São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

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Mesmo superlotado, metrô mantém estação "fantasma"

Na linha 3, trem já abriga 9,2 passageiros por m2 nos picos, contra limite de 6 m2

Enquanto isso, plataformas ficam vazias em Vila das Belezas e Sumaré; técnico vê problema de planejamento e desperdício de recursos

João Wainer/Folha Imagem
Usuários do metrô na estação Barra Funda (centro de SP); nº de passageiros ultrapassa limite tolerado na maioria dos países

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nada como uma estação de metrô perto de casa para se livrar dos ônibus desconfortáveis ou dos engarrafamentos.
A ideia está no discurso ou no imaginário de muita gente. Na prática, não é bem assim.
De um lado, está cada vez mais difícil e incômodo entrar no metrô de São Paulo no começo da manhã ou final da tarde. Em 2008, a superlotação dos trens continuou a crescer em toda a rede. Na linha 3-vermelha, passou de 8,7 para 9,2 passageiros por m2 nos picos -contra um limite tolerado de 6 por m2 na maioria dos países.
De outro lado, apesar da crescente demanda, a distribuição dos usuários nas linhas de metrô é bastante desigual. São Paulo tem há anos estações extremamente vazias.
Primeiro, dizem os técnicos, porque parte delas foi aberta em lugares de pouco movimento. Segundo porque não adianta ser vizinho de uma linha de metrô se ela não levar a pontos estratégicos. Terceiro porque muito paulistano resiste em deixar seu carro na garagem.

Vazio
As duas primeiras justificativas ajudam a explicar a posição da estação Vila das Belezas (zona sul), inaugurada em 2002 na linha 5-lilás, como a primeira no ranking das que menos recebem passageiros na catraca.
No ano passado, ela atraiu só 4.000 usuários na média dos dias úteis. É menos do que oito ônibus da cidade carregam em um dia. A estação teria capacidade para abrigar sua demanda em menos de duas horas.
A Vila das Belezas não está sozinha entre as plataformas que contrastam com as da Palmeiras-Barra Funda (194 mil por dia) ou da Luz (106 mil).
Na linha 2-verde, a Sumaré, que existe desde 1998, recebe só 11 mil passageiros diariamente. Na linha 1-azul, apenas 12 mil passam nas catracas da antiga Carandiru -inaugurada em 1975. Com uma área construída semelhante, a São Joaquim recebe três vezes mais.
O especialista Peter Alouche considera que a condição desigual de estações supervazias e outras superlotadas tende a ser atenuada com a expansão da malha, hoje restrita a 61,3 km.
"A demanda costuma ser projetada para a rede completa. Quando a linha 4 [Luz-Vila Sônia, em obras e prevista para 2010] estiver pronta, haverá um equilíbrio maior", afirma.
Uma das razões é que a 4 será interligada a três linhas (1, 2 e 3) e ainda atrairá passageiros da linha 5 por meio de conexão na estação Pinheiros da CPTM.
O professor da USP Jaime Waisman vê problema de planejamento e "desperdício de recursos" pelo fato de "um bem público que custa milhões" ficar ocioso por vários anos.
Ele lembra que há carência de metrô em muitas regiões. E, se por algum motivo, uma linha tiver que passar por bairros esvaziados, considera fundamental haver parcerias com a prefeitura para incentivar a ocupação do solo nas imediações.


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