UOL


São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANALFABETISMO

Segundo o MEC, 16 milhões de brasileiros não sabem ler e escrever; 35% dos analfabetos frequentaram a escola

Só 19 cidades têm 8 anos de escolaridade

Tuca Vieira/Folha Imagem
Roberto Borlina, 70, está inscrito em programa de alfabetização no Parque São Lucas, zona leste de São Paulo


LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em um país onde 12,4% das pessoas com 15 anos ou mais nem sequer sabem ler e escrever, só 19 dos 5.507 municípios brasileiros têm uma média de escolarização dos moradores que corresponde ao ensino fundamental completo.
Isso significa que somente uma a cada 289 cidades no país tem uma população que, na média, estudou oito anos ou mais (o Distrito Federal é considerado cidade e compõe o grupo das 19).
Niterói (RJ) apresenta o maior índice -9,5 séries concluídas- enquanto Guaribas (PI), que vem sendo atendida pelo projeto-piloto do Fome Zero desde o início do ano, ficou com a pior colocação -1,1 ano de estudo, segundo dados de 2000.
Além disso, em 1.796 municípios (32,6% do total) a escolarização média da população de 15 anos ou mais é inferior a quatro séries concluídas -pela metodologia da pesquisa, eles são considerados analfabetos funcionais.
O mesmo país que desenvolveu tecnologia para construir aviões e foguetes, por exemplo, convive com 30 milhões de brasileiros analfabetos funcionais, ou seja, com menos de quatro anos de estudo. Desses, cerca de 16 milhões não sabem ler uma placa e escrever um bilhete para um amigo.
Esse quadro "trágico", de acordo com o próprio Ministério da Educação, está retratado no "Mapa do Analfabetismo no Brasil", divulgado ontem em Brasília.
O trabalho é uma sistematização de dados do IBGE e do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) feito com o objetivo de subsidiar a implantação de políticas para a erradicação do analfabetismo no país -meta do ministro Cristovam Buarque (Educação) para 2006.
A boa notícia é que o Brasil ampliou o número de alunos nas escolas, reduzindo a taxa de analfabetismo de 19,7% em 1991 para 13,6% em 2000 e 12,4% em 2001.
Se por um lado a ampliação do atendimento escolar teve impacto no processo de desaceleração do analfabetismo, principalmente entre os mais jovens, por outro o ganho de escolaridade foi insuficiente para garantir o ensino fundamental completo.
Pior ainda: 35% dos analfabetos já frequentaram uma escola. E abandonaram os estudos, entre outros motivos, por causa da baixa qualidade do ensino, pela necessidade de trabalhar ou pelo despreparo da rede para lidar com essa população.
"O melhor antídoto para o analfabetismo é assegurar escola para todos na idade certa. Contudo, se ela não for de qualidade, continuaremos produzindo o analfabeto funcional, que, apesar de ficar até oito anos estudando, não consegue avançar além das séries iniciais", diz o estudo do Inep.
A secretária de Ensino Fundamental do MEC, Maria José Feres, concorda, dizendo que não basta alfabetizar, mas é preciso dar continuidade aos estudos com o ensino fundamental. "Para tentar reverter o quadro, estamos implantando uma série de medidas emergenciais e estruturais."
Paralelamente, o MEC lançou o programa Brasil Alfabetizado, que prevê atingir 3 milhões de pessoas até o final do ano.

Desigualdades regionais
Segundo o "Mapa do Analfabetismo no Brasil", as regiões com menor desenvolvimento econômico são as que apresentam os piores indicadores. O Nordeste tem a maior taxa -24,3% em 2001, o que representa quase 8 milhões de brasileiros ou a metade dos analfabetos do Brasil. O Sul e o Sudeste estão com 7,1% e 7,5%, respectivamente.
Em relação aos municípios, 125 deles concentram um quarto das pessoas que não sabem ler e escrever. Na lista das cem primeiras cidades com mais analfabetos aparecem 24 capitais, sendo que São Paulo e Rio encabeçam esse ranking -383 mil e 199 mil analfabetos, respectivamente.

Mais informações sobre o "Mapa do Analfabetismo no Brasil" no site www.inep.gov.br


Texto Anterior: Transporte: Força-tarefa apreende notas da SPTrans
Próximo Texto: Líder de ranking tem alta renda de chefe de casa
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.