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URBANISMO
Aniversário do bairro, comemorado amanhã na praça Charles Muller, exalta visão da vizinhança sobre invasão comercial
Festa no Pacaembu vira protesto discreto
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Os moradores do Pacaembu,
centro de São Paulo, comemoram
amanhã o aniversário do bairro
com uma festa que mais parece
um protesto velado contra as
ameaças de descaracterização da
região, às voltas com a invasão comercial apoiada pela prefeitura.
Batizado de "Um Domingo no
Parque", a festa envolveu cerca de
150 moradores na organização. O
plano é promover um encontro
na praça Charles Muller, a mesma
usada como estacionamento por
estudantes da Faap, sob protesto.
Não por acaso, a praça será ocupada por vendedores de algodão
doce, pipoqueiros, contadores de
história, skatistas e atores. Haverá
brincadeiras de rua e distribuição
de mudas de ipê e azaléia.
O estilo da festa é uma resposta
à discussão que se trava na prefeitura sobre a legalização do comércio irregular em bairros residenciais como o Pacaembu. Só na
avenida homônima, há cerca de
30 que driblam a fiscalização.
Os comerciantes consideram
que o bairro -centralizado demais para ser mantido como no
passado- deve abrigar seus estabelecimentos e pressionam a prefeitura para legalizá-los. Em evento recente, a prefeita Marta Suplicy afirmou ser a favor da idéia.
"A minha posição é claríssima:
eu sou do tempo real. Eu acho que
o que está estabelecido tem de ficar", disse a prefeita, em reunião
da Associação Comercial.
No entanto, "o tempo real", para os moradores, é outro. "Aqui
ainda se acorda com passarinhos
cantando", diz Assunción Blanco,
do movimento de moradores.
"O grande problema se refere à
prefeitura. As ruas estão totalmente esburacadas", diz a atriz e
produtora cultural Ruth Escobar,
que mora no bairro há 25 anos.
Na verdade, diz a presidente do
Movimento Viva Pacaembu por
São Paulo, Iênidis Benfati, o bairro tem o que toda a cidade deveria
ter -"qualidade de vida". "Não
propomos uma volta ao passado.
Assim é o Pacaembu."
O clima agradável deve muito à
excelência urbanística atingida
por quem projetou o bairro em
1913, o inglês Barry Parker.
Contratado pela Companhia
City de Desenvolvimento, Parker
desenhou ruas sinuosas e arborizadas que acompanham o relevo
do terreno, de forma que todas as
casas tivessem vista para o vale
onde hoje está o estádio Paulo
Machado de Carvalho. O tempo
mostrou que ele estava certo.
Apesar do trânsito e da mudança
da cidade, o traçado irregular acabou protegendo o bairro.
A festa começa com quatro caminhadas que saem, às 9h30, de
pontos históricos do Pacaembu,
como a casa onde morou o crítico
Sérgio Buarque de Holanda e a do
poeta modernista Guilherme de
Almeida. O bairro tem várias datas de aniversário e a festa de amanhã não tem muito a ver com nenhuma delas. A contar do dia em
que a Companhia City vendeu o
primeiro lote (6 de março de
1920), seriam 83 anos.
Colaborou Lucrecia Zappi,
da Equipe de Trainees
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