São Paulo, domingo, 05 de junho de 2005

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À noite, professora vira Piroboys

DA REPORTAGEM LOCAL

Os óculos de aro fino, o cordãozinho de ouro com letra do nome no pingente, o jeito delicado de falar e a cara de menina certinha afastam qualquer desconfiança que possa pesar sobre Piroboys, 22, pichadora desde os 14 anos.
Na única vez em que foi flagrada pichando, os policiais responsabilizaram apenas o amigo que a acompanhava. "Pensaram que eu só era a namorada dele."
Aluna do curso de letras de uma faculdade particular do ABC paulista, ela é estagiária e dá aula de português e inglês em uma escola estadual e em outra particular da zona sul de São Paulo. À noite, sai com os amigos para pichar.
Assim como os colegas, ela diz que começou a pichar por estar "num momento de dificuldade". Os pais haviam se separado, e ela, única filha que morava em casa, se sentia sozinha. Entre os pichadores, chamava a atenção por ser mulher e se atrever a pichar em locais tidos como perigosos.
Piroboys se define como leitora assídua de jornais, fã de Machado de Assis e Eça de Queiroz, diz que gosta de discutir política com os amigos e discute muito na hora de defender seu hobby. "É uma forma de protesto. Se o sistema estivesse certo não existiria grafite, pichação nem ladrão", afirmou. "A prefeitura deveria se incomodar com a miséria antes de pensar em pichação", acrescenta.
Questionada como reagiria caso seus alunos começassem a pichar a escola, Piroboys diz que teria de agir de forma profissional. "Reclamaria, tenho que fazer meu papel", diz ela. (L.B.)

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