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EUA têm em filósofa seu `Paulo Freire'
de Nova York
A filósofa da educação Maxine
Greene, 79, teve no ensino público
de Nova York mais ou menos o
mesmo papel que Paulo Freire teve
para a pedagogia mundial.
Com seus seis livros e vários artigos -que citam filósofos clássicos
e contemporâneos, muita literatura, obras de arte e filmes-, Greene inspirou a geração que fez o
movimento de escolas alternativas
na cidade e que hoje busca novas
relações de ensino-aprendizagem.
Foi uma das primeiras mulheres
a virar professora no tradicional
Teachers College da Universidade
Columbia. Atualmente, realiza
uma vez por mês um sarau em sua
casa, onde reúne desde jovens professoras até intelectuais famosos, e
está participando da filmagem de
um documentário sobre sua vida.
Acaba de lançar o livro ``Soltando a Imaginação - Ensaios sobre
Educação, as Artes e Mudança Social'' (Ed. Jossey-Bass, 221 págs.).
A seguir, trechos da entrevista
concedida na terça-feira -antes,
portanto, da morte de Freire, que
ela cita várias vezes.
(FR)
LITERATA - Na Academia há essa
tendência de fazer códigos sagrados com a linguagem, de tal forma
que as pessoas comuns não conseguem entrar. Eu queria ter uma
linguagem para falar com as pessoas, que eu acho que eles não têm.
Então eu era uma mulher, muito
literata, ``soft'', não-racional.
PAULO FREIRE - O que foi maravilhoso para mim, quando li ``Pedagogia do Oprimido'' e um de
seus livros de conversa, é que ele
saiu dessa tradição que eu ouso dizer que saí. Ele cita (Jean Paul) Sartre, (Edmund) Husserl e toda tradição existencialista, fenomenológica e também os marxistas. Ele é
marxista, mas não é determinista.
CONSCIENTIZAÇÃO -Para mim,
as objeções para Paulo Freire -e
eu recebi as mesmas objeções-
eram que, quando você fala em
conscientização, você assume que
há uma consciência inferior e uma
superior, e que você, o intelectual
de classe média, tem a consciência
superior. Freire teve o mesmo problema, porque ele é de classe média. Ele escreveu sobre aprender a
ler no jardim de sua mãe.
CLASSE MÉDIA - Eu nomeei um
dos capítulos de meus livros de
``generosidade maléfica'', que fala
de quando a pessoa é de classe média e vai aos pobres para liderá-los
do vale de opressão. Mas isso é
uma nova opressão. E não houve
uma única revolução que não tenha sido liderada por gente de
classe média, como (Fidel) Castro,
Lênin. Esse é o grande problema.
IMAGINAÇÃO - É olhar para o
atual como se fosse um possível.
Alguns formulam isso em termos
de criar imagens na mente, dar
uma perspectiva nova, outros formulam como sendo liberar significados. Mas o que eu tento fazer
quando estou com uma platéia é
fazê-la compreender como a imaginação funciona em sua mente.
Tento tocar suas memórias lendo
algo de quando eles eram crianças.
GLOBALIZAÇÃO - A globalização torna difícil descobrir qual é a
imaginação local. Eu trabalho com
estudantes americanos, mas eu
não sei como trabalhar com estudantes brasileiros, ou tailandeses,
ou chilenos. Eu não sei como tocar
as primeiras experiências dessas
pessoas.
TESTES - Eu tenho estado muito
incomodada com esses testes padronizados. Eu estava em uma comissão estadual de currículo e avaliação, e eles ficavam falando da
sala de aula mundial. Diziam que
crianças coreanas vão melhor em
matemática do que qualquer pessoa no mundo e que, então, nós
temos que alcançá-las. E eu disse:
``Mas você quer viver em um contexto coreano?'' Esse é o problema,
eles deixam de fora o contexto.
Além disso, as pessoas são tão diferentes que nós temos que variar
as nossas idéias do que é bom. Você não pode usar os mesmos critérios com todos.
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