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À noite, professora vira Piroboys
DA REPORTAGEM LOCAL
Os óculos de aro fino, o cordãozinho de ouro com letra do nome
no pingente, o jeito delicado de falar e a cara de menina certinha
afastam qualquer desconfiança
que possa pesar sobre Piroboys,
22, pichadora desde os 14 anos.
Na única vez em que foi flagrada
pichando, os policiais responsabilizaram apenas o amigo que a
acompanhava. "Pensaram que eu
só era a namorada dele."
Aluna do curso de letras de uma
faculdade particular do ABC paulista, ela é estagiária e dá aula de
português e inglês em uma escola
estadual e em outra particular da
zona sul de São Paulo. À noite, sai
com os amigos para pichar.
Assim como os colegas, ela diz
que começou a pichar por estar
"num momento de dificuldade".
Os pais haviam se separado, e ela,
única filha que morava em casa,
se sentia sozinha. Entre os pichadores, chamava a atenção por ser
mulher e se atrever a pichar em locais tidos como perigosos.
Piroboys se define como leitora
assídua de jornais, fã de Machado
de Assis e Eça de Queiroz, diz que
gosta de discutir política com os
amigos e discute muito na hora de
defender seu hobby. "É uma forma de protesto. Se o sistema estivesse certo não existiria grafite,
pichação nem ladrão", afirmou.
"A prefeitura deveria se incomodar com a miséria antes de pensar
em pichação", acrescenta.
Questionada como reagiria caso
seus alunos começassem a pichar
a escola, Piroboys diz que teria de
agir de forma profissional. "Reclamaria, tenho que fazer meu papel", diz ela. (L.B.)
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