São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2005

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AMBIENTE

Cetesb lacrou ontem mais 12 poços artesianos de empresas da região, que foram atingidos por substâncias tóxicas

Aumenta área contaminada na zona sul

FERNANDA BASSETTE
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

A contaminação do aqüífero (reservatório de água subterrânea) da zona sul de São Paulo está cada vez maior e já atinge 19 poços artesianos de 15 empresas instaladas na região.
Ontem, 12 poços artesianos de nove empresas foram interditados porque a água está contaminada com solventes clorados.
A contaminação da água subterrânea foi descoberta em 2001, depois que a Gillette do Brasil fez uma autodenúncia apontando a presença de substâncias tóxicas na água e no solo do terreno que adquiriu da Duracell, em 1996.
Os solventes são substâncias tóxicas que podem provocar danos nos rins, no fígado e no sistema nervoso central, além de serem potencialmente cancerígenos.
As empresas dizem que nunca utilizaram essa água para consumo humano e sim apenas no processo interno industrial, como limpeza de banheiros e equipamentos, irrigação, fabricação de cimento e lavagem de carros.
O risco, no entanto, não está restrito ao consumo dessa água. Em recente entrevista à Folha, Neusa Akemi Niwa Beserra, gerente do setor de química orgânica da Cetesb, explicou que esses solventes são voláteis e penetram facilmente na pele, podendo causar danos à saúde das pessoas que tiveram contato com essa água regularmente e a longo prazo.
Foram lacrados os poços das empresas Avon Industrial, Baxter Hospitalar, Biosintética Farmacêutica, Camargo Corrêa Cimentos, Cnaga (Companhia Nacional de Armazéns Gerais Alfandegados), Drava Metais, Senac, STI-Sadalla Tecnologia Industrial e do Auto Posto 102.
A análise da água apontou a presença de cloreto de vinila, dicloroetano, dicloroeteno, tetracloroeteno e tricoloeteno. Essas substâncias são usadas na fabricação de plástico e também para lustrar metais.

Concentração
A Cetesb se negou a fornecer os laudos que apontavam a concentração dos solventes na água. Apesar de a informação ser pública, Lineu José Bassoi, diretor de engenharia, tecnologia e qualidade ambiental da Cetesb, disse que a decisão de não informar os dados partiu da presidência.
A única informação passada pela Cetesb foi que a concentração de solventes em um dos poços está 20 vezes acima do limite permitido pelo Ministério da Saúde.
"Os órgãos públicos responsáveis pela tomada de medidas receberam os laudos e já tomaram as medidas. Eu queria poder entregar essas informações, só que neste momento eu não estou autorizado a isso", disse Bassoi.
Bassoi admite que a extensão da contaminação é preocupante. "Não é só na região ao redor da Gillette que existem problemas. A gente acredita que há outros focos de contaminação."
Leila de Carvalho Gomes, diretora de outorga do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo), disse que, se as empresas continuarem a usar a água dos poços, elas podem ser punidas com multa.


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