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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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São Paulo tem 383 mil analfabetos

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

A dona-de-casa Valderez de Souza Freitas não tem nenhum problema de visão, mas, muitas vezes, alega que "esqueceu os óculos" em casa para não preencher alguma ficha ou um cheque. Recados telefônicos, ela "esquece" de anotar. As artimanhas são para esconder um problema que, em São Paulo, atinge 383 mil pessoas: o analfabetismo.
"É muito triste uma pessoa de 44 anos dizer que não sabe escrever", afirma ela, que participa de um programa de alfabetização para adultos no Parque São Lucas (zona leste). As aulas, realizadas dentro de um posto de saúde, são promovidas pela ONG Alfabetização Solidária em parceria com a Universidade São Judas.
Assim que souber escrever direito, a dona-de-casa pretende enviar uma carta para a irmã, que mora em Afogados da Ingazeira, no interior de Pernambuco. "Lá tinha escola, mas eu tinha que trabalhar na roça para ajudar a família." Aos 18, ela mudou para São Paulo, em busca de trabalho.
O processo migratório é apontado por Regina Esteves, superintendente do Alfabetização Solidária, como uma das principais causas do analfabetismo em São Paulo. Ela afirma que uma pesquisa da entidade mostrou que 76% dos alunos atendidos na cidade vêm do Nordeste.
"Nós temos [em São Paulo] a maior concentração absoluta de pessoas não-alfabetizadas, mas não podemos ver esse dado de forma isolada. O combate ao analfabetismo deve ser uma política nacional para atingir também a causa desse problema nos grandes centros", afirma Esteves.
Na esfera municipal, uma das formas encontradas para enfrentar o analfabetismo é o Mova (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), instalado pela prefeitura no ano passado.
O programa é executado por ONGs que já trabalhavam com educação. "O objetivo é ir onde a escola ainda não foi", diz Marisa Darezzo, diretora de educação de jovens e adultos da Secretaria Municipal de Educação.
Para cada classe atendida, a prefeitura repassa R$ 600 mensais.
A Secretaria Estadual de Educação afirmou ontem, por meio de sua assessoria, que não possui nenhum programa voltado especificamente para a erradicação do analfabetismo.
Entretanto, a pasta lançará hoje o Programa de Alfabetização e Inclusão (PAI). O objetivo desse projeto é alfabetizar, em quatro anos, 700 mil pessoas com idade superior a 15 anos.


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