|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LETRAS JURÍDICAS
Anos calmos para Velloso
WALTER CENEVIVA
da Equipe de Articulistas
Os novos presidente e vice do
Supremo Tribunal Federal
(STF), ministros Carlos Velloso
e Marco Aurélio, tiveram posse
mais agitada do que de hábito,
no antes, no durante e no depois. Antes, por causa do convidado que foi (Itamar Franco,
convidado por Velloso) e do que
desistiu de ir (Fernando Collor,
convidado de Marco Aurélio).
Durante, porque sempre pairou
no público a impressão do comparecimento do presidente da
República, ainda incomodado
pelo episódio dos grampos e
com a possibilidade, nunca descartável, de algum arroubo do
governador mineiro.
Depois, porque, com o refinamento protocolar de acompanhar seus convidados até a saída, Carlos Mario e Marco Aurélio foram impedidos pela multidão de retornarem ao salão em
que ocorrem os cumprimentos
aos empossados.
A agitação não constitui, porém, prenúncio de dois anos
perturbados por agitações. As
posições do presidente do STF,
em matéria do que entende
conveniente para o Poder Judiciário, são conhecidas. Concordando ou discordando delas,
deve-se reconhecer que Velloso
diz o que pensa e pensa o que
diz sobre sua corporação, há
muitos anos. Dou o exemplo de
seu comentário intitulado
"Problemas e soluções na prestação da Justiça", aproveitando
temas suscitados no 11º Congresso Brasileiro de Magistrados, em 1990, publicado como
um dos capítulos do livro "O Judiciário e a Constituição" (Del
Rey, 326 páginas), organizado
por Salvio de Figueiredo Teixeira.
Nele Velloso reconheceu mazelas no Judiciário, expressão
repetida em seu discurso, e
mais, que os juízes trazem qualidades e defeitos dos seres humanos. Destacou, entre os
maiores problemas, o desaparelhamento de seus órgãos, principalmente os da primeira instância, e acentuou, ainda, os
males do excesso de formalismo.
O ministro está certo. Grande
parte dos processos, em todas as
Justiças (federal, eleitoral, dos
Estados, trabalhista), termina
na primeira instância. Creio
que mais da metade. Todavia, o
juiz das varas, das juntas e dos
juizados do primeiro grau
-apesar dos progressos da informatização- ainda é casca
de noz solta e isolada no oceano
judicial. Quando jovem e iniciante, reúne razoáveis conhecimentos doutrinários, mas tem
vivência prática tendente a zero. Seis vírus perturbam a primeira instância: número insuficiente de magistrados, cargos
vagos e comarcas não preenchidas, recrutamento inadequado,
falta de especialização, falta de
apoio administrativo e crescimento do número de processos.
Há uma inversão lógica porque o jovem juiz principiante
tem de saber de tudo, no crime,
no cível, no tributário, nas falências e no júri. Só depois de
anos de carreira chegará à especialização. O paradoxo é gritante.
No estudo e no discurso referidos, Velloso defendeu soluções
para obstáculos que esclerosam
o Judiciário. Critica o controle
externo da magistratura, no
que estamos em lados opostos.
O controle interno tem sido insuficiente. É preciso mudar.
Estamos, porém, do mesmo
lado ao entendermos que o juiz
indolente, descumpridor de
prazos e horários, não residente
na comarca (e, obviamente, o
corrupto) deve ser responsabilizado civil e administrativamente, sem falar no processo
penal, quando cabível.
Extraio da experiência de
anos a convicção de que, embora busque o consenso da maioria de seus colegas, Carlos Mario da Silva Velloso saberá presidir o tribunal sem tormentosos confrontos com os outros
poderes e com a sociedade. A
maior agitação da posse é assunto passado.
Texto Anterior: Sancionado projeto que veta venda de arma no Rio Próximo Texto: Grupo de menores faz 6 assaltos em 5 horas Índice
|