São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EDUCAÇÃO

Para não perder alunos, instituições particulares admitem negociar valor de mensalidades; pedidos crescem até 30%

Pais pressionam escolas por descontos

BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em tempo de crise, a pressão dos pais por descontos nas mensalidades das escolas particulares de São Paulo está em alta. Do outro lado do balcão, tentando não perder alunos, as escolas se dizem mais dispostas a negociar.
No Colégio Domus Sapientiae, no Itaim (zona oeste), o número de pedidos de desconto feitos até agora é 15% maior do que o total do ano passado. No Montessori Santa Terezinha, no Jabaquara (zona sul), o aumento foi de 30%.
"Temos visto os pedidos [de desconto] com melhores olhos", afirma Maurício Tricate, diretor-administrativo do Colégio Magno - Mágico de Oz.
O tradicional Colégio Visconde de Porto Seguro também informa que houve aumento no número de solicitações de desconto, mas a escola ainda não tem estatísticas.
"A família ganha um alívio, e a escola, além de ser solidária, ganha equilíbrio, pois acaba mantendo bons alunos", diz Celina Kattini, diretora da unidade Morumbi do colégio.
No Magno, segundo a direção, cerca de 50% dos pais que conseguem os benefícios dispensam a concessão assim que conseguem equilibrar o orçamento.
"Analisamos cada caso com atenção e critério. Existe o caráter do investimento, mas a grande coisa é a responsabilidade social."
Entre os atuais alunos do Magno, 68,4% já reservaram vaga para 2003 -6% a mais do que na reserva para este ano. O colégio, porém, ainda não divulgou o valor da anuidade para o ano que vem.
A indefinição de valores, segundo o Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo), atinge cerca de 80% das escolas do Estado.
Não há ilegalidade no procedimento, mas ele revela que o setor está apreensivo com seus resultados e vai esperar até o último minuto para fixar seus preços, que devem ser divulgados até 45 dias antes do fim das matrículas.
Por um lado, as escolas precisam trabalhar com estimativas e definir agora o reajuste para o ano que vem, pois aumentos no decorrer do ano letivo são proibidos. Por outro, sabem que um aumento excessivo vai afugentar ainda mais a clientela.
Por conta da inadimplência e do crescimento do número de instituições privadas, cerca de 1.500 (25%) das 6.000 escolas pagas do Estado podem fechar as portas até o final do próximo ano.
Para evitar a debandada, outra tendência nas escolas particulares para as mensalidades de 2003 é a concessão de um número maior de pequenos descontos.
"A gente vai tentar atender ao maior número de pessoas", diz João Carlos Martins, diretor do sistema integrado que administra o Domus e o Santa Terezinha.
No sistema, cerca de 70% dos alunos já se matricularam, apesar de o prazo terminar no fim de novembro. "É ceder um pouco para equilibrar as contas."
O aumento do número de pedidos exige que as escolas sejam mais cuidadosas na seleção dos beneficiados. "Há um momento em que a escola tem de estender a mão. Mas estou bem mais rígida [na seleção]", conta a diretora-geral do Pueri Domus, Fernanda Zocchio Semeoni.
O colégio exige que o pedido de desconto ou de bolsa seja fundamentado com comprovação de renda e contas de luz e telefone.
Segundo o presidente do Sieeesp, José Augusto de Mattos Lourenço, as escolas vão trabalhar com orçamentos apertados para não perder alunos, mas devem estudar com cuidado os limites dos descontos. "É natural do brasileiro pedir desconto. As escolas estão fazendo, mas isso não deve ser uma regra."


Texto Anterior: Mairinque: Após depredação, três bairros ficam sem água
Próximo Texto: Mateus, 4, já mudou de colégio quatro vezes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.