São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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CHACINA
Encapuzados param carro em frente a bar no Rio e disparam contra frequentadores; polícia crê em disputa por tráfico
Grupo atira contra 50, mata 6 e fere 20

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Bar em frente a posto da PM em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde ocorreu uma chacina que deixou seis mortos e 20 feridos


FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Um grupo de encapuzados atirou contra cerca de 50 pessoas que bebiam e conversavam num bar em frente ao posto da Polícia Militar em Nova Campina, bairro de Duque de Caxias (Baixada Fluminense), anteontem à noite.
Seis pessoas morreram. Outras 20 ficaram feridas. Os dois policiais que estavam no posto não reagiram. A polícia investiga a hipótese de um ajuste de contas entre traficantes.
A chacina aconteceu por volta de 22h30. Um grupo de oito ou nove homens encapuzados, segundo testemunhas, veio numa Kombi branca e parou o carro a 30 metros do Bar e Lanchonete da Amizade.
Os homens, armados com fuzis e pistolas, atiraram contra os fregueses do bar durante aproximadamente 3 minutos, provocando pânico. As pessoas se jogaram no chão para escapar dos tiros.
Três pessoas morreram na hora. Outras caíram no chão, feridas. Dezenas de pessoas atravessaram a rua e invadiram o posto da PM, onde havia dois policiais, o sargento Araken dos Santos e o soldado Marcelo Vicente. Os outros dois policiais de plantão faziam a ronda no bairro, de carro.
Os encapuzados voltaram para a Kombi e fugiram atirando. Ainda atingiram um trailer que fica no próximo quarteirão.
A frente do bar e a rua ficaram tomados por poças de sangue. As pessoas gritavam e choravam.
"A situação era de pânico, caos total. Não sabia o que fazer. Não vi os tiros, porque estava no banheiro. Quando saí, vi o tumulto generalizado", disse o dono do bar, Edmar Neres.
O contínuo Márcio da Silva Alves, que estava no ponto de ônibus com o filho, morreu na hora.
O bebê, Lucas, de 1 ano e 6 meses, levou um tiro na cabeça. Ele foi operado e, até ontem à tarde, permanecia internado no hospital Souza Aguiar, em estado muito grave.
Os sobreviventes começaram a operação de socorro, ajudados pelos policiais militares. Ônibus e carros que passavam pela rua foram parados para que os feridos pudessem ser levados para hospitais e postos de saúde da região.
Segundo as primeiras investigações policiais, dois dos mortos teriam ligações com o tráfico.
As fichas policiais das vítimas estavam sendo checadas, e parentes vão ser ouvidos. Até o final da tarde, a motivação da chacina não havia sido esclarecida.
"Suspeitamos de uma rixa entre os traficantes de Nova Campina e o pessoal da Beira-Mar, em Caxias. Foi coisa de gente que se conhecia, daí o uso de capuzes", disse o delegado Agnaldo Ribeiro, da 62ª DP (Imbariê), que está conduzindo a investigação.
Alguns dos mortos levaram tiros na cabeça e nas costas, um sinal da intenção de matar. O chefe de Polícia Civil, Carlos Alberto D'Oliveira, disse não acreditar na possibilidade de que os encapuzados tenham atirado a esmo contra os frequentadores do bar, como disseram algumas testemunhas.
"Não eram franco-atiradores, pareciam estar em busca de algumas pessoas", afirmou D'Oliveira.
Os mortos são: Jorge Luiz de Souza Machado, 28, Warley Ferreira da Silva, 17, Manoel Fernandes Ribeiro, 34, Márcio da Silva Alves, 26, Aluísio Sodré Muniz, 25, e André Luiz Ferreira, 25.


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