São Paulo, sexta-feira, 04 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JOSÉ PEREIRA DA SILVA
(1943-2009)


O cearense Zé Oliveira, sua rabeca e sua cegueira

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

José Pereira da Silva, vulgo Zé Oliveira, balançava com o carro, sentindo o sobe e desce dos morros e o fazer das curvas. O que sabia da geografia de Juazeiro do Norte (CE) lhe permitia indicar ao motorista o caminho exato até a casa do pai, na zona rural da cidade.
Ele foi cego de nascença e filho de Pedro Pereira da Silva, o Cego Oliveira, músico capaz de cantarolar de memória cerca de 150 cordéis.
Além de lhe transmitir a doença, o pai lhe ensinou o manejo da rabeca. Na terra de padre Cícero, ambos ficaram conhecidos pela música que tiravam daquele instrumento parecido com um violino.
Foi aos 11 que Zé aprendeu a arte com o pai. Manjava também de violão e até "fazia uma zoada boa na sanfona", conta a mulher, Apolônia Jesus da Silva, a dona Zuzinha.
Coisa que ele gostava muito era viajar por aí, para se apresentar. Na companhia da mulher, andou por cidades do Nordeste, por São Paulo e Rio.
Participou ainda de mais de 20 filmes. Em sua cidade, costumava tocar em feiras.
Nos últimos tempos, o movimento das mãos foi se esvaindo. Há alguns meses, teve um AVC (acidente vascular cerebral). Vaninha, filha de criação, diz que Zé estava esquecido, sem fazer shows.
Em seu último dia de vida, na quinta-feira da semana passada, ainda cantou; assobiou. Foi se deitar e acordou no dia seguinte em "outro mundo", nas palavras da mulher. Morreu do coração, aos 66, pobre, como o pai -que morreu no fim da década de 90-, e no ostracismo.

coluna.obituario@uol.com.br


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Exército e Correios agora guardam provas do Enem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.