São Paulo, terça-feira, 05 de março de 2002

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DIREITOS HUMANOS

Segundo informe norte-americano, policiais continuam cometendo tortura, assassinatos e sequestros

Relatório dos EUA critica polícia brasileira

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O governo norte-americano voltou a acusar as polícias estaduais brasileiras de violar reiteradamente os direitos humanos.
Segundo relatório anual divulgado ontem pelo Departamento de Estado dos EUA, as polícias Civil e Militar continuam cometendo "assassinatos, tortura, prisões arbitrárias, sequestros, extorsão e formando esquadrões da morte".
O governo dos Estados Unidos é obrigado por lei a divulgar anualmente um documento avaliando a situação dos direitos humanos em quase 200 países e territórios.
O capítulo referente ao Brasil repete quase que totalmente o texto divulgado sobre o país no ano passado. A crítica central dos EUA continua sendo a de que, embora o governo federal tenha se esforçado para respeitar os direitos humanos no Brasil, as polícias estaduais continuam agindo como criminosos sem controle.
Num apêndice sobre as violações mais notórias em 2001, o relatório lista dezenas de assassinatos, mortes ocorridas durante a repressão a rebeliões em presídios e o uso da tortura como "método" de investigação.

Equívoco
Um dos casos citados é o do vendedor Wander Cosme Carvalheiro, 28, preso no dia 1º de fevereiro do ano passado na zona sul de São Paulo, sob suspeita de balear um delegado -o relatório menciona, equivocadamente, que ele teria sido preso sob suspeita da morte de uma "autoridade eleita".
Carvalheiro passou 15 dias na cadeia -parte desse tempo, ele ficou pendurado pelos braços e joelhos, amarrado sem roupa, enquanto recebia choques nas partes íntimas e pancadas, principalmente nas solas dos pés.
Foi o primeiro relatório formulado pelo governo do presidente George W. Bush, acusado de violar direitos humanos ao manter várias detidos na base naval dos EUA em Guantánamo, em Cuba, sem direito a julgamento ou sem os benefícios da convenção que regulamenta garantias a prisioneiros de guerra.
Embora Bush já tivesse assumido a Casa Branca em março do ano passado, o relatório de 2001 fora preparado antes, pela equipe do ex-presidente Bill Clinton.
Ao divulgar o documento ontem, o secretário de Estado, Colin Powell, foi perguntado se o tratamento aos direitos humanos nos Estados Unidos passaria pelos mesmos critérios com os quais o Departamento de Estado norte-americano julga outros países. Ele respondeu: "Nós procuramos não julgar a nós mesmos. Não seria equilibrado".

Direitos humanos em 2000
No relatório divulgado sobre os direitos humanos no ano 2000, os Estados Unidos também haviam criticado o Brasil e outros países da América Latina por causa de abusos do aparato policial.
O Departamento de Estado apontou, na época, torturas, prisões arbitrárias e assassinatos cometidos por agentes do Estado como comuns na região.
O informe dizia que, no Brasil, a polícia assassinava, torturava e realizava prisões arbitrárias.
A Folha não conseguiu localizar ontem à noite a assessoria do Ministério da Justiça para comentar as acusações feitas no relatório.



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