vila Medeiros, na
zona norte, foi o que mais perdeu
crianças: 7.337 de 1996 a 2004.
Em termos proporcionais, porém, a maior queda é verificada
em Itaim Bibi (zona oeste), com
redução de 5,8% ao ano. Já a região onde há menos crianças em
relação ao total da população é o
Jardim Paulista (zona oeste), onde apenas 10,7% dos moradores
têm menos de 15 anos.
No outro extremo, o distrito de
Grajaú (zona sul) teve sua população de crianças no período aumentada em 32 mil. Foi o maior
aumento em números absolutos,
seguido de Cidade Tiradentes
(zona leste), com 24 mil crianças.
Em termos proporcionais, o
maior aumento foi verificado no
Anhangüera (zona norte), que viu
mais que dobrar sua população
de crianças ao crescer num ritmo
de 10% ao ano. Em bairros da zona sul, como Marsilac e Parelheiros, um em cada três moradores
tem menos de 15 anos.
Ajuste de tamanho
A oferta de serviços para a população infantil também tem que
se adaptar a essa dinâmica demográfica. Com a queda no número
de crianças em condições de pagar mensalidades, a solução de
muitas escolas foi diminuir de tamanho ou se juntar a concorrentes. Foi o que aconteceu, por
exemplo, com as escolas Bem Me
quer, Logos e Mater Dei. Elas se
juntaram e fundaram o Colégio
Cidade de São Paulo, nos Jardins.
Em Moema (zona sul), as escolas
Novo Ângulo e Novo Esquema
desde 2000 atuam juntas.
Por outro lado, o crescimento
acelerado da população infantil
de baixa renda nas fronteiras da
cidade cria um problema para o
poder público, que não consegue
oferecer escolas no ritmo adequado para atender a demanda.
Outro impacto das mudanças
populacionais é percebido no comércio. Ricardo Sayon, diretor-comercial da Ri Happy -maior
loja de brinquedos em número de
estabelecimentos do Brasil (são
73)- conta que, há 20 anos, todos os lojistas queriam ter um
ponto na rua Augusta.
"Era onde estavam quase todas
as lojas de criança, pois lá se concentrava a população de maior
poder aquisitivo. Hoje, meu público mudou e atinge até a classe
D. Minha loja de maior faturamento, por exemplo, é a do shopping Interlagos, na zona sul."
LEIA MAIS sobre população infantil na
www.folha.com.br/052451
Texto Anterior: Danuza Leão: Gabeira, meu herói da semana Próximo Texto: Irmãs são as únicas crianças em prédio de SP Índice
|