Cá entre nós, meu caro
leitor, peço que você abra
seu coração e responda com franqueza: você não dá risada quando recebe a conta de gás? Pois é,
eu também. Até pipoca é mais cara do que minha conta de gás. Está certo que não sou nenhuma
dona Palmirinha, que passa o dia
pilotando o fogão. Mas nunca pago mais do que R$ 14 ao mês pelo
gás natural que abastece meu
Brastemp luxo. É brincadeira, né
não? Quem tem chuveiro a gás
também se banha gargalhando. E
meus amigos do ponto de táxi do
Morumbi, que me levam e trazem
todos os dias do programa de TV
que apresento no canal Bandsports, estão todos encantados com
seus carros movidos a gás. A
maioria prefere perder corridas
ao aeroporto de Guarulhos, por
falta de espaço para a bagagem
no porta-malas, a abrir mão do
gás como combustível. Com ou
sem aumento de preços.
A verdade é que, antes do gesto
dramático de Evo Morales, a gente estava pouco se lixando que
nossos vizinhos são mais pobres
do que os habitantes do Chade.
Também nunca nos ativemos ao
fato de que, enquanto os bolivianos passam fome, a Petrobras paga uma merreca pelo gás vindo
da Bolívia.
Veja só: o Brasil desembolsa
US$ 3,23 pelo milhão do UBS
(medida utilizada para o gás),
enquanto os EUA pagam entre
US$ 11 e US$ 15 pela mesma
quantidade. Ou seja, os americanos pagam valor de mercado,
300% a mais do que a gente. Está
certo isso com os pobres dos bolivianos?
Bão, bão, bão... A Bolívia é uma
titica de país. Não fosse a Petrobras ter bancado o gasoduto que
nos fornece o combustível, os bolivianos sofreriam privações ainda
maiores do que as que já sofrem.
A Bolívia não tem passagem para
o mar, e sua fronteira ao oeste esbarra na cordilheira dos Andes.
Fazer negócio conosco é a única
saída que eles têm. E é aí que a
porca torce o rabo. Ninguém dá
chave de braço em irmão que oferece a tábua de salvação.
Eu adoraria rasgar os documentos do empréstimo que fiz
com o banco para comprar meu
carro. Adoraria dizer que não pago mais aluguel nem luz, água e
impostos. Ocorre que, para ter
meu CPF e meu título de eleitor
em ordem e não ver meu nome
sujo na praça, sou obrigada a
cumprir os compromissos firmados. Achar, porventura, que sou
mais pobre do que deveria ser ou
que os juros cobrados pelo banco
são injustos não me dá o direito
de rasgar os contratos que assinei.
Por que deveria ser diferente com
a Bolívia?
QUALQUER NOTA
Não vingou
A campanha do Santander Banespa com os jogadores da seleção custou uma nota preta.
Mas, até agora, não atraiu a
quantidade de clientes que o
banco esperava.
Canelada
Por aqui, ninguém diz nada
quando Luxemburgo ironiza
homossexuais. Mas a Inglaterra
não deixou barato o desprezo
de Luiz Felipe Scolari pelos
gays. O jornal "The Guardian"
aproveitou a polêmica em torno da fracassada ida do técnico
à seleção inglesa para chutar a
canela de "Big Phil". Afirmou
que Scolari é um "brasileiro
machão que acredita que homens são homens, vacas são café da manhã e Pinochet é um
sujeito legal". E-mail - barbara@uol.com.br www.uol.com.br/barbaragancia/
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