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SAÚDE
Hospital planeja, ainda neste mês, só agendar consultas por meio de postos de saúde; prefeitura diz que não há prazo
HC quer deixar de atender casos simples
FABIANE LEITE
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O maior hospital da América
Latina, o Hospital das Clínicas de
São Paulo, quer eliminar os atendimentos de casos simples.
A idéia, que a superintendência
planeja implantar neste mês, é
acabar, primeiro, com a possibilidade de os próprios pacientes
marcarem suas consultas pelo telefone. Os agendamentos só serão
feitos via postos de saúde. O hospital realiza 1,5 milhão de atendimentos ambulatoriais por ano.
Há alguns anos, a fila das consultas ficava na calçada da unidade, na zona oeste de São Paulo.
Depois, o agendamento passou a
ser feito por telefone. No futuro, o
número será extinto e haverá uma
linha só para que os postos de
saúde façam a marcação. A proposta é que mandem ao HC somente casos graves, como uma
suspeita de câncer.
Um total de 20 mil ligações diárias, de pessoas em busca de uma
consulta, sobrecarregam as linhas
telefônicas do hospital.
O HC, vinculado à Faculdade de
Medicina da USP, é certamente
um dos maiores "funis" da saúde
pública do país.
Do total de ligações, 5% são
completadas. Dessas, apenas 1%
conseguem uma vaga. Apenas
dez, portanto, resultam em agendamento de consulta, muitas vezes para muitos meses à frente. E
quem consegue ainda tem de enfrentar problemas dentro do hospital.
Segundo Waldemir Rezende,
diretor-executivo do Instituto
Central do HC, clínicas como as
de ginecologia, urologia e endocrinologia já estão sobrecarregadas, principalmente de casos que
poderiam ser atendidos nos postos de saúde. As consultas são
marcadas para dali a seis meses
ou mais. "Estou esgotando tudo
com o atendimento primário. A
mulher vem colher um papanicolao [exame ginecológico básico],
quando temos casos de câncer na
fila." Para ele, as mudanças melhorarão o atendimento geral.
Como é o próprio paciente que
marca a consulta, muitas vezes há
ainda erros no encaminhamento,
que também engordam a fila, diz.
Exemplo: o doente agenda um
dermatologista quando deveria
ser atendido pelo clínico-geral.
A situação, afirma Rezende, reflete a desorganização da rede. O
hospital, de nível terciário, que
deveria atender somente casos
graves, tornou-se um grande posto de saúde, resume.
Prefeitura
A proposta poderá encontrar
obstáculo na prefeitura, gestora
da rede. A Secretaria da Saúde,
procurada para informar se os
postos terão condições de fazer os
encaminhamentos ao hospital,
informou que "não foi informada" da intenção do HC, subordinado à secretaria estadual, de fazer a alteração já. Disse que "existem conversas". A mudança deve
acontecer, segundo a secretaria,
mas não tem prazo.
O hospital planeja a mudança
no atendimento há um ano, diz o
superintendente do HC, José Manoel de Camargo Teixeira, e várias reuniões foram realizadas
com a prefeitura. Segundo Teixeira, o hospital tem autonomia para
mudar a forma de agendamento.
"Mas não é intenção fazer nada de
forma isolada. Queremos o melhor para o paciente." Serão realizadas novas reuniões com a prefeitura para tentar acertar a mudança para este mês, diz.
"Não é melhor o município e o
Estado se organizarem, de forma
adequada? Ou vamos deixar a situação atual?", diz Rezende, que
destaca que a idéia da mudança
segue os princípios de hierarquização e regionalização do SUS
(Sistema Único de Saúde).
Para Paulo Eduardo Elias, professor de medicina preventiva da
Faculdade de Medicina da USP, o
ideal seria colocar os grandes hospitais como organizadores da rede de saúde, idéia de Eduardo Jorge, ex-secretário municipal.
"Quando recebesse um paciente que poderia ser atendido num
hospital local, o HC entraria em
contato com esse hospital e agendaria uma consulta", diz Elias. "O
hospital seria responsável ainda
pelos postos do seu círculo."
Caberia ao Estado e ao município, afirma, uma campanha para
que os pacientes procurassem
primeiro os postos de saúde.
Tal mudança implicaria equipar
e garantir médicos para aquelas
unidades, de tal forma que a população voltasse a confiar no posto de saúde. "A população sabe
bem o que faz. Só vai a lugares em
que será atendida."
"Há muito tempo o hospital já
faz uma retração das consultas",
diz Evelin Castro Sá, professora
aposentada de políticas de planejamento e administração de saúde
da Faculdade de Saúde Pública da
USP. "O que precisa é reforçar o
atendimento básico."
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