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URBANIDADE
O jardim escondido de Burle Marx
SÃO PAULO COSMOPOLITA
No Copan, no andar em que os "brise-soleils" se interrompem para sincopar o ritmo horizontal da fachada, Karen e Dayanne dividem um apartamento. Karen é californiana. Dayanne, brasileira, vem da mistura de polonês com espanhol e negro. Filha única, costumava perguntar à mãe por que sua prima, loira, era tão diferente dela. Uma nasceu de dia e outra nasceu de noite -era a resposta. (VINCENZO SCARPELLINI)
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
No cruzamento da
avenida Paulista com a
alameda Ministro Rocha Azevedo, existe um estacionamento
com uma área de mata atlântica
inacessível aos pedestres. Aquele
trecho de desperdício ecológico,
onde poderia surgir uma aprazível praça, é uma anti-homenagem a Burle Marx, morto em
1994, o maior nome do paisagismo brasileiro.
Antes de se transformar num
estacionamento, o terreno abrigava a mansão Vila Fortunata,
depois demolida, onde, em 1909,
nasceu Burle Marx. Sua mãe,
Cecília Burle, levava-o diariamente ao jardim e transmitiu-lhe a paixão pelas plantas.
O menino ajudava a preservar
rosas, tinhorões, begônias, antúrios, gladíolos. Com a babá,
aprendeu a cultivar canteiros e a
observar a germinação de sementes. Em suas memórias, ele
afirmava que aquele contato
com a natureza serviu de estufa
para sua paixão pelo paisagismo. A metamorfose das plantas
parecia magia.
Burle Marx fez de sua vida
uma experiência de transformação de espaços públicos em áreas
de beleza e de convivência, mas,
ironicamente, ganhou de São
Paulo um estacionamento, encalacrando a mata atlântica. O
presidente da Associação Paulista Viva, Nelson Baeta, nascido e
criado naquelas imediações,
quando as calçadas viviam
acarpetadas de folhas de ipê,
reage: "Uma cidade sem área
verde e estressante dá-se ao luxo
de abandonar e desprezar uma
área de lazer".
Já começaram as articulações
para tentar convencer o governo
do Rio de Janeiro, dono do terreno, a presentear a cidade, que,
em janeiro de 2004, completará
450 anos. Ao lado, há uma mansão (a primeira da avenida Paulista) abandonada, em ruínas,
propriedade do governo de São
Paulo. "Poderiam recuperar a
mansão, transformá-la num
museu e incorporar a mata
atlântica", defende Baeta.
Para Baeta, a avenida Paulista
é um entre tantos exemplos de
degradação ecológica da cidade.
"As pessoas se deparam com
montanhas de lixo", reclama.
Ele quer lançar neste ano um
programa comandado por jovens, devidamente remunerados, uma espécie de batalhão de
educação ambiental. Eles tratariam de chamar a atenção de
quem atira papel no chão. O jovem vai pegar o lixo, jogá-lo na
lixeira, mas antes dizer polidamente ao transgressor: "O senhor deixou cair no chão".
E-mail - gdimen@uol.com.br
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