São Paulo, quinta, 5 de março de 1998

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SAÚDE
Experiência vem sendo desenvolvida pela Unesp; produto é alternativa a "superbonder"
Médicos grudam pele com cola de fibrina

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Uma cola de fibrina feita com veneno de cobra e sangue de boi vem sendo empregada com sucesso em enxertos de pele por uma equipe da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Botucatu.
Pelo menos 15 pacientes que passaram por cirurgias para retirar tumores da face já tiveram os tecidos grudados por essa cola.
O resultado, em princípio, é o mesmo obtido com a cola "superbonder", empregada por um cirurgião paranaense para controlar uma hemorragia causada por cirurgia no coração.
A "superbonder" já foi testada em muitos hospitais, mas o problema é que a cola contém substância cancerígena.
A cola de fibrina da Unesp foi experimentada pela primeira vez em maio de 1997, mas já vinha sendo estudada há nove anos.
O primeiro paciente -o lavrador Alfonso Garcia Rejas- precisou de enxerto de pele depois que teve um tumor maligno retirado da região nasal. Um dos cortes foi fechado com sutura tradicional e outro com a cola de fibrina.
Segundo os médicos, depois de 48 horas, os tecidos colados apresentavam cicatrização melhor do que o outro.
A dermatologista Silvia Regina Barraviera, que faz parte da equipe da Unesp, diz que nos 15 pacientes acompanhados a cola apresentou melhor resultado que a costura tradicional. Segundo ela, além dos enxertos de pele em humanos, a cola de fibrina já vem sendo empregada em veterinária, em cirurgias oftalmológicas e para fechar biópsias em testículos de carneiro.
Experimentalmente, a cola também vem sendo usada em cirurgias de intestinos e na colagem de nervos em animais.
As matérias-primas utilizadas na cola de fibrina são o veneno da cobra cascavel e o plasma bovino. A associação de uma das moléculas do veneno com a proteína do plasma responsável pela coagulação resulta na cola, que provocará uma rede de fibrina.
O passo seguinte, buscado pelos pesquisadores, é a produção de um selante extraído do sangue humano. O problema, diz a bióloga Izolete Aparecida Thomazini Santos, é o risco de se ter um produto contaminado.



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