São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004

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SAÚDE

Carlos já fez duas cirurgias e espera terceira; queixas comuns de pacientes são perda de prontuário e falta de remédio

Menino já passou por 20 médicos no HC

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de repetidas infecções no ouvido e de percorrer os postos de saúde e hospitais da região, o menino Carlos Augusto Ribeiro da Silva foi aceito como paciente no Hospital das Clínicas. Era 1998 e ele tinha sete anos.
Para a mãe e doméstica Marinalva Ribeiro da Silva, 35, o filho agora estaria a salvo nas mãos da prestigiada equipe do HC. Desde então, Carlinhos já fez duas cirurgias, está há quase dois anos esperando uma terceira, e a infecção atingiu também o outro ouvido. Nos últimos meses, começaram a cair seus dentes.
Na última consulta na otorrinolaringologia do HC, a médica residente nem sequer abriu a radiografia que fora conseguida depois de seis meses. "Nem falei dos dentes caindo porque ela não prestava atenção", diz a mãe.
Nesses anos, Nalva, como é conhecida, já passou com o filho por pelo menos 20 médicos diferentes do HC -as equipes de residentes mudam a cada três ou seis meses. A mãe não sabe o nome de nenhum dos médicos nem qual doença o filho tem. "A última médica mandou esperar em casa. Quando tiver vaga para a cirurgia, vão telefonar para a vizinha."
Nalva, que tem dois outros filhos menores, mora com a mãe num cômodo que ela mesma construiu na periferia do Embu, na Grande São Paulo. Ela perdeu o marido e um irmão em 1996.
Por causa do cheiro do pus que escorre do ouvido de Carlinhos, ela foi obrigada a abrir uma pequena janela para que a família pudesse respirar dentro do cômodo. Na escola, os colegas já não brincam com ele.
Numa das últimas consultas, não encontraram o prontuário de Carlinhos. "Muitas vezes fiquei na sala de espera a tarde inteira, o menino com fome, até que alguém vinha dizer que o médico não veio naquele dia."
Como o resultado dos exames são demorados, as equipes mudam e os novos residentes começam tudo de novo.
Na ouvidoria do hospital, as queixas mais comuns -entre as 200 feitas por escrito por mês- são a perda de prontuário e a falta de medicamentos. Cerca de 2.000 pedidos, elogios ou reclamações chegam por telefone ou verbalmente. "Minha função é encaminhar as ocorrências", diz a ouvidora Neuza Gaites. Só no Instituto Central e pelos ambulatórios passam 5.000 pessoas por dia.


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