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SAÚDE
Carlos já fez duas cirurgias e espera terceira; queixas comuns de pacientes são perda de prontuário e falta de remédio
Menino já passou por 20 médicos no HC
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de repetidas infecções
no ouvido e de percorrer os postos de saúde e hospitais da região,
o menino Carlos Augusto Ribeiro
da Silva foi aceito como paciente
no Hospital das Clínicas. Era 1998
e ele tinha sete anos.
Para a mãe e doméstica Marinalva Ribeiro da Silva, 35, o filho
agora estaria a salvo nas mãos da
prestigiada equipe do HC. Desde
então, Carlinhos já fez duas cirurgias, está há quase dois anos esperando uma terceira, e a infecção
atingiu também o outro ouvido.
Nos últimos meses, começaram a
cair seus dentes.
Na última consulta na otorrinolaringologia do HC, a médica residente nem sequer abriu a radiografia que fora conseguida depois
de seis meses. "Nem falei dos dentes caindo porque ela não prestava atenção", diz a mãe.
Nesses anos, Nalva, como é conhecida, já passou com o filho por
pelo menos 20 médicos diferentes
do HC -as equipes de residentes
mudam a cada três ou seis meses.
A mãe não sabe o nome de nenhum dos médicos nem qual
doença o filho tem. "A última médica mandou esperar em casa.
Quando tiver vaga para a cirurgia,
vão telefonar para a vizinha."
Nalva, que tem dois outros filhos menores, mora com a mãe
num cômodo que ela mesma
construiu na periferia do Embu,
na Grande São Paulo. Ela perdeu
o marido e um irmão em 1996.
Por causa do cheiro do pus que
escorre do ouvido de Carlinhos,
ela foi obrigada a abrir uma pequena janela para que a família
pudesse respirar dentro do cômodo. Na escola, os colegas já não
brincam com ele.
Numa das últimas consultas,
não encontraram o prontuário de
Carlinhos. "Muitas vezes fiquei na
sala de espera a tarde inteira, o
menino com fome, até que alguém vinha dizer que o médico
não veio naquele dia."
Como o resultado dos exames
são demorados, as equipes mudam e os novos residentes começam tudo de novo.
Na ouvidoria do hospital, as
queixas mais comuns -entre as
200 feitas por escrito por mês-
são a perda de prontuário e a falta
de medicamentos. Cerca de 2.000
pedidos, elogios ou reclamações
chegam por telefone ou verbalmente. "Minha função é encaminhar as ocorrências", diz a ouvidora Neuza Gaites. Só no Instituto
Central e pelos ambulatórios passam 5.000 pessoas por dia.
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