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"Rota caipira" das drogas atrai tráfico para o interior de SP
Fazendas de cana da região de Ribeirão Preto escondem pistas de pouso clandestinas de quadrilhas internacionais
Só neste ano, 430 kg de cocaína foram apreendidos pela Polícia Federal; é mais da metade do que foi encontrado de 2006 a 2008
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO
O lavrador M.G.R., 28, nunca
viajou de avião, mas diz ter "visto umas duas vezes uns pequenininhos passando baixo" próximo da fazenda onde trabalha,
em Sales Oliveira.
Sem saber, ele pode ter sido
testemunha de uma operação
do tráfico internacional de drogas, que nos últimos anos, especialmente em 2008 e 2009, se
avolumou na macrorregião de
Ribeirão Preto, conhecida como "rota caipira" das drogas
pelo seu vasto território ocupado pela cana-de-açúcar.
Até o dia 20 de março deste
ano, a Polícia Federal de Ribeirão apreendeu 430 kg de cocaína, 170 kg de crack e ainda pequenas porções de maconha,
tudo, segundo investigações,
fruto da ação de quadrilhas que
agem em vários países.
Cinco pessoas foram presas e
115 foram indiciadas pelo Ministério Público Federal de São
José do Rio Preto. Treze dos indiciados são da região, entre
eles Lourival Máximo da Fonseca, o Tião, morador de Guariba e considerado um dos foragidos mais procurados do país.
O total de cocaína apreendido neste ano equivale a mais da
metade de toda a quantidade
encontrada nos últimos três
anos. Em 2006, foram 30 kg da
droga. Em 2007, ano da operação Guarany, a maior realizada
até hoje na região, foram 675
kg. No ano passado, 98 kg.
As apreensões em 2009 são
fruto basicamente de duas operações. No dia 18 de fevereiro, a
polícia interceptou uma camionete com 423 kg de cocaína,
dois fuzis e quatro submetralhadoras, em São Simão.
Pouso forçado
Em 21 de janeiro, em ação da
Polícia Civil, foram apreendidos 170 kg de crack e 7 kg de cocaína em um avião clandestino
que teve de fazer pouso forçado
em um canavial em Sales Oliveira. Ninguém foi preso, mas
as investigações levaram, mais
uma vez, à rota caipira. "Achamos sacolas de um shopping
paraguaio. Ele passou por Ponta Porã (MS) e veio cair aqui",
disse o delegado Hugo Anselmo
Avagnani, da DIG (Delegacia de
Investigações Gerais) de São
Joaquim da Barra.
No dia 19 de janeiro, cinco
pessoas da região foram presas
por tráfico internacional, dois
em Ribeirão Preto.
"A região é uma rota conhecida do tráfico justamente pela
dificuldade da polícia em encontrar os locais de pouso dessas aeronaves, em meio aos canaviais", disse o delegado da
Polícia Federal, Fernando Battaus, da seção de narcóticos.
"Onde há cana, tende a haver
transporte do tráfico."
As armas e a droga que são
descarregadas nos canaviais da
região abastecem o interior, a
capital e outros Estados, como
Minas Gerais, Paraná, Santa
Catarina, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul. Segundo a Polícia Federal, a participação da
região cresceu também como
centro consumidor. A estimativa é que cada carregamento
movimente até R$ 3 milhões.
Para Argemiro Procópio,
professor de relações internacionais da UnB (Universidade
de Brasília), especialista em
narcotráfico, o tráfico internacional é mantido por poderosos, entre eles políticos.
"Não tenho a menor dúvida.
Prova disso é que, quando a investigação se aproxima dos
grandes cabeças, para. A ligação
entre o político e o mundo das
drogas é muito forte", afirmou.
Segundo o especialista, o tráfico na "rota caipira", além de
crescer, se aperfeiçoou. Passou
a usar táticas de grandes organizações internacionais.
"Usam o esquema "formiga",
onde o carregamento é repartido em pequenas partes. Se um
for interceptado, não prejudica
o restante da operação."
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