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São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

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URBANISMO

Aniversário do bairro, comemorado amanhã na praça Charles Muller, exalta visão da vizinhança sobre invasão comercial

Festa no Pacaembu vira protesto discreto

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Os moradores do Pacaembu, centro de São Paulo, comemoram amanhã o aniversário do bairro com uma festa que mais parece um protesto velado contra as ameaças de descaracterização da região, às voltas com a invasão comercial apoiada pela prefeitura.
Batizado de "Um Domingo no Parque", a festa envolveu cerca de 150 moradores na organização. O plano é promover um encontro na praça Charles Muller, a mesma usada como estacionamento por estudantes da Faap, sob protesto.
Não por acaso, a praça será ocupada por vendedores de algodão doce, pipoqueiros, contadores de história, skatistas e atores. Haverá brincadeiras de rua e distribuição de mudas de ipê e azaléia.
O estilo da festa é uma resposta à discussão que se trava na prefeitura sobre a legalização do comércio irregular em bairros residenciais como o Pacaembu. Só na avenida homônima, há cerca de 30 que driblam a fiscalização.
Os comerciantes consideram que o bairro -centralizado demais para ser mantido como no passado- deve abrigar seus estabelecimentos e pressionam a prefeitura para legalizá-los. Em evento recente, a prefeita Marta Suplicy afirmou ser a favor da idéia.
"A minha posição é claríssima: eu sou do tempo real. Eu acho que o que está estabelecido tem de ficar", disse a prefeita, em reunião da Associação Comercial.
No entanto, "o tempo real", para os moradores, é outro. "Aqui ainda se acorda com passarinhos cantando", diz Assunción Blanco, do movimento de moradores.
"O grande problema se refere à prefeitura. As ruas estão totalmente esburacadas", diz a atriz e produtora cultural Ruth Escobar, que mora no bairro há 25 anos.
Na verdade, diz a presidente do Movimento Viva Pacaembu por São Paulo, Iênidis Benfati, o bairro tem o que toda a cidade deveria ter -"qualidade de vida". "Não propomos uma volta ao passado. Assim é o Pacaembu."
O clima agradável deve muito à excelência urbanística atingida por quem projetou o bairro em 1913, o inglês Barry Parker.
Contratado pela Companhia City de Desenvolvimento, Parker desenhou ruas sinuosas e arborizadas que acompanham o relevo do terreno, de forma que todas as casas tivessem vista para o vale onde hoje está o estádio Paulo Machado de Carvalho. O tempo mostrou que ele estava certo. Apesar do trânsito e da mudança da cidade, o traçado irregular acabou protegendo o bairro.
A festa começa com quatro caminhadas que saem, às 9h30, de pontos históricos do Pacaembu, como a casa onde morou o crítico Sérgio Buarque de Holanda e a do poeta modernista Guilherme de Almeida. O bairro tem várias datas de aniversário e a festa de amanhã não tem muito a ver com nenhuma delas. A contar do dia em que a Companhia City vendeu o primeiro lote (6 de março de 1920), seriam 83 anos.


Colaborou Lucrecia Zappi, da Equipe de Trainees

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