São Paulo, quinta, 5 de março de 1998

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EDUCAÇÃO
Universitários ameaçam parar depois de o governo federal prometer bolsas no lugar de reajuste salarial
MEC "ressuscita" movimento docente

FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local

O anúncio pelo MEC (Ministério da Educação) de algumas medidas voltadas para as suas 52 Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) deixou irados até setores mais conservadores das universidades e reanimou o movimento reivindicatório dos professores -que há anos estava em baixa.
A gota d"água foi a medida provisória editada no dia 12 de fevereiro, instituindo o Programa de Bolsas de Incentivo à Docência nas Ifes.
O programa -que contará com R$ 160 milhões este ano- vai dar bolsas para professores ou grupos de professores que formulem projetos especiais de melhoria do ensino de graduação nas Ifes -que tiveram a melhor avaliação nas duas edições do provão e reúnem cerca de 370 mil graduandos.
Essas bolsas terão valor entre R$ 400 e R$ 1.100 e só poderão ser concedidas a uma parcela do conjunto de professores de cada instituição, conforme critérios que ainda terão de ser estabelecidos.
O problema é que os professores das universidades federais estão há mais de três anos sem nenhum reajuste salarial -como quase todo o resto do funcionalismo federal- e tinham a expectativa de receber, neste início de ano, um aumento especial -como o que foi concedido aos militares.

Bomba
Assim, o anúncio de uma simples bolsa para quem se dedicar mais à graduação caiu como uma bomba no setor.
"Além de não ser um reajuste incorporado ao salário, isso rompe com a isonomia (igualdade) salarial e deixa de fora os aposentados, os funcionários técnico-administrativos e o pessoal que está exercendo funções de direção", diz Maria Cristina de Morais, presidente da Andes (o sindicato nacional dos professores do ensino superior).
Desde então, a Andes anunciou que está "em estado de greve", pelo menos três associações docentes marcaram greve e até os conselhos universitários -em geral mais alinhados à política do MEC do que as entidades de professores- começaram a se posicionar contra a medida.
Ontem, por exemplo, foi a vez do Conselho Universitário da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). "A divulgação (do programa de bolsas) veio em um momento muito inadequado", afirma a vice-reitora da universidade.
"Criou-se uma expectativa (de reajuste salarial) e, depois, o projeto de bolsas se mostrou muito restrito", diz o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais e presidente da Andifes (associação que reúne os reitores).
Amanhã e depois, tanto as associações de docentes como os reitores e diretores das Ifes fazem reuniões nacionais para discutir um posicionamento conjunto.

Exagero
Para o secretário de Ensino Superior do MEC, Abilio Baeta Neves, "a reação a esse programa foi exagerada. Apenas anunciamos os termos gerais e agora queremos discutir com as universidades a sua regulamentação".
"Historicamente, os cursos de graduação foram ficando como uma espécie de fardo, mais do que como uma missão do professor, e é isso que queremos reverter."
Neves afirma ainda que o programa de bolsas faz parte do conjunto de medidas do MEC para a melhoria do ensino superior, especialmente das federais.
Só que, nas universidades, as iniciativas governamentais mais citadas são os recentes cortes de recursos para a pesquisa (R$ 50 milhões a menos só em bolsas) e até para compra de publicações científicas para as bibliotecas.



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