São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BARBARA GANCIA

Uma questão de compromisso

Cá entre nós, meu caro leitor, peço que você abra seu coração e responda com franqueza: você não dá risada quando recebe a conta de gás? Pois é, eu também. Até pipoca é mais cara do que minha conta de gás. Está certo que não sou nenhuma dona Palmirinha, que passa o dia pilotando o fogão. Mas nunca pago mais do que R$ 14 ao mês pelo gás natural que abastece meu Brastemp luxo. É brincadeira, né não? Quem tem chuveiro a gás também se banha gargalhando. E meus amigos do ponto de táxi do Morumbi, que me levam e trazem todos os dias do programa de TV que apresento no canal Bandsports, estão todos encantados com seus carros movidos a gás. A maioria prefere perder corridas ao aeroporto de Guarulhos, por falta de espaço para a bagagem no porta-malas, a abrir mão do gás como combustível. Com ou sem aumento de preços.
A verdade é que, antes do gesto dramático de Evo Morales, a gente estava pouco se lixando que nossos vizinhos são mais pobres do que os habitantes do Chade. Também nunca nos ativemos ao fato de que, enquanto os bolivianos passam fome, a Petrobras paga uma merreca pelo gás vindo da Bolívia.
Veja só: o Brasil desembolsa US$ 3,23 pelo milhão do UBS (medida utilizada para o gás), enquanto os EUA pagam entre US$ 11 e US$ 15 pela mesma quantidade. Ou seja, os americanos pagam valor de mercado, 300% a mais do que a gente. Está certo isso com os pobres dos bolivianos?
Bão, bão, bão... A Bolívia é uma titica de país. Não fosse a Petrobras ter bancado o gasoduto que nos fornece o combustível, os bolivianos sofreriam privações ainda maiores do que as que já sofrem. A Bolívia não tem passagem para o mar, e sua fronteira ao oeste esbarra na cordilheira dos Andes. Fazer negócio conosco é a única saída que eles têm. E é aí que a porca torce o rabo. Ninguém dá chave de braço em irmão que oferece a tábua de salvação.
Eu adoraria rasgar os documentos do empréstimo que fiz com o banco para comprar meu carro. Adoraria dizer que não pago mais aluguel nem luz, água e impostos. Ocorre que, para ter meu CPF e meu título de eleitor em ordem e não ver meu nome sujo na praça, sou obrigada a cumprir os compromissos firmados. Achar, porventura, que sou mais pobre do que deveria ser ou que os juros cobrados pelo banco são injustos não me dá o direito de rasgar os contratos que assinei. Por que deveria ser diferente com a Bolívia?

QUALQUER NOTA

Não vingou A campanha do Santander Banespa com os jogadores da seleção custou uma nota preta. Mas, até agora, não atraiu a quantidade de clientes que o banco esperava.
Canelada Por aqui, ninguém diz nada quando Luxemburgo ironiza homossexuais. Mas a Inglaterra não deixou barato o desprezo de Luiz Felipe Scolari pelos gays. O jornal "The Guardian" aproveitou a polêmica em torno da fracassada ida do técnico à seleção inglesa para chutar a canela de "Big Phil". Afirmou que Scolari é um "brasileiro machão que acredita que homens são homens, vacas são café da manhã e Pinochet é um sujeito legal".
E-mail - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia/


Texto Anterior: Reforma fecha banheiros, mas não afeta museu
Próximo Texto: Qualidade das praias: Praias paulistas apresentam melhora, segundo a Cetesb
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.