São Paulo, segunda, 5 de maio de 1997.

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OPINIÃO
O método de Paulo Freire

SÉRGIO A. S. LEITE

Com a morte de Paulo Freire, o Brasil perde, sem dúvida, o seu educador mais expoente. Embora tenha recebido prestígio e reconhecimento internacional na área da alfabetização de adultos, não se pode negar que sua obra é de fundamental importância para todos os educadores que acreditam que a Educação pode ser um instrumento de desenvolvimento da consciência crítica dos cidadãos.
É inegável que seu método de alfabetização tenha sido revisto e ampliado, do ponto de vista pedagógico. Isso porque, nas últimas duas décadas, as práticas de alfabetização sofreram grandes transformações, em função da evolução dos próprios conceitos de leitura e escrita e das contribuições das áreas do conhecimento como a linguística e a própria psicologia.
Como consequência de tais contribuições, as modernas propostas de alfabetização têm enfatizado o aspecto simbólico da escrita (a escrita como transmissão de idéias, centrada no significado), bem como seus usos sociais. Nessa perspectiva, entende-se que o processo de alfabetização passa a ter, como ponto de chegada e de partida, o próprio texto, entendido aqui não somente como as obras dos grandes escritores, mas como todo trecho falado ou escrito que tenha significado para quem produz e para quem o lê ou ouve.
Apesar dessa dinâmica historicamente observada, o trabalho de Paulo Freire na alfabetização destaca-se por inúmeras razões. Uma delas é que, embora desenvolvida há mais de 30 anos, numa época em que o conhecimento na área era bastante limitado, comparando-se com o momento atual, a proposta inovou também em termos pedagógicos, principalmente ao propor a prática pedagógica a partir dos famosos temas geradores, por meio de palavras-chave relacionadas com a vida concreta dos alunos e potencialmente geradora da discussão crítica.
Além disso, a proposta de Paulo Freire foi exemplar ao introduzir a relação dialógica como instrumento central no trabalho pedagógico, numa época em que ainda predominava uma educação bancária, segundo palavras do próprio autor. Mas o que torna o método de Paulo Freire uma proposta ainda inovadora, é o seu compromisso político ao assumir a ação educacional como um instrumento direcionado ao desenvolvimento da formação crítica do aluno.
O conceito de conscientização, central em sua obra, bem como o processo como as práticas pedagógicas podem atuar no sentido de possibilitar ao aluno avançar de um nível ingênuo para um nível de consciência política maduro, fizeram de Paulo Freire o grande educador reconhecido no mundo.
É por tais razões que as idéias sobre conscientização/alfabetização de Paulo Freire também são de grande importância para os professores de matemática, ciências, geografia, história, artes etc. Enfim, importantes para todos os educadores comprometidos com a formação crítica de seus alunos.


Sérgio Antônio da Silva Leite, 50, é professor no Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)



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