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JOSÉ PEREIRA DA SILVA
(1943-2009)
O cearense Zé Oliveira, sua rabeca e sua cegueira
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
José Pereira da Silva, vulgo
Zé Oliveira, balançava com o
carro, sentindo o sobe e desce
dos morros e o fazer das curvas. O que sabia da geografia
de Juazeiro do Norte (CE) lhe
permitia indicar ao motorista
o caminho exato até a casa do
pai, na zona rural da cidade.
Ele foi cego de nascença e
filho de Pedro Pereira da Silva, o Cego Oliveira, músico
capaz de cantarolar de memória cerca de 150 cordéis.
Além de lhe transmitir a
doença, o pai lhe ensinou o
manejo da rabeca. Na terra de
padre Cícero, ambos ficaram
conhecidos pela música que
tiravam daquele instrumento
parecido com um violino.
Foi aos 11 que Zé aprendeu
a arte com o pai. Manjava
também de violão e até "fazia
uma zoada boa na sanfona",
conta a mulher, Apolônia Jesus da Silva, a dona Zuzinha.
Coisa que ele gostava muito
era viajar por aí, para se apresentar. Na companhia da mulher, andou por cidades do
Nordeste, por São Paulo e Rio.
Participou ainda de mais de
20 filmes. Em sua cidade, costumava tocar em feiras.
Nos últimos tempos, o movimento das mãos foi se esvaindo. Há alguns meses, teve
um AVC (acidente vascular
cerebral). Vaninha, filha de
criação, diz que Zé estava esquecido, sem fazer shows.
Em seu último dia de vida,
na quinta-feira da semana
passada, ainda cantou; assobiou. Foi se deitar e acordou
no dia seguinte em "outro
mundo", nas palavras da mulher. Morreu do coração, aos
66, pobre, como o pai -que
morreu no fim da década de
90-, e no ostracismo.
coluna.obituario@uol.com.br
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