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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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URBANIDADE

O jardim escondido de Burle Marx

SÃO PAULO COSMOPOLITA
No Copan, no andar em que os "brise-soleils" se interrompem para sincopar o ritmo horizontal da fachada, Karen e Dayanne dividem um apartamento. Karen é californiana. Dayanne, brasileira, vem da mistura de polonês com espanhol e negro. Filha única, costumava perguntar à mãe por que sua prima, loira, era tão diferente dela. Uma nasceu de dia e outra nasceu de noite -era a resposta. (VINCENZO SCARPELLINI)


GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

No cruzamento da avenida Paulista com a alameda Ministro Rocha Azevedo, existe um estacionamento com uma área de mata atlântica inacessível aos pedestres. Aquele trecho de desperdício ecológico, onde poderia surgir uma aprazível praça, é uma anti-homenagem a Burle Marx, morto em 1994, o maior nome do paisagismo brasileiro.
Antes de se transformar num estacionamento, o terreno abrigava a mansão Vila Fortunata, depois demolida, onde, em 1909, nasceu Burle Marx. Sua mãe, Cecília Burle, levava-o diariamente ao jardim e transmitiu-lhe a paixão pelas plantas.
O menino ajudava a preservar rosas, tinhorões, begônias, antúrios, gladíolos. Com a babá, aprendeu a cultivar canteiros e a observar a germinação de sementes. Em suas memórias, ele afirmava que aquele contato com a natureza serviu de estufa para sua paixão pelo paisagismo. A metamorfose das plantas parecia magia.
Burle Marx fez de sua vida uma experiência de transformação de espaços públicos em áreas de beleza e de convivência, mas, ironicamente, ganhou de São Paulo um estacionamento, encalacrando a mata atlântica. O presidente da Associação Paulista Viva, Nelson Baeta, nascido e criado naquelas imediações, quando as calçadas viviam acarpetadas de folhas de ipê, reage: "Uma cidade sem área verde e estressante dá-se ao luxo de abandonar e desprezar uma área de lazer".
Já começaram as articulações para tentar convencer o governo do Rio de Janeiro, dono do terreno, a presentear a cidade, que, em janeiro de 2004, completará 450 anos. Ao lado, há uma mansão (a primeira da avenida Paulista) abandonada, em ruínas, propriedade do governo de São Paulo. "Poderiam recuperar a mansão, transformá-la num museu e incorporar a mata atlântica", defende Baeta.
Para Baeta, a avenida Paulista é um entre tantos exemplos de degradação ecológica da cidade. "As pessoas se deparam com montanhas de lixo", reclama. Ele quer lançar neste ano um programa comandado por jovens, devidamente remunerados, uma espécie de batalhão de educação ambiental. Eles tratariam de chamar a atenção de quem atira papel no chão. O jovem vai pegar o lixo, jogá-lo na lixeira, mas antes dizer polidamente ao transgressor: "O senhor deixou cair no chão".

E-mail - gdimen@uol.com.br


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