São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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AMBIENTE

Aumento de 2,04% na vegetação natural é o primeiro registrado desde 62 e indica mudança na tendência de desmatamento

Depois de 30 anos, mata nativa de SP cresce

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de três décadas de aumento de devastação da vegetação nativa remanescente no Estado de São Paulo, o território verde paulista parou de encolher. Durante os anos 90, chegou a crescer 2,04%. Na avaliação de especialistas do governo e de ONGs, o fato indica o início de uma inversão na tendência do desmatamento. O desafio agora é mantê-la.
São Paulo ganhou, entre 1990 e 2001, 678 km2 de vegetação nativa, o que equivale a pouco mais de duas florestas da Tijuca (RJ), maior mata urbana do mundo.
Pode parecer pouco, mas é um avanço quando se percebe a rapidez e as dimensões da destruição no período anterior, avalia o agrônomo Francisco Kronka, do Instituto Florestal, ligado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente. No início dos anos 90, a vegetação nativa já havia sido reduzida a pouco menos da metade dos 72,6 mil km2 existentes em 1962,
Kronka coordenou a elaboração do diagnóstico "Situação Atual dos Remanescentes da Cobertura Vegetal Natural do Estado de São Paulo". O trabalho integra o Programa Biota, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Estudos semelhantes foram feitos em 1962, 1971 e 1991.
Entre as causas apontadas pelo pesquisador para o aumento da vegetação paulista estão uma fiscalização mais efetiva -sobretudo no litoral, onde estão os maiores remanescentes de mata atlântica-; a implantação de novas áreas de conservação, como o Parque Estadual do Rio do Peixe, no pontal do Paranapanema (extremo oeste de SP); a ampliação das estações ecológicas de Jataí e de Assis; a ação das ONGs na formação de uma consciência ambiental mais forte entre as comunidades; e os avanços conseguidos com o PPMA (Programa de Proteção à Mata Atlântica), financiado em parte pelo banco alemão KFW (sigla para Banco de Investimentos em Recuperação).

Quase uma ótima notícia
A notícia seria melhor se mostrasse a recuperação vegetal em todo o Estado, o que não acontece. O estudo dividiu São Paulo em 11 regiões, das quais 5 registraram crescimento da área verde desde 1990: Vale do Paraíba (26,6%), Litoral (9,6%), São Paulo (6%), Presidente Prudente (3,6%) e Ribeirão Preto (2,5%).
Por outro lado, seis regiões ainda tiveram queda na vegetação nativa: Araçatuba (20,8%), São José do Rio Preto (16%), Bauru (13,3%), Marília (10,8%), Sorocaba (6,4%) e Campinas (3,7%).
O mais grave é que, à exceção de Sorocaba, as reduções mais significativas ocorreram justamente onde a extensão das áreas verdes já era menor em 1990.
Também em relação ao tipo de vegetação, as matas e capoeiras (consideradas um estágio inicial na formação das florestas) cresceram, juntas, 1,32%, enquanto os cerrados e campos diminuíram, no total, 27,8%. Já as vegetações de mangue, várzea e restinga (típica do litoral) tiveram um aumento registrado mais em razão do progresso tecnológico das formas de detecção do que da preservação propriamente dita.

Próximos passos
Por tudo isso, ainda não é hora para contar vantagem, na avaliação de Márcia Hirota, diretora de Projetos da Fundação SOS Mata Atlântica e coordenadora do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica (que terá uma edição atualizada até o fim do ano).
Para Márcia, o pequeno crescimento verificado pelo estudo do Instituto Florestal se deve mais a uma diminuição no ritmo de desmatamento -que deu espaço para a regeneração natural das áreas que deixaram de ser destruídas- do que às ações de recuperação e reflorestamento em si.
"A manutenção dessa tendência positiva depende de trabalho efetivo e casado do poder público e das ONGs. O desmatamento não parou, é preciso ficar atento a isso. Nosso objetivo é um desmatamento zero, mas não sei quando vamos conseguir isso", diz.
Márcia acrescenta que a redução na degradação da mata atlântica também se verificou no Rio Grande do Sul e em outros Estados onde há remanescentes.
"Sem dúvida há mais conscientização por parte das pessoas, o que faz com que devastem menos e é, em grande parte, mérito das ONGs. Por outro lado, as leis também ficaram mais rígidas e há maior controle. Mas dá até medo de dizer que está melhor porque pode dar uma idéia de que é possível destruir um pouco mais."
Na opinião de Márcia, merecem atenção especial, a partir de agora, as áreas no entorno das regiões de preservação e as matas ciliares (ao longo dos corpos d'água). "Temos também de pensar na conectividade dos fragmentos de mata, buscando implantar corredores verdes entre eles", diz Kronka.
Os maiores remanescentes de vegetação nativa se concentram no litoral do Estado e na região de Sorocaba, que detêm, respectivamente, 34,2% e 21% de toda a vegetação natural de São Paulo.


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