São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2011

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Sites de compras oferecem até desconto em faculdades

Abatimentos chegam a 80% da mensalidade; educadores pedem cautela

Para especialistas é preciso cuidado para não escolher curso por impulso e desistir facilmente dos estudos

FÁBIO TAKAHASHI
PATRÍCIA GOMES

DE SÃO PAULO

Nos moldes de sites como Peixe Urbano e Clickon, que oferecem descontos em depilação ou jantares, empresas têm lançado páginas na internet em que o universitário consegue abatimento de até 80% na mensalidade.
O modelo é visto com ressalvas por educadores, uma vez que o estudante pode escolher o curso por impulso e desistir facilmente.
Para pagar R$ 101 neste ano no curso de pedagogia na Faculdade Sumaré (desconto de 50%) ou ter bolsa de 20% na FMU, ambas em SP, bastava o candidato se cadastrar em um site, imprimir o voucher e levá-lo à instituição de ensino, após aprovação no processo seletivo.
Ao menos 40 mil estudantes que ingressaram em 2011 no ensino superior no país todo conseguiram descontos com esse modelo de site de compras coletivas específicos para a área de educação.
A Folha apurou o número com três empresas do setor, que começou a se expandir há pouco mais de um ano.
A Mais Estudo informou ter dado descontos a 28 mil universitários neste ano. O Movimento Cidadania, 10 mil; e o Clube Educação, 650.
O principal alvo deles é a nova classe média, que pode ter algum gasto com educação superior, mas não suporta as mensalidades normais.
Os sites recebem taxas dos estudantes matriculados (valores variados, de R$ 10 mensais em média). Alguns também cobram das instituições a entrada no sistema.

DEBATE
A modalidade de captação de estudantes é polêmica. De um lado, permite que mais alunos entrem nas faculdades, que colocam à disposição vagas que provavelmente não seriam preenchidas.
Ingressante neste ano no curso de música, Fernanda Pinheiro, 36, afirmou que "se não fosse o desconto, eu não faria faculdade". Ela recebeu bolsa de 46% na Faculdade Mozarteum e agora paga R$ 385 de mensalidade.
"As instituições notaram que esses alunos evadem mais que a média", disse o diretor do Semesp (sindicato das particulares de SP), Rodrigo Capelato. "Muitos escolhem por impulso.
Depois, veem que não têm condições para acompanhar o curso."
Docente da Faculdade de Educação da USP, Romualdo Portela disse que "a medida mostra que a educação transformou-se em mercadoria".
De 35 instituições participantes, quatro têm nível de qualidade abaixo do recomendado pelo Ministério da Educação (FMU, FIP, Fundetec e Unisant'Anna).


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