UOL


São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRIME ORGANIZADO

Operação que investigou o jogo do bicho consumiu nove meses; relatório vai à Justiça na próxima semana

Polícia do Espírito Santo indicia 97 pessoas

TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA

Após nove meses de trabalho, a polícia do Espírito Santo concluiu as investigações sobre a ligação entre o jogo do bicho e o crime organizado no Estado. Foram indiciadas 97 pessoas e 76 tiveram sugerido o pedido de prisão.
Os indiciamentos são o primeiro passo para que os investigados pela Operação Águia, como foi chamada a ação da Polícia Civil, tenham sua prisão decretada.
A lista de nomes é mantida em sigilo pela polícia. Na próxima semana, o relatório completo sobre o caso será encaminhado à Justiça e ao Ministério Público.
Pessoas que ocuparam cargos público figuram na lista. Foi pedido que processos de improbidade administrativa sejam abertos.
As investigações iniciadas há nove meses já acabaram com as atividades de 23 bancas de jogo do bicho em 46 cidades do Estado.
"Focamos as investigações no jogo do bicho porque é ele que sustenta a lavagem de dinheiro do crime organizado. Levantamos nomes que refletem apenas um pálido pano de fundo de uma verdadeira organização criminosa que atua em outros Estados", disse o delegado André Luiz Cunha, que coordenou as investigações.
O inquérito, que está sendo feito em conjunto com a Secretaria da Segurança e com o Grupo de Combate à Criminalidade, tem 41 volumes e mais de 9.600 páginas.
O próximo passo será a análise dos nomes pelos promotores de Justiça do Estado, que devem pedir a prisão e o bloqueio de bens dos envolvidos. "O objetivo é desarticular o crime organizado no Estado em sua vertente do jogo do bicho", disse o delegado Cunha.
O secretário da Segurança Pública, Rodney Rocha Miranda, avalia que os trabalhos de investigação servirão para desarticular um dos principais elementos do crime organizado.
"Se possível, queremos dar a outros Estados subsídios para implementar as suas próprias operações de desarticulação do jogo do bicho. É óbvio que o jogo tem ramificações em outros Estados", afirmou o secretário.
O jogo do bicho foi o capitalizador, durante a década de 80 e início dos anos 90, do crime organizado no Espírito Santo, segundo o secretário. Entre outros casos, teria sido o trampolim financeiro para o ex-deputado e ex-presidente da Assembléia Legislativa do Estado José Carlos Gratz (sem partido) ascender na política.
Muitos dos nomes da lista estão envolvidos com crimes na administração pública.
"A situação é bem mais complexa do que parece", declarou o secretário.

Outro lado
"O Gratz se desligou totalmente do jogo do bicho há 14 anos, quando assumiu o seu primeiro cargo público. Ele nunca escondeu que havia sido bicheiro, mas encerrou todas as suas atividades nessa área", disse Homero Mafra, advogado de Gratz.


Colaborou MAURO ALBANO, da Agência Folha


Texto Anterior: TV: Justiça nega prisão de acusado no caso Gugu
Próximo Texto: Para advogado, investigação é só o primeiro passo
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.