São Paulo, quinta, 5 de março de 1998

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EDUCAÇÃO
Cerca de 40 pais de alunos gritavam "é picareta"; INSS cedeu apenas um prédio à escola municipal
Secretário é vaiado em entrega de chaves

RODRIGO VERGARA
da Reportagem Local

Em meio a uma salva de vaias e gritos de "é picareta", o secretário municipal da Educação Ayres da Cunha recebeu ontem do MEC as chaves de um prédio do INSS cujo uso foi cedido à Escola Municipal Dr. Miguel Vieira Ferreira, em Cidade Dutra, zona sul de São Paulo.
As vaias partiram de cerca de 40 pais de alunos cujos filhos estão sem aulas por falta de classe. Eles estavam indignados com a ausência, na solenidade, de Carlos Giannazi, diretor da escola.
Para os pais de alunos, Giannazi é o grande responsável pela obtenção do prédio, por expor a falta de vagas que atinge a zona sul da cidade. O secretário, no entanto, não o convidou para a entrega das chaves e ainda criticou a atitude do diretor. "Não é fazendo oba oba que vamos resolver a situação da educação na cidade", disse.

Histórico

A polêmica em torno da escola começou em janeiro, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso fez um pronunciamento à nação incitando os diretores de escolas a inscreverem todas as crianças que aparecessem, mesmo que não houvesse vagas.
Giannazi atendeu ao pedido. Matriculou 600 crianças além das 2.000 vagas existentes na escola. Depois disso, pediu ao INSS dois prédios localizados ao lado da escola para usar como classes.
Sua atitude foi elogiada pelo MEC. Em 27 de janeiro, o diretor foi considerado símbolo da campanha "Toda Criança na Escola" pelo ministro da Educação, Paulo Renato Souza, que prometeu a ele os prédios em caráter de urgência.
Mas o período letivo da rede municipal de ensino começou em fevereiro e os prédios não haviam sido entregues. Pressionado pela imprensa, o INSS informou que estava movendo ações na Justiça contra os inquilinos e, após um acordo, liberou um dos imóveis, o menor, há duas semanas.
De acordo com um engenheiro da prefeitura que vistoriou o local ontem, o prédio tem 75 m2 e abriga apenas uma sala de aula para cerca de 45 crianças.
Para o secretário municipal, não só a atitude de Giannazi, mas também os números que o diretor apresentou estão errados. "A demanda de vagas nesta região é de 90 crianças e não de 600. O restante são crianças de outras regiões que se inscreveram aqui."
O secretário, que estava acompanhado da delegada de ensino Odiléia Mattos, não soube dizer se há vagas para essas crianças nas regiões onde moram.
Para Maria Auxiliadora Aldergaria Pereira, delegada substituta do MEC no Estado de São Paulo, dados do IBGE e das Secretarias Estadual e Municipal da Educação mostram que "ainda tem criança fora da escola nesta região."



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