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São Paulo tem 383 mil analfabetos
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
A dona-de-casa Valderez de
Souza Freitas não tem nenhum
problema de visão, mas, muitas
vezes, alega que "esqueceu os
óculos" em casa para não preencher alguma ficha ou um cheque.
Recados telefônicos, ela "esquece" de anotar. As artimanhas são
para esconder um problema que,
em São Paulo, atinge 383 mil pessoas: o analfabetismo.
"É muito triste uma pessoa de
44 anos dizer que não sabe escrever", afirma ela, que participa de
um programa de alfabetização
para adultos no Parque São Lucas
(zona leste). As aulas, realizadas
dentro de um posto de saúde, são
promovidas pela ONG Alfabetização Solidária em parceria com a
Universidade São Judas.
Assim que souber escrever direito, a dona-de-casa pretende
enviar uma carta para a irmã, que
mora em Afogados da Ingazeira,
no interior de Pernambuco. "Lá
tinha escola, mas eu tinha que trabalhar na roça para ajudar a família." Aos 18, ela mudou para São
Paulo, em busca de trabalho.
O processo migratório é apontado por Regina Esteves, superintendente do Alfabetização Solidária, como uma das principais causas do analfabetismo em São Paulo. Ela afirma que uma pesquisa
da entidade mostrou que 76% dos
alunos atendidos na cidade vêm
do Nordeste.
"Nós temos [em São Paulo] a
maior concentração absoluta de
pessoas não-alfabetizadas, mas
não podemos ver esse dado de
forma isolada. O combate ao
analfabetismo deve ser uma política nacional para atingir também
a causa desse problema nos grandes centros", afirma Esteves.
Na esfera municipal, uma das
formas encontradas para enfrentar o analfabetismo é o Mova
(Movimento de Alfabetização de
Jovens e Adultos), instalado pela
prefeitura no ano passado.
O programa é executado por
ONGs que já trabalhavam com
educação. "O objetivo é ir onde a
escola ainda não foi", diz Marisa
Darezzo, diretora de educação de
jovens e adultos da Secretaria Municipal de Educação.
Para cada classe atendida, a prefeitura repassa R$ 600 mensais.
A Secretaria Estadual de Educação afirmou ontem, por meio de
sua assessoria, que não possui nenhum programa voltado especificamente para a erradicação do
analfabetismo.
Entretanto, a pasta lançará hoje
o Programa de Alfabetização e Inclusão (PAI). O objetivo desse
projeto é alfabetizar, em quatro
anos, 700 mil pessoas com idade
superior a 15 anos.
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