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AMBIENTE
Aumento de 2,04% na vegetação natural é o primeiro registrado desde 62 e indica mudança na tendência de desmatamento
Depois de 30 anos, mata nativa de SP cresce
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de três décadas de aumento de devastação da vegetação nativa remanescente no Estado de São Paulo, o território verde
paulista parou de encolher. Durante os anos 90, chegou a crescer
2,04%. Na avaliação de especialistas do governo e de ONGs, o fato
indica o início de uma inversão na
tendência do desmatamento. O
desafio agora é mantê-la.
São Paulo ganhou, entre 1990 e
2001, 678 km2 de vegetação nativa,
o que equivale a pouco mais de
duas florestas da Tijuca (RJ),
maior mata urbana do mundo.
Pode parecer pouco, mas é um
avanço quando se percebe a rapidez e as dimensões da destruição
no período anterior, avalia o agrônomo Francisco Kronka, do Instituto Florestal, ligado à Secretaria
de Estado do Meio Ambiente. No
início dos anos 90, a vegetação nativa já havia sido reduzida a pouco menos da metade dos 72,6 mil
km2 existentes em 1962,
Kronka coordenou a elaboração do diagnóstico "Situação
Atual dos Remanescentes da Cobertura Vegetal Natural do Estado de São Paulo". O trabalho integra o Programa Biota, financiado
pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo). Estudos semelhantes foram feitos em 1962, 1971 e 1991.
Entre as causas apontadas pelo
pesquisador para o aumento da
vegetação paulista estão uma fiscalização mais efetiva -sobretudo no litoral, onde estão os maiores remanescentes de mata atlântica-; a implantação de novas
áreas de conservação, como o
Parque Estadual do Rio do Peixe,
no pontal do Paranapanema (extremo oeste de SP); a ampliação
das estações ecológicas de Jataí e
de Assis; a ação das ONGs na formação de uma consciência ambiental mais forte entre as comunidades; e os avanços conseguidos com o PPMA (Programa de
Proteção à Mata Atlântica), financiado em parte pelo banco alemão
KFW (sigla para Banco de Investimentos em Recuperação).
Quase uma ótima notícia
A notícia seria melhor se mostrasse a recuperação vegetal em
todo o Estado, o que não acontece. O estudo dividiu São Paulo em
11 regiões, das quais 5 registraram
crescimento da área verde desde
1990: Vale do Paraíba (26,6%), Litoral (9,6%), São Paulo (6%), Presidente Prudente (3,6%) e Ribeirão Preto (2,5%).
Por outro lado, seis regiões ainda tiveram queda na vegetação
nativa: Araçatuba (20,8%), São
José do Rio Preto (16%), Bauru
(13,3%), Marília (10,8%), Sorocaba (6,4%) e Campinas (3,7%).
O mais grave é que, à exceção de
Sorocaba, as reduções mais significativas ocorreram justamente
onde a extensão das áreas verdes
já era menor em 1990.
Também em relação ao tipo de
vegetação, as matas e capoeiras
(consideradas um estágio inicial
na formação das florestas) cresceram, juntas, 1,32%, enquanto os
cerrados e campos diminuíram,
no total, 27,8%. Já as vegetações
de mangue, várzea e restinga (típica do litoral) tiveram um aumento registrado mais em razão
do progresso tecnológico das formas de detecção do que da preservação propriamente dita.
Próximos passos
Por tudo isso, ainda não é hora
para contar vantagem, na avaliação de Márcia Hirota, diretora de
Projetos da Fundação SOS Mata
Atlântica e coordenadora do Atlas
dos Remanescentes Florestais da
Mata Atlântica (que terá uma edição atualizada até o fim do ano).
Para Márcia, o pequeno crescimento verificado pelo estudo do
Instituto Florestal se deve mais a
uma diminuição no ritmo de desmatamento -que deu espaço para a regeneração natural das áreas
que deixaram de ser destruídas-
do que às ações de recuperação e
reflorestamento em si.
"A manutenção dessa tendência
positiva depende de trabalho efetivo e casado do poder público e
das ONGs. O desmatamento não
parou, é preciso ficar atento a isso.
Nosso objetivo é um desmatamento zero, mas não sei quando
vamos conseguir isso", diz.
Márcia acrescenta que a redução na degradação da mata atlântica também se verificou no Rio
Grande do Sul e em outros Estados onde há remanescentes.
"Sem dúvida há mais conscientização por parte das pessoas, o
que faz com que devastem menos
e é, em grande parte, mérito das
ONGs. Por outro lado, as leis também ficaram mais rígidas e há
maior controle. Mas dá até medo
de dizer que está melhor porque
pode dar uma idéia de que é possível destruir um pouco mais."
Na opinião de Márcia, merecem
atenção especial, a partir de agora,
as áreas no entorno das regiões de
preservação e as matas ciliares (ao
longo dos corpos d'água). "Temos também de pensar na conectividade dos fragmentos de mata,
buscando implantar corredores
verdes entre eles", diz Kronka.
Os maiores remanescentes de
vegetação nativa se concentram
no litoral do Estado e na região de
Sorocaba, que detêm, respectivamente, 34,2% e 21% de toda a vegetação natural de São Paulo.
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